segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O império e os robôs

HÁ pouco, abordei os planos dos Estados Unidos para impor a superioridade absoluta de suas forças aéreas como instrumento de dominação sobre o resto do mundo. Mencionei o projeto de contar em 2020 com mais de mil bombardeiros e caças F-22 e F-35 de última geração na sua frota de 2.500 aviões militares. Dentro de 20 anos, todos seus aviões de guerra serão operados por autômatos.

Os orçamentos militares sempre contam com o apoio da imensa maioria dos legisladores norte-americanos. Quase não há estados da União onde o emprego não dependa, em boa medida, da indústria da defesa.

Em nível mundial e com valor constante, as despesas militares se dobraram nos últimos dez anos como se não existisse perigo algum de crise. Neste momento, esta é a indústria mais próspera do planeta.

Em 2008, ao redor de US$1,5 trilhão se investiu nos orçamentos dedicados à defesa. Os 42% dos gastos mundiais nesse setor, US$607 bilhões correspondiam aos Estados Unidos, sem incluir as despesas de guerra; ao passo que o número de famintos no mundo atinge a cifra de 1 bilhão de pessoas.

Há dois dias, uma agência de notícias ocidental informou que, em meados de agosto, o exército dos Estados Unidos exibiu um helicóptero teledirigido, bem como robôs capazes de executarem trabalho de sapa, 2.500 dos quais foram enviados para as regiões de combate.

Uma firma comercializadora de robôs afirmou que as novas tecnologias iriam revolucionar o modo de comandar a guerra. Foi publicado que, em 2003, os Estados Unidos mal possuíam robôs em seu arsenal e “hoje contam ―segundo a AFP― com 10 mil veículos terrestres, bem como com 7 mil dispositivos aéreos, desde o pequeno Raven, que pode ser lançado com a mão, até o gigante Global Hawk, um avião-espia de 13 metros de comprimento e 35 de envergadura, capaz de voar a grande altitude durante 35 horas”. Essa notícia menciona outras armas.

Enquanto essas despesas colossais em tecnologias para matar são produzidas nos Estados Unidos, o presidente desse país envida esforços para levar os serviços de saúde a 50 milhões de norte-americanos que carecem deles. É tal a confusão, que o novo presidente declarou: “Estava mais próximo do que nunca de conseguir a reforma do sistema de saúde, mas a luta se está tornando feroz.”

“A história é clara — acrescentou — cada vez que temos a reforma sanitária no horizonte, os interesses especiais lutam com todo aquilo que têm a seu alcance, usam suas influências, lançam suas campanhas publicitárias e utilizam seus aliados políticos para apavorar o povo estadunidense.”

O certo é que em Los Ángeles 8 mil pessoas ―a imensa maioria desempregada, segundo a imprensa― se reuniram num estádio para receber atendimento de uma clínica gratuita itinerante que presta serviços no Terceiro Mundo. A multidão tinha pernoitado ali. Alguns percorreram centenas de quilômetros de distância.

“‘Não me importa se é socialista ou não. Somos o único país no mundo onde os mais vulneráveis não temos nada’, disse uma mulher de um bairro negro e com educação superior.”
Informa-se que “um teste de sangue pode custar US$500 e um tratamento odontologógico de rotina mais de mil.”

Que esperança pode oferecer essa sociedade ao mundo?

Os lobistas no Congresso fazem seu agosto trabalhando contra uma lei simples que pretende dar atendimento médico a dezenas de milhões de pessoas pobres, negros e latinos na sua grande maioria, que carecem dele. Até um país bloqueado como Cuba conseguiu fazê-lo, e inclusive, cooperar com dezenas de países do Terceiro Mundo.

Se os robôs nas mãos das multinacionais podem substituir os soldados imperiais nas guerras de conquista, quem vai frear as multinacionais na busca de mercado para seus artefatos? Da mesma maneira que inundaram o mundo com carros que hoje concorrem com o homem pelo consumo de energia não-renovável e, inclusive, pelos alimentos transformados em combustível, também podem inundá-lo de robôs que substituam milhões de trabalhadores em seus postos de trabalho.

Ainda melhor, os cientistas poderiam também desenhar robôs capazes de governar; dessa maneira poupariam esse horrível, contraditório e confuso trabalho ao governo e ao Congresso dos Estados Unidos.

Sem dúvida, poderiam fazê-lo melhor e mais barato.




Fidel Castro Ruz
19 de agosto de 2009

Publicado em: www.granma.cu

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