domingo, 30 de agosto de 2009

África

Texto de José Saramago

Em África, disse alguém, os mortos são negros e as armas são brancas. Seria difícil encontrar uma síntese mais perfeita da sucessão de desastres que foi e continua a ser, desde há séculos, a existência no continente africano. O lugar do mundo onde se crê que a humanidade nasceu não era certamente o paraíso terrestre quando os primeiros “descobridores” europeus ali desembarcaram (ao contrário do que diz o mito bíblico. Adão não foi expulso do éden, simplesmente nunca nele entrou), mas, com a chegada do homem branco abriram-se de par em par, para os negros, as portas do inferno. Essas portas continuam implacavelmente abertas, gerações e gerações de africanos têm sido lançados à fogueira perante a mal disfarçada indiferença ou a impudente cumplicidade da opinião pública mundial. Um milhão de negros mortos pela guerra, pela fome ou por doenças que poderiam ter sido curadas, pesará sempre na balança de qualquer país dominador e ocupará menos espaço nos noticiários que as quinze vítimas de um serial killer. Sabemos que o horror, em todas as suas manifestações, as mais cruéis, as mais atrozes e infames, varre e assombra todos os dias, como uma maldição, o nosso desgraçado planeta, mas África parece ter-se tornado no seu espaço preferido, no seu laboratório experimental, o lugar onde o horror mais à vontade se sente para cometer ofensas que julgaríamos inconcebíveis, como se as populações africanas tivessem sido assinaladas ao nascer com um destino de cobaias, sobre as quais, por definição, todas as violências seriam permitidas, todas as torturas justificadas, todos os crimes absolvidos. Contra o que ingenuamente muitos se obstinam em crer não haverá um tribunal de Deus ou da História para julgar as atrocidades cometidas por homens sobre outros homens. O futuro, sempre tão disponível para decretar essa modalidade de amnistia geral que é o esquecimento disfarçado de perdão, também é hábil em homologar, tácita ou explicitamente, quando tal convenha aos novos arranjos económicos, militares ou políticos, a impunidade por toda a vida aos autores directos e indirectos das mais monstruosas acções contra a carne e o espírito. É um erro entregar ao futuro o encargo de julgar os responsáveis pelo sofrimento das vítimas de agora, porque esse futuro não deixará de fazer também as suas vítimas e igualmente não resistirá à tentação de pospor para um outro futuro ainda mais longínquo o mirífico momento da justiça universal em que muitos de nós fingimos acreditar como a maneira mais fácil, e também a mais hipócrita, de eludir responsabilidades que só a nós nos cabem, a este presente que somos. Pode-se compreender que alguém se desculpe alegando: “Não sabia”, mas é inaceitável que digamos: “Prefiro não saber”. O funcionamento do mundo deixou de ser o completo mistério que foi, as alavancas do mal encontram-se à vista de todos, para as mãos que as manejam já não há luvas bastantes que lhes escondam as manchas de sangue. Deveria portanto ser fácil a qualquer um escolher entre o lado da verdade e o lado da mentira, entre o respeito humano e o desprezo pelo outro, entre os que são pela vida e os que estão contra ela. Infelizmente as coisas nem sempre se passam assim. O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pequenas cobardias do quotidiano, tudo isto contribui para essa perniciosa forma de cegueira mental que consiste em estar no mundo e não ver o mundo, ou só ver dele o que, em cada momento, for susceptível de servir os nossos interesses. Em tais casos não podemos desejar senão que a consciência nos venha sacudir urgentemente por um braço e nos pergunte à queima-roupa: “Aonde vais? Que fazes? Quem julgas tu que és?”. Uma insurreição das consciências livres é o que necessitaríamos. Será ainda possível?

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Liberdade de imprensa e publicidade enganosa

Escrito por Waldemar Rossi




Um dia depois de ter despejado d e forma violenta 800 famílias em Capão Redondo, o governo de São Paulo (leia-se governo Serra) tem a cara de pau de publicar um anúncio de uma página nos jornais divulgando a sua ‘política de habitação popular’ " (nota publicada no CMI – Centro de Mídia Independente).




Pela internet é possível ainda ter acesso a algumas informações que a mídia brasileira nega aos seus leitores ou freqüentadores audiovisuais. É o caso da nota acima, que não foi divulgada pela imprensa. A nota virtual veio acompanhada de fotos de mais uma propaganda enganosa do governo de São Paulo (de José Serra). Acompanhando o título publicitário "Habitação popular no Estado de São Paulo é assim: A gente faz. E faz bem feito", vêm quatro fotos arrumadinhas de algumas pessoas que mostram sua "satisfação" em receber moradia popular. A foto de cada pessoa ou família vem junto a um subtítulo: "Acredite; Sonhe; Respire; e Comemore".

A nota da internet, por sua vez, traz, acompanhando os mesmos subtítulos, outras quatro fotos revelando a forma violenta com que a polícia estadual – de responsabilidade exclusiva do governador José Serra – promoveu o despejo de 800 famílias de Capão Redondo, entre tantos outros despejos criminosos, despejos determinados pela "justiça" estadual. Nessas fotos que contrastam com a publicidade oficial aparecem: crianças desalojadas na rua (Acreditem); morador tentando salvar alguma coisa de seu barraco (Sonhe); fumaça das bombas de gás exalando no meio dos barracos (Respire); povo aglomerado desalojado do seu abrigo (Comemore).

Além dessas propagandas enganosas, cheias de meias-verdades, os governantes têm ao seu dispor toda a cobertura da imprensa, com comentários dos mais elogiosos sobre suas "obras populares". Enquanto para o povo restam comentários desairosos, tentando passar para a opinião pública que se trata de criminosos, de "invasores", negando as informações mais importantes de que são pessoas e famílias inteiras injustiçadas por esta sociedade discriminatória. Injustiçadas pelas políticas públicas que satisfazem aos interesses do capital, pela concentração de rendas, pela sonegação dos seus direitos elementares, pela sonegação de impostos, comandada por uma elite econômica hipócrita e maquiavélica (no seu mau sentido).

A liberdade de imprensa é uma das grandes farsas que imperam no sistema burguês gerador e administrador desse capitalismo selvagem, que cria desigualdades brutais, miséria e a barbárie.

A Imprensa, segundo as leis internacionais, é sempre uma concessão do Estado e deveria ser UNIVERSAL, isto é, concedida e aberta a todos os cidadãos. Mas está toda ela reservada para o mesmo capital. Seus "proprietários" são participantes do mesmo capital, e por isto se torna elitista e sonega o direito à verdadeira expressão da vontade e das legítimas reivindicações populares. Uma mídia que seleciona suas notícias, sempre voltadas para defender os interesses dos exploradores, mas que impede a veiculação de informações importantes de interesse do povo, sobretudo as geradas pela reação do movimento social que contesta os desmandos que são praticados neste país.

A prática da liberdade de imprensa no Brasil se compara ao exercício da política oficial, cujos políticos eleitos pelo povo, tendo suas campanhas eleitorais financiadas pelos detentores das terras, dos bancos, das indústrias e do comércio, se julgam donos do país, isentos de julgamentos dos seus crimes e com direito a praticar toda sorte de bandalheira. Mas que não têm competência para governar segundo os interesses de toda a nação.

Assim é a prática da mídia no Brasil: tendo obtido a concessão se julga possuidora de todos os direitos, incluído o "direito" de desinformar e de corromper ideologicamente a opinião pública. De tal forma que, cada vez mais, se torna necessário um amplo trabalho de informações desenvolvido pelas forças populares organizadas, capaz de, com o tempo, despertar a consciência crítica do povo, animando-o a assumir as rédeas da condução do nosso país, determinando o que pode e o que não pode ser praticado pelos políticos e pelos meios de comunicação social. E, acima de tudo, se for o caso, cassar mandatos e concessões. Sem isto não haverá democracia para o povo.

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e cordenador da Pastoral operária da Arquidiocese de São Paulo.

Publicado em: http://www.correiocidadania.com.br/

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Bancos fecham 2.224 postos de trabalho no primeiro semestre

da Agência Chasque

Porto Alegre (RS) – Estudo elaborado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pela Subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgado nesta terça-feira (25), revela que os bancos brasileiros fecharam 2.224 postos de trabalho no primeiro semestre de 2009. De acordo com a pesquisa, as empresas financeiras desligaram 15.459 bancários, principalmente em razão das fusões, e contrataram apenas 13.235 entre janeiro e junho.

Júlio Cezar Soares Vivian, da coordenação do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre (RS) e região metropolitana (SindiBancários) comenta que além das demissões, os proprietários das financeiras estão usando a rotatividade para reduzir a média salarial dos bancários. Para Júlio as demissões no Rio Grande do Sul recaem principalmente sobre as mulheres, negros e funcionários com maior grau de escolaridade.

“Os bancos em todos os anos dão continuidade ao processo de demissão, reduzindo seus custos na mão de obra. Via de regra, eles demitem primeiro os que possuem salários mais altos e ai entram os processos de demissão através da discriminação de gênero e de raça. Sempre com crise ou com crescimento econômico os banqueiros estão demitindo, para que seus lucros fiquem preservados”, enfatiza.

Júlio declara inaceitáveis as demissões, visto que o sistema financeiro foi o que apresentou a maior lucratividade de toda a economia no primeiro semestre. Segundo ele, os 21 maiores bancos somaram lucro líquido de R$ 14,3 bilhões.
A pesquisa demonstra que as mulheres continuam tendo remuneração inferior aos homens no sistema financeiro nacional: 28,62% de diferença entre os admitidos e 33,24% entre os desligados.

O levantamento sobre a evolução do emprego nos bancos toma por base dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego. Essa foi a segunda rodada da pesquisa, que está sendo divulgada trimestralmente pela Contraf-CUT.



Fonte: www.agenciachasque.com.br





terça-feira, 25 de agosto de 2009

Capão Redondo - 24 de agosto de 2009

Nesta segunda-feira, cerca de 3 mil pessoas foram despejadas do acampamento Olga Benário, na Zona Sul de São Paulo. O terreno de 14 mil m² estava ocupado por cerca de 800 famílias e foi cruelmente desapropriado com força e violência policial.
Segue abaixo o relato do músico e poeta Ferréz.

Não foi fácil olhar aqueles rostos, lágrimas tentavam cobrir o vermelho que a fumaça trouxe.

perder tudo é falar bobagem, perderam o pouco que tinham.

800 famílias.

um terreno particular.

a justiça em ação, nesses casos ela funciona, o terreno vai voltar para o proprietário, que por tanto tempo nunca foi lá usar.

tinha mais de 500 policiais.

Vai um grande salve pros bombeiros, que mesmo sem a água chegar, fizeram o possível para os moradores não perderem mais, muitos sairam passando mal intoxicados, também tinha uma equipe feminina da PM que veio trazer água pra gente e leite, lição de humildade em meio ao caos.

Comunidade Aldeinha

políticos 0

pastores 0

padres 0

criminosos 0

partidários 0

Governador 0

Senador 0

Prefeito 0

vereador 0

Ong 0

Famílias 800


Publicado em: http://ferrez.blogspot.com/

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O império e os robôs

HÁ pouco, abordei os planos dos Estados Unidos para impor a superioridade absoluta de suas forças aéreas como instrumento de dominação sobre o resto do mundo. Mencionei o projeto de contar em 2020 com mais de mil bombardeiros e caças F-22 e F-35 de última geração na sua frota de 2.500 aviões militares. Dentro de 20 anos, todos seus aviões de guerra serão operados por autômatos.

Os orçamentos militares sempre contam com o apoio da imensa maioria dos legisladores norte-americanos. Quase não há estados da União onde o emprego não dependa, em boa medida, da indústria da defesa.

Em nível mundial e com valor constante, as despesas militares se dobraram nos últimos dez anos como se não existisse perigo algum de crise. Neste momento, esta é a indústria mais próspera do planeta.

Em 2008, ao redor de US$1,5 trilhão se investiu nos orçamentos dedicados à defesa. Os 42% dos gastos mundiais nesse setor, US$607 bilhões correspondiam aos Estados Unidos, sem incluir as despesas de guerra; ao passo que o número de famintos no mundo atinge a cifra de 1 bilhão de pessoas.

Há dois dias, uma agência de notícias ocidental informou que, em meados de agosto, o exército dos Estados Unidos exibiu um helicóptero teledirigido, bem como robôs capazes de executarem trabalho de sapa, 2.500 dos quais foram enviados para as regiões de combate.

Uma firma comercializadora de robôs afirmou que as novas tecnologias iriam revolucionar o modo de comandar a guerra. Foi publicado que, em 2003, os Estados Unidos mal possuíam robôs em seu arsenal e “hoje contam ―segundo a AFP― com 10 mil veículos terrestres, bem como com 7 mil dispositivos aéreos, desde o pequeno Raven, que pode ser lançado com a mão, até o gigante Global Hawk, um avião-espia de 13 metros de comprimento e 35 de envergadura, capaz de voar a grande altitude durante 35 horas”. Essa notícia menciona outras armas.

Enquanto essas despesas colossais em tecnologias para matar são produzidas nos Estados Unidos, o presidente desse país envida esforços para levar os serviços de saúde a 50 milhões de norte-americanos que carecem deles. É tal a confusão, que o novo presidente declarou: “Estava mais próximo do que nunca de conseguir a reforma do sistema de saúde, mas a luta se está tornando feroz.”

“A história é clara — acrescentou — cada vez que temos a reforma sanitária no horizonte, os interesses especiais lutam com todo aquilo que têm a seu alcance, usam suas influências, lançam suas campanhas publicitárias e utilizam seus aliados políticos para apavorar o povo estadunidense.”

O certo é que em Los Ángeles 8 mil pessoas ―a imensa maioria desempregada, segundo a imprensa― se reuniram num estádio para receber atendimento de uma clínica gratuita itinerante que presta serviços no Terceiro Mundo. A multidão tinha pernoitado ali. Alguns percorreram centenas de quilômetros de distância.

“‘Não me importa se é socialista ou não. Somos o único país no mundo onde os mais vulneráveis não temos nada’, disse uma mulher de um bairro negro e com educação superior.”
Informa-se que “um teste de sangue pode custar US$500 e um tratamento odontologógico de rotina mais de mil.”

Que esperança pode oferecer essa sociedade ao mundo?

Os lobistas no Congresso fazem seu agosto trabalhando contra uma lei simples que pretende dar atendimento médico a dezenas de milhões de pessoas pobres, negros e latinos na sua grande maioria, que carecem dele. Até um país bloqueado como Cuba conseguiu fazê-lo, e inclusive, cooperar com dezenas de países do Terceiro Mundo.

Se os robôs nas mãos das multinacionais podem substituir os soldados imperiais nas guerras de conquista, quem vai frear as multinacionais na busca de mercado para seus artefatos? Da mesma maneira que inundaram o mundo com carros que hoje concorrem com o homem pelo consumo de energia não-renovável e, inclusive, pelos alimentos transformados em combustível, também podem inundá-lo de robôs que substituam milhões de trabalhadores em seus postos de trabalho.

Ainda melhor, os cientistas poderiam também desenhar robôs capazes de governar; dessa maneira poupariam esse horrível, contraditório e confuso trabalho ao governo e ao Congresso dos Estados Unidos.

Sem dúvida, poderiam fazê-lo melhor e mais barato.




Fidel Castro Ruz
19 de agosto de 2009

Publicado em: www.granma.cu

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Por nossos mortos, nem um minuto de silêncio. Toda uma vida de luta!


MST divulgou nota sobre o assassinato de Elton Brum Torres durante a desocupação da fazenda Southall, em São Gabriel/RS. Abaixo, fotos que comprovam que Elton foi morto pelas costas. Uma atitude criminosa e covarde da "societas delinquetium" que se instalou no Palácio Piratini.

NOTA PÚBLICA SOBRE O ASSASSINATO DE ELTON BRUM PELA BRIGADA MILITAR DO RIO GRANDE DO SUL



O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra vem a público manifestar novamente seu pesar pela perda do companheiro Elton Brum, manifestar sua solidariedade à família e para:


1. Denunciar mais uma ação truculenta e violenta da Brigada Militar do Rio Grande do Sul que resultou no assassinato do agricultor Elton Brum, 44 anos, pai de dois filhos, natural de Canguçu, durante o despejo da ocupação da Fazenda Southall em São Gabriel. As informações sobre o despejo apontam que Brum foi assassinado quando a situação já encontrava-se controlada e sem resistência. Há indícios de que tenha sido assassinado pelas costas.

2. Denunciar que além da morte do trabalhador sem terra, a ação resultou ainda em dezenas de feridos, incluindo mulheres e crianças, com ferimentos de estilhaços, espadas e mordidas de cães.

3. Denunciamos a Governadora Yeda Crusius, hierarquicamente comandante da Brigada Militar, responsável por uma política de criminalização dos movimentos sociais e de violência contra os trabalhadores urbanos e rurais. O uso de armas de fogo no tratamento dos movimentos sociais revela que a violência é parte da política deste Estado. A criminalização não é uma exceção, mas regra e necessidade de um governo, impopular e a serviço de interesses obscuros, para manter-se no poder pela força.

4. Denunciamos o Coronel Lauro Binsfield, Comandante da Brigada Militar, cujo histórico inclui outras ações de descontrole, truculência e violência contra os trabalhadores, como no 8 de março de 2008, quando repetiu os mesmos métodos contra as mulheres da Via Campesina.

5. Denunciamos o Poder Judiciário que impediu a desapropriação e a emissão de posse da Fazenda Antoniasi, onde Elton Brum seria assentado. Sua vida teria sido poupada se o Poder Judiciário estivesse a serviço da Constituição Federal e não de interesses oligárquicos locais.

6. Denunciamos o Ministério Público Estadual de São Gabriel que se omitiu quando as famílias assentadas exigiam a liberação de recursos já disponíveis para a construção da escola de 350 famílias, que agora perderão o ano letivo, e para a saúde, que já custou a vida de três crianças. O mesmo MPE se omitiu no momento da ação, diante da violência a qual foi testemunha no local. E agora vem público elogiar ação da Brigada Militar como profissional.

7. Relembrar à sociedade brasileira que os movimentos sociais do campo tem denunciado há mais de um ano a política de criminalização do Governo Yeda Crusius à Comissão de Direitos Humanos do Senado, à Secretaria Especial de Direitos Humanos, à Ouvidoria Agrária e à Organização dos Estados Americanos. A omissão das autoridades e o desrespeito da Governadora à qualquer instituição e a democracia resultaram hoje em uma vítima fatal.

8. Reafirmar que seguiremos exigindo o assentamento de todas as famílias acampadas no Rio Grande do Sul e as condições de infra-estrutura para a implantação dos assentamentos de São Gabriel.

Exigimos Justiça e Punição aos Culpados!

Por nossos mortos, nem um minuto de silêncio. Toda uma vida de luta!

Reforma Agrária, por justiça social e soberania popular!

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra



A "Justiça" do desemprego

Texto de Emir Sader


Nem bem começava a crise, a Embraer despediu 4.373 trabalhares, alegando que a demanda externa havia tido uma baixa drástica. Definiu que trabalhadores são descartáveis, interessa contratá-los quando o mercado, a lei da oferta e da procura favorece aumento da produção, os manda impiedosamente embora, quando a demanda diminui. Essa é a essência do capitalismo, que como seu próprio nome diz, é o reino do capital e não do trabalho, do dinheiro e não dos seres humanos.
Esse reino se reflete no plano das leis. As constituições liberais consagram o direito de propriedade como um dos seus direitos essenciais e o protege de todas as formas. Se trata não do direito à casa, que não existe para a grande maioria dos cidadãos, ou do direito à posse de bens essenciais para sua sobrevivência, mas do direito à propriedade privada do meios de produção, de acumulação de riquezas.

Se um proprietário de terras improdutivas tem suas terras ocupadas por quem quer trabalhar, ele apela imediatamente à polícia e à “Justiça”. Em pouco tempo a lei se transformará em força material, forças policiais chegarão para tratar de desalojar os que querem trabalhar, mas não dispões do “direito” à propriedade, ação que será seguida pelo “respeito à lei” imposto por juízes, para restabelecer o “sagrado direito” à propriedade, mesmo ociosa.

O capitalismo é o único sistema que absolutiza o direito à propriedade, independentemente dos interesses sociais. Defende assim os interesses da ínfima maioria da população, que detêm esse direito, contra a grande maioria, que não tem acesso a ela e vive precariamente do seu trabalho ou nem sequer isso.

As constituições tratam ricos e pobres de maneira totalmente diferenciada. Basta ver a forma como consagra e protege o direito à propriedade e deixa abandonados os que vivem do trabalho – a grande maioria da sociedade. O direito ao trabalho é tratado não como um direito essencial, ligado à sobrevivência elementar da grande maioria, à dignidade de ter condições básicas de sobrevivência para si e para sua família, mas como um direito entre outros. Tudo de acordo com o capitalismo, que não se funda em direitos para todos, mas na mercantilização de tudo, na transformação de tudo – incluídos os seres humanos – em mercadorias.

O ex-presidente FHC chegou a declarar – numa de suas declarações mais canalhas, entre tantas – que havia no Brasil milhões de “inimpregáveis”. Estava dizendo que, como zelador do capitalismo brasileiro, excluía dos direitos básicos de cidadania, a milhões de brasileiros, para os quais deveria governar, como presidente eleito do país. Condenava milhões de trabalhadores pobres, dizendo que eles não serviam para o capitalismo brasileiro.

Quem perde o emprego, não tem a quem apelar, nem à “Justiça”, nem à polícia. Não há lei, nem instância estatal que proteja o direito mais elementar de toda a população.

A “Justiça” brasileira decidiu que não teria havido abuso na demissão desses 4.273 trabalhadores por parte da Embraer. A empresa, que enriqueceu brutalmente nos anos de expansão da economia, inclusive com apoio do governo para buscar pedidos dentro e fora do Brasil, quando houve um declínio da demanda, fez imediatamente os trabalhadores, que lhe serviram muito bem no momento da expansão, pagarem uma crise pela qual não tem nenhuma responsabilidade, ao contrário, foi gerada pela especulação desenfreada de empresários capitalistas.

A empresa alegou supostas dificuldades financeiras. Uma “Justiça” que fosse minimamente justa e que zelasse pelos interesses do país, teria imediatamente aberto as contas da empresa, para saber do fundamento dessas afirmações, consideradas inexistentes pelos advogados do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. Mas isso esbarra em outro pilar das constituições que zelam pelo capitalismo: o segredo das empresas, que vige ao lado do odioso e injustificável segredo bancário.

O que esconde a empresa, se suas contas não podem ser exibidas publicamente? Usa um argumento para o qual não exibe publicamente provas. Teria que ficar claro quanto ganhou ao longo dos últimos anos, quanto gasta em salários no conjunto dos seus gastos, qual a taxa de lucro com que operou ao longo dos últimos anos, quais os salários dos seus executivos – entre outros dados que escondem, com o beneplácito da “Justiça”.

Com isso escondem também o que o Sindicato revela: que as demissões estariam vinculadas a supostas perdas sofridas pela empresa com especulação financeira para aumentar seus lucros numa operação arriscada na Bolsa de Mercadorias e Futuros. (Como aconteceu com outras empresas, como a Sadia, que quebrou por ter especulado com subprimes, enquanto recebia incentivos do governo para exportação e não dava como contrapartida nem sequer a garantia do nível de emprego.)

A demanda voltou a aumentar. Grandes empresas privadas, demonstrando a pouca ou nenhuma confiança que tem no Brasil, na sua capacidade de se recuperar da crise (desmentida pelo fatos, conforme a ação governamental para induzir a retomada do crescimento, diante da covardia dos grandes empresários privados), imediatamente despediram trabalhadores e diminuíram a produção. De tal forma que passou a haver falta de produtos, como os da linha branca, conforme o poder de consumo dos trabalhadores foi mantido pelas políticas governamentais e, como demonstrou o Ipea, não foi cortada a tendência de diminuição da desigualdade, pela primeira existente no Brasil, produto das políticas governamentais.

A própria Embraer já teve novas demandas de aviões, de vários países, por intermediação do governo, sua produção voltou a aumentar, mas ela não voltou a contratar trabalhadores. Como tem acontecido com outros setores. Beneficiários das ações governamentais – créditos subsidiados, diminuição da taxa de juros, suspensão da cobrança de impostos, entre outras -, as grandes empresas privadas elevam de novo sua produção, a economia volta a crescer, mas o mesmo não acontece com o nível de emprego.

No caso da Embraer, como denuncia o Sindicato, isto levou a aumentar a superexploração dos trabalhadores. Os trabalhadores têm sido submetidos a jornadas extenuantes de trabalho, para produzir mais com um contingente menos de trabalhadores empregados, confirmando que não houve queda no faturamento, nem na redução das encomendas. A empresa elevou de forma gigantesca sua taxa de lucros, com menos trabalhadores empregados, sendo explorados de forma mais intensa, para produzir mais .

A empresa se ampara na “Justiça”, alegando que não há na legislação brasileira nenhum impedimento para as demissões coletivas, confirmando seu caráter discriminatório a favor do capital – a ínfima minoria de brasileiros – e contra os trabalhadores – sua grande maioria. Revela o caráter de classe da legislação brasileira e da “Justiça” que zela por ela. A maioria dos ministros concordou com o argumento da Embraer, votou contra os trabalhadores e foram para casa dormir o sono dos “justos”, enquanto os trabalhadores se viram relegados ao papel de descartáveis, de sucata, de “inimpregáveis” pela “Justiça”.

Esta é uma das tantas razões fundamentais pelas quais o Brasil precisa de uma nova constituição, que elabore leis para todos, respeitando os direitos das maiorias, para poder pode contar com um Estado democrático, fundado no direito social, na solidariedade e, finalmente, dispormos de uma Justiça verdadeira.

Publicado em: http://www.cartamaior.com.br/

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O império contra-ataca


Diante da irrupção de processos políticos e sociais de novo tipo que desafiam a hegemonia e o mito da invencibilidade do domínio dos EUA na América Latina, a administração Obama/Clinton vem aprofundando as estratégias herdadas de George W. Bush, com ênfase na intervenção político-militar aberta e encoberta em áreas consideradas de vital importância para o império.


Trata-se da tradicional política do porrete e da cenoura, agora com a novidade – nas palavras de Pablo González Casanova – de que opera em redes. Quer dizer, Washington conta com uma força-tarefa integrada por governos clientelistas, como os de Álvaro Uribe, da Colômbia e de Felipe Calderón, no México.


A atual estratégia regional foi desenhada pelo Departamento de Defesa durante o mandato de William Clinton. Sua primeira fase começou em 1999, quando o Comando Sul do Pentágono teve que desmontar a base Howard, na zona do Canal do Panamá e transferir suas principais funções para a Florida e Porto Rico. Isso obrigou mudanças profundas na presença do Pentágono na América Latina e Caribe. O novo modelo alternativo foi a instalação de uma rede de bases militares denominadas Centros Operacionais Avançados (FOL, em inglês), e a seleção da Colômbia como plataforma para tentar uma vietnamização da América do Sul.


Desenhadas como plataformas portáteis de inteligência com conexão imediata com o Centro Espacial de Guerra na Base da Força Aérea Schriever, em Colorado Springs – EUA, as bases FOL de Manta, sobre o Pacifico equatoriano; Comapala, em El Salvador; Rainha Beatriz, em Aruba e Hato Rey, em Curaçao, no Caribe, vêm funcionando como infraestrutura de apoio em rota para as forças expedicionárias do Pentágono encarregadas da guerra de contrainsurgência na região. Washington complementou sua nova estrutura militar com uma rede de 17 radares de longo alcance, como o que opera na base de Três Esquinas (Caquetá, Colômbia), e duas bases de terra: Guantanamo em Cuba e Soto Cano ou Palmerola, em Honduras, onde opera a Força Conjunta Bravo, a única do Comando Sul fora do território dos EUA, vinculada com as unidades secretas de Cerro La Mole e Swan Island, indispensáveis para o funcionamento da inteligência militar norteamericana na região.


Com Clinton foi diluindo-se a diferença conceitual entre a luta contra as drogas e a guerra contrainsurgente. O conflito interno colombiano foi alimentado com denominações tais como narcoguerrilha e narcoterrorismo. Logo, a administração de Bush converteu o protótipo colombiano, baseado no paramilitarismo e no terrorismo de Estado, num produto de exportação. As bases FOL do Plano Colômbia serviram de modelo para a instalação de pequenas bases nos países vizinhos de Afeganistão, e hoje a democracia do esquadrão da morte de Uribe aterroriza no México de Calderón , via Iniciativa Mérida, financiada pelos EUA, que, entre outros propósitos, busca consolidar um bloco de contenção militarizado diante os processo de transformação social que vem ocorrendo na Nicarágua, Honduras e El Salvador.

O anterior foi complementado com operações encobertas do Pentágono e a Agência Central de Inteligência, e as chamadas guerras por intermediários que, baseadas no laboratório da ex-Federação Iugoslava, fomentam a sedição e o separatismo na Bolívia, Venezuela e Equador. As ações clandestinas incluem técnicas de penetração como captação de aliados internos mediante corrupção, o suborno ou a afinidade ideológica, que são logo utilizados como agentes provocadores, e que, como no caso das atividades divisionistas na Meia Lua boliviana, pode incluir ações de caráter paramilitar e campanhas de propaganda negra e intoxicação (dês)informativa, que contam com o apoio de grandes meios sob o controle monopolista privado, alimentados pela USAID e a USIA.


Em 2008, o arcabouço militar de Washington foi reforçado com o relançamento da IV Frota da Marinha de Guerra, que agora atua nos oceanos Pacífico e Atlântico e nas águas marrons do interior da América Latina, em aberta provocação ao vacilante Conselho de Defesa da União das Nações Sul-americanas (Unasul), integrada por 12 países da região.


Na sua fase atual, a estratégia de reversão Obama/Clinton recorreu ao golpe de Estado em Honduras, diante da intenção de Manuel Zelaya de converter a base militar de Soto Cano em aeroporto comercial. O presidente deposto pretendia seguir os passos do seu homologo do Equador, Rafael Correa, que não renovou o contrato para a permanência dos EUA em Manta. Se somado a Manta, a eventual perda de Soto Cano debilitaria a rede de bases FOL do Pentágono. Daí o golpe militar. Entretanto, Washington adiantava negociações secretas com Álvaro Uribe para converter a Colômbia no seu grande enclave militar no coração da América do Sul, com a mira apontando para os hidrocarbonetos da Venezuela, Equador e Bolívia, e os recursos da Amazônia.


No contexto da doutrina de Guerra Irregular, o Comando Sul substituirá as funções de Manta com a base de Palanquero, que será apoiada por outros dos bastiões da Força Aérea Colombiana em Apiay e Malambo, e as bases navais de Bahia de Málaga e Cartagena. Um novo contrato permitirá que soldados, aviões e navios de guerra dos EUA participem legalmente em operações contra a guerrilha das FARC e do ELN. Por sua vez, a Venezuela ficará isolada num triãngulo de ferro entre a Colômbia, a IV Frota, Aruba, Curaçao e Soto Cano. E em breve, o papel do México, incorporado de fato à guerra contrainsurgente regional dos EUA, poderia cobrar maior visibilidade.






Publicado originalmente em: Anncol - http://anncol-brasil.blogspot.com/

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Estudantes de Ciências Sociais contra premiação à FHC

Os estudantes de Ciências Sociais, através de suas organizações político-acadêmicas, tornam público o seu absoluto repúdio à entrega do prêmio “Florestan Fernandes” pela Sociedade Brasileira de Sociologia ao ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, durante a abertura do XIV Congresso Brasileiro de Sociologia – realizado recentemente na UFRJ.

O Prêmio Florestan Fernandes, instituído no XI Congresso Brasileiro de
Sociologia, em 2003, tem o objetivo de homenagear sociólogos que, por
seu empenho na produção do conhecimento e liderança institucional, são
marcos de referência na história da disciplina no Brasil.

Ao longo da história da SBS, inúmeros intelectuais e sociólogos que
contribuíram de forma expressiva para o progresso das Ciências Sociais
no Brasil, já receberam o prêmio “Florestan Fernandes” como Manuel
Correia de Andrade, Heraldo Pessoa Souto Maior, Octávio Ianni, Neuma
Aguiar, José de Souza Martins, Juarez Rubens Brandão Lopes, Wilma de
Mendonça Figueiredo, Francisco de Oliveira, Silke Weber, entre outros.
Reconhecimento mais que merecido.

Em 8 de outubro de 2001, o sociólogo e presidente Fernando Henrique
Cardoso vetou um a lei que incluía as disciplinas Filosofia e
Sociologia como disciplinas obrigatórias no currículo das escolas de
Ensino Médio no país, o que beneficiaria cerca de dez milhões de
jovens. Em 1997, já havia sido apresentado e aprovado na Câmara dos
Deputados o Projeto de Lei (PL 3.178/97), que alterava a LDB incluindo
Filosofia e Sociologia como disciplinas obrigatórias. Quando enviado à
sanção presidencial, porém, o projeto foi vetado integralmente por
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que agora foi homenageado pela SBS.

Quando do veto em 2001, este foi considerado por intelectuais e
lideres políticos, como bastante grave para a credibilidade da
Sociologia e dos Sociólogos, perante a opinião publica. Nesse sentido,
consideramos a outorga do prêmio ao ex-presidente e sociólogo um
ultraje à memória de Florestan Fernandes e a própria história da
entidade científica (SBS), sucessora da Sociedade de Sociologia de São
Paulo e que sempre foi uma das aliadas nessa luta nacional.

Em principio, tal gesto parece representar uma expressão intolerável
de reabilitação de um sociólogo que brindou a sociedade brasileira com
o famoso “esqueçam o que escrevi”. Não se trata aqui de preconceito e
de intolerância, mas de conformação com valores que modelam o espírito
critico do mestre Florestan Fernandes. Torna-se bastante pertinente
refletir que a disputa de ideias e espaços devem servir não a
aceitação social e reabilitação da velha ordem neoliberal, mas ás
transformações sociais alcançadas pela sociedade brasileira no atual
momento, com o reconhecimento, inclusive, da Sociologia no Ensino
Médio.

Somamos-nos às entidades como o Sindicato dos Sociólogos de São Paulo
(Sinsesp) nos protestos contra a posição e o gesto simbólico expressos
pela Sociedade Brasileira de Sociologia. Encaminharemos a todos os
estudantes de Ciências Sociais no Brasil a nossa manifestação de
repúdio ao homem político insensível que renegou a Sociologia ao
qualificar, na época, o projeto de Sociologia no Ensino Médio como
“contrário ao interesse público”. Seguiremos apoiando o reconhecimento
a todos os profissionais que não separam teoria e prática, aliando-as
com coerência na sua atividade cotidiana.

Assinam esse manifesto:

Coletivo de Estudantes de Ciências Sociais/UFRGS (CECS)

**Esperamos mais assinaturas para encaminhar a SBS.**


Postado originalmente em: http://macsul.wordpress.com/


Pontal do Estaleiro: as razões do NÃO

No próximo domingo realiza-se em Porto Alegre a Consulta Popular sobre a construção de prédios na Orla do Rio Guaíba. A Juventude LibRe se soma aos movimentos e entidades que são contrários a privatização do pôr-do-sol porto-alegrense para uso privado ou comercial.





A consulta popular e as razões do Não*

A polêmica sobre edificações pretendidas na Orla do Guaíba, onde se destaca, o “Pontal do Estaleiro”, na Ponta do Melo, tem as seguintes razões oriundas de pessoas de nossa sociedade, o que nos leva as seguintes considerações:

1- A negativa de ocupação da Orla do Guaiba por edificações, manifestada por muita gente terá que ser levada a ser legitimada com a presença das pessoas aos locais de votação e assim quebrar a intenção dos especuladores imobiliários, de sua avidez pelo lucro;

2- Comenta-se de que, como os investidores desistiram dos blocos residenciais, o expediente processual em andamento no municipio, devia ser arquivado, pois a desistencia pública foi formalizada pelos interessados;

3- Como a Prefeitura insiste em manter sobrevida num assunto liquidado, em termos de mudança de rumo, ela está revelando teimosia inexplicável, e sem justificativa anunciada;

4- Ouve-se também que, como as razões legais foram amplamente divulgadas por ambientalistas, urbanistas e técnicos da qualidade do prof. Rualdo Menegat, em uma entrevista feita ao JC, em momento algum houve esclarecimento pelo Poder Público da citação destes documentos legais pertinentes;

5- A Consulta Popular trás à Comunidade a seguinte pergunta: “Além da atividade comercial – já autorizada – também devem ser permitidas edificações residenciais, na área da Orla do Guaíba, onde se localiza o antigo Estaleiro Só?’

Observe-se um dado aqui que, ao suprimir o sinal de interrogação desta pergunta, ela vira proposta afirmativa. Coincidência? Também, no bojo da pergunta, insinua-se que a atividade comercial está autorizada. Que falácia! Sabe-se por acaso qual o tipo de construção comercial está autorizada e qual sua altura final? O sr. vice prefeito disse, por sua vez, nos jornais que a altura dos prédios comerciais será a mesma, (por acaso são os 13 ou 14 andares, vistos em propaganda de marketing, para um projeto que ainda não existe e não se sabe como será sua elaboração?). Deve ser consultada a Lei Orgânica primeiro. Outrossim, poderíamos ter uma pergunta mais expressiva e curta como: Qual sua posição quanto a edificações residenciais na Orla? É O QUE SE QUER SABER.

Alem disso a pergunta poderá induzir de maneira subliminar de que toda a Orla do Guaíba possa receber edificações. Os menos avisados poderão entender assim. Isto porque nossa língua portuguesa é muito rica, pois um assunto pontual pode conduzir a conceitos genéricos, “democraticamente”.

Em nosso entender, como a Sociedade está jogada para ser confundida, temos que alertá-la de cuidar de seus interesses de cidadania e votar, no dia 23 de agosto consciente de dizer NÃO, e salvar sua paisagem gratuita para todos que sonhamos ter ali um PARQUE. A Prefeitura que pare de ser usurária e dar benesses aos poderosos e exigir deles obrigações difíceis de cumprir, quando não esquecidas.

*Nestor Ibrahim Nadruz
Arquiteto e Urbanista, membro da AGAPAN
2º Coordenador do Fórum das Entidades da Câmara Municipal para acompanhamento da Revisão do PDDUA

Publicado originalmente em: Porto Alegre RESISTE!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Impeachment de Yeda marca dia de protestos em Porto Alegre


A jornada nacional de lutas reuniu uma multidão nesta sexta-feira 14, em Porto Alegre. Desde que o dia começou a clarear, os manifestantes começaram a se reunir em diferentes pontos da capital gaúcha. Os servidores públicos, organizados no Fórum dos Servidores Públicos Estaduais, concentraram-se em frente ao Colégio Estadual Júlio de Castilhos, o Julinho, para pedir o imediato afastamento da governadora Yeda Crusius (PSDB). As centrais sindicais reuniram-se em frente à Fiergs e a Via Campesina fez uma manifestação no Parque da Harmonia.

No último dia 5, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou a governadora Yeda Crusius (PSDB) e outras oito pessoas como réus numa ação civil pública, como resultado da Operação Rodin, que apurou um desvio de R$ 44 milhões do Detran. Para os servidores, a governadora não tem mais legitimidade política para continuar governando o estado.

Por volta de 9 horas, os servidores públicos deixaram as imediações do Julinho em direção ao Palácio da Polícia, na esquina formada pelas avenidas Ipiranga e João Pessoa. Nove bonecos em tamanho natural, representando os nove indiciados pelo MPF foram algemados e levados até a porta principal do Palácio.


O MPF denunciou o deputado federal José Otávio Germano, a governadora Yeda Crusius e os deputados estaduais Luiz Fernando Záchia e Frederico Antunes. Também foram indiciados João Luiz Vargas, presidente do Tribunal de Contas do Estado, Delson Martini, ex-presidente da CEEE e ex-secretário de Governo, Rubens Bordini, ex-tesoureiro da campanha da governadora, Carlos Crusius, ex-marido de Yeda, e Walna Vilarins Meneses, assessora da governadora.

Do Palácio da Polícia a manifestação pelo Fora Yeda – Impeachment Já seguiu em direção a outro palácio, o Piratini. Antes de chegar ao centro da cidade, a passeata dos servidores ganhou a adesão de estudantes da UFRGS.
Na Praça da Matriz, servidores e estudantes juntarem-se aos trabalhadores de outras categorias, organizados pelas centrais sindicais e pela Via Campesina. O afastamento de Yeda foi pedido através de faixas e falas e também durante as falas dos manifestantes.

Foto: Joana Ludwig

João dos Santos e Silva
,
assessor de imprensa do CPERS/Sindicato

Notícia publicada em: www.cpers.org.br
Vídeo no Youtube

domingo, 16 de agosto de 2009

Mulheres argentinas em luta contra violência sexista

Para contribuir com esforços por justiça e contra o feminicídio, no ltimo dia 13 , uma delegação foi composta por organizações sociais, feministas e a deputada nacional Fernanda Gil Lozano, marcando presença na Casa da Província de Jujuy, em Buenos Aires, para a entrega de uma petição com mais de 600 assinaturas ao governador Walter Basilio Barrionuevo. Pedido este, feito para abertura de uma comissão investigadora sobre o caso de Adriana Zambrano.


Adriana Marisel Zambrano, jovem de 28 anos, foi assassinada a golpes de socos e chutes por seu ex-companheiro, Jose Manuel Alejandro Zerda, no estado de Jujuy. O assassino, entretanto, foi sentenciado somente com uma pena de cinco anos de prisão efetiva. No documento, pedem justiça pelo crime, assim como, solicitam a posse definitiva da filha de Adrina em favor da avó materna até a maioridade da menina.


Os números de feminícidio no país voltaram a preocupar a associação Casa do Encontro, entidade qual faz defesa de um projeto feminista em questionamento ao sistema patriarcal, machista e sexista. A entidade registrou que, do início de 2009 até 30 de Junho, 82 mulheres e meninas foram executadas. Seis dessas vítimas sofreram feminícidio por conexão (execução de uma mulher que intervém na tentativa de impedir o assassinato de outra), nove casos estão sendo investigados e nove mulheres estão hospitalizadas em estado grave.


Neste contexto, a organização propõe ao Estado que a punição para esse crime seja enquadrada como "figura penal autônoma" no Código Penal. "Apenas o Estado conta com meios necessários para estabelecer pautas de condutas e sustentá-las, através dos diversos meios que estão ao seu alcance. Trabalhamos sobre todas as violências, opressões, abusos e discriminações contra as mulheres", declarou a associação.


Entre os apelos estão:





  1. Alteração do Código Penal da Nação, incorporando o feminicídio como figura penal autônoma, ferramenta com qual já contam vários países para a punição destes delitos.


  2. Que se agregue ao Código Civil a perda imediata da guarda e poder paternal para aquele que tenha matado ou atentado contra a vida da mãe. O que se dá na perda dos direitos dos homicida, não às suas obrigações alimentares para com os filhos.


  3. Proteção integral para mulher vítima de violência: Nos marcos do estudo pôde ser visto que, em muitos casos, antes que se cometa o feminicídio, os assassinos já haviam sofrido alguma denúncia por violência; por diversas causas não se protege de forma adequada a vida de quem está sob ameaças.



Fonte: http://www.lacasadelencuentro.com.ar/


quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Picasso, o pintor comunista

A galeria Tate de Liverpool prepara uma mostra integral para 2010

Em 1944, a adesão do artista ao Partido Comunista Francês levantou ondas que levaram inclusive ao desmerecimento de suas obras desse período. A exibição “Picasso: Paz e Liberdade” busca, segundo seu diretor, “que o público forme sua própria opinião”.

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Por Jonathan Brown

No dia 4 de outubro de 1944, menos de seis semanas após a liberação de Paris – onde havia se exilado – Pablo Picasso surpreendeu o mundo com o anúncio de que se unia ao Partido Comunista Francês. Seu “alistamento na causa” era um golpe incrível pró-Moscou, um movimento que dividiu os especialistas em arte e política para sempre. Alguns céticos duvidaram de suas convicções e alegaram que era apenas um mero expoente das visões de moda expostas nos círculos intelectuais de esquerda nos quais se movia. Outros supuseram que sua arte nunca recobraria sua velha glória, enquanto o homem se encontrava enredado na cada vez mais amarga batalha de propaganda da Guerra Fria.

Agora, o público terá a oportunidade de formar sua própria opinião sobre o prolongado Período Vermelho de Picasso como membro do Partido Comunista, uma relação que sobreviveu ao levantamento húngaro e à Primavera de Praga, e que o artista manteve com fidelidade até sua morte em 1973. Uma grande exibição que inclui mais de 150 trabalhos do pintor espanhol será aberta no próximo ano na Tate de Liverpool, com o intento de projetar nova luz em um capítulo controverso de uma carreira extraordinariamente produtiva. Entre os destaques da mostra estará o monumental “The Charnel House”, que não era vista na Inglaterra há mais de meio século, inspirado nas imagens de campos de concentração liberados. A exibição, montada em colaboração com o museu Albertina de Viena, apresentará “La violación de las sabinas”, recriação do célebre “Rapto de las Sabinas” criado no auge da crise dos mísseis cubanos em 1962. Na mostra também haverão exemplos e desenhos da pomba da paz que se converteria no instantaneamente reconhecível símbolo do movimento mundial pela paz.

Rapto de las Sabinas

Picasso: Peace and Freedom (Picasso: Paz e Liberdade), que sucede a exitosa exibição de 2008 sobre Gustav Klimt, é resultado de anos de planejamento e uma exaustiva investigação que levou os especialistas ao Instituto Picasso em Paris, onde se conserva boa parte da correspondência do artista. Christoph Grunenberg, diretor da Tate Liverpool, tem a esperança que a partir dessa mostra o público possa ter uma apreciação mais sutil do artista nos anos posteriores a 1945. “É olhar Picasso durante a Guerra Fria, distanciar-se do seu mito como gênio criativo e playboy com um compulsivo talento expressivo, para ter uma visão com mais nuances”, assinala o diretor. “As pessoas trataram de desmerecer seu compromisso político, mas ele foi membro ativo e completo do partido, e estava claramente envolvido no movimento pacifista”, completa.

Uma das coisas que resultava curiosa da associação entre Picasso e os comunistas era que o partido adotava oficialmente a escola do realismo social, em oposição oficial ao movimento moderno do qual o “decadente” Picasso era quem sabe o maior expoente. Contudo, seu largo exílio da Espanha natal por sua oposição ao regime do general Franco, combinado com as brutais experiências da vida durante a ocupação nazista de Paris, levaram-no a ver o comunismo como um ideal de paz e a chave para um mundo livre do fascismo. Naquele momento, sua decisão desenrolou uma série de conseqüências. Houve protestos de grupos de direita em suas exibições e lhe proibiram a entrada nos Estados Unidos. Mas o artista começou a viajar por todo o mundo, apresentando-se em conferências públicas pela primeira vez e realizando doações a causas diversas, incluindo a contribuição de um milhão de francos aos mineiros de carvão franceses em greve. Se uniu a protestos contra a Guerra da Coréia e a execução de Nikos Beloyannis, comunista grego e líder da resistência.

Picasso recebeu o Prêmio Stalin da Paz e o Prêmio Mundial da Paz, que compartilhou com o cantor estadunidense Paul Robeson e o poeta chileno Pablo Neruda, mas recusou receber a Legião de Honra francesa. Em 1953, após a morte de Stalin, o retrato estilizado que Picasso fez do jovem ditador abriu um racha com os comunistas franceses, que criticaram sua falta de realismo. Os acontecimentos na Hungria esfriaram ainda mais a relação, mas Picasso, apesar de suas crescentes reservas, não abandonou o partido e preferiu expressar-se através da prodigiosa produção que caracterizou as últimas décadas de sua vida. É claro, nem todos compraram a idéia do artista como figura central da esquerda. Salvador Dali fez um comentário famoso: “Picasso é pintor, eu também; Picasso é espanhol, eu também; Picasso é comunista, eu tampouco”. Grunenberg crê que é uma visão injusta, e que a queda do Muro de Berlim provocou uma mudança sísmica na apreciação dos seus últimos trabalhos. “Isso já não tem vigência. Há muitas peças fantásticas que serão parte da exibição: Picasso seguiu reinventando-se a si mesmo e começando novos temas. São trabalhos maravilhosos”, conclui.

*Do The Indepentent da Grã-Bretanha. Publicado originalmente na Página/12.

Rastreado em: Prensa Popular Solidária - PCV Miranda

Tradução: Juventude LibRe

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Honduras, a marcha e a resistência heróica de seu povo


Maggie Marín *

Tradução: ADITAL


Os milhares de hondurenhos/as que participaram na que me atrevo chamar a grande marcha desse país centroamericano oferecem um singular exemplo para a América Latina e para o resto do mundo. Porque essa ousada ação desenhada para defender seus direitos em específico é isso; porém, é mais do que isso; e é mais do que uma imensa caminhada. É também, vale esclarecer, uma formidável maneira de defender a totalidade de nossa região dos desígnios nefastos e da sempiterna voracidade dos Estados Unidos

Revolucionária por certeza, latinoamericanista por devoção e periodista por profissão, meus dias começam e terminam e sempre estou mergulhada em pesquisas do que passa por lá. Na imprensa alternativa, claro, porque a Marcha Nacional de Resistência Popular, da mesma forma que todas as ações de repúdio e protesto popular, são ignoradas pelos maiores meios de comunicação do país, propriedade de grupos empresariais que ajudaram a financiar o levantamento militar que depôs ao presidente legítimo, José Manuel Zelaya Rosales.

Portanto, não minto ao assegurar que a atualidade sobre Honduras apresenta diversos ritmos, matizes e graus de tensão. A cada jornada se enrola e desenrola mais de um fato; porém parece subsistir uma espécie de nó cego que a muitos, -Gringolândia em primeiro lugar- convém manter atado até ajustar bem suas porcas. Algo está sempre acima de tudo -algo que, inclusive, tem contrariado os vaticínios agoureiros segundo os quais, após uns dias de revoltas, tudo voltaria à normalidade e as águas voltariam ao seu nível-: a permanente pujança do movimento popular e a virtual rebelião de seus habitantes. Porque, certamente, a despeito da atroz repressão desatada após o golpe e das graves violações aos direitos humanos de que estão sendo vítima, 44 dias depois do golpe, dos hondurenhos mantêm a luta mesmo com o risco de perder suas vidas.

Desde o fatídico 28 de junho, as massas populares saem todos os dias à rua para protestar e executar medidas de pressão contra o governo usurpador: marchas e mobilizações massivas, interromper o tráfego nas estradas, bloqueios de pontes, ocupação de edifícios públicos, paralisações. O mais provável é que a maioria não saiba que o Artigo 3 da atual Constituição Política hondurenha lhes dá o direito à Insurreição Popular em caso da imposição de um governo pela força das armas.

Não obstante, a resistência do povo é permanente e, longe de debilitar-se, torna-se mais obstinada e pertinaz e, inclusive, tem incorporado diferentes formas de luta. Uma firme demonstração disso é justamente a multitudinária marcha que mencionamos, iniciada no passado 5 de agosto em aldeias, comunidades, municípios e departamentos do país e que, ontem, encheu ruas, caminhos e avenidas e a qual se uniram milhares de hondurenhos em direção à capital, Tegucigalpa e a San Pedro Sula (segunda cidade em importância, situada a 250km ao Norte) para reforçar a luta pelo retorno à ordem constitucional, pelo regresso do presidente Zelaya e pela convocatória de uma Assembleia Constituinte.

Assim que, enquanto escrevo estas linhas para os fraternos amigos de Adital, os marchantes se aproximam às vilas fronteiriças com Nicarágua, onde, na quarta-feira realizarão concentrações em aberto desafio aos usurpadores do poder e concretamente ao exército e à polícia, que praticamente militarizou essas zonas e onde há duas semanas desataram uma violenta repressão que teve como vítima um jovem.

Dirigentes chaves do movimento operário e camponês, da Frente Nacional Contra o Golpe e da resistência em geral, asseveram que com a caminhada demonstraram ao regime a pujança do movimento popular. "Devemos ser otimistas, estamos no caminho do triunfo e conseguimos a unidade do povo e de nossas organizações nessa luta", disse Israel Salinas, secretário geral da Federação de Trabalhadores. "A resistência popular contra o golpe se fortalece e continua crescendo. Vamos continuar na luta", afirmou Juan Barahona, um dos principais líderes do movimento de resistência.

Segundo o carismático e combativo dirigente camponês Rafael Alegría, as marchas que possivelmente reuniram umas 100 mil pessoas em ambas as cidades foram contundentes porque a resistência está empenhada em apertar para "impedir que triunfe a estratégia dos golpistas, que é trazer o presidente Zelaya somente na última hora, para que legitime as eleições".

Portanto, é inegável que ao longo dessas semanas o ator fundamental em Honduras, um dos três países mais pobres na América Latina, tenha sido esse povo que, em pagamento por sua exemplar e heróica rebelião, recebeu golpes, murros, gases lacrimogêneos e balaços. Sintetizo-lhes algo que li na página web de La Jornada: milhares e milhares de pessoas tem se mantido em luta, colocando em risco sua própria vida, sua liberdade e seus bens. Para entender o que acontece hoje em Honduras temos que ver esse povo e seus líderes. Neles, encontram-se as raízes da resistência ao golpe.

De fato, o Informe Final da Missão Internacional de Observação sobre a Situação dos Direitos Humanos corroborou que poderiam estar sendo cometidos crimes de competência da Corte Penal Internacional, o que se explica pela repressão desatada "de maneira sistemática" e que está em jogo muito mais do que uma simples luta política para restabelecer uma ordem legal e permitir a um presidente legítimo regressar ao poder.

Agrega o documento que se trata de uma conflitividade onde "uma elite econômica, aliada ao exército", atua "em prejuízo da maioria da população", negando-lhe o usufruto dos direitos sociais, econômicos e culturais, ou criminalizando-a quando os reclamam.

Ninguém deve estranhar, então, que o Comitê de Familiares de Detidos Desaparecidos de Honduras (Cofadeh) contabilize nove assassinatos, "alguns deles cometidos por militares disfarçados de civis", grande quantidade de ameaças de morte diretas, 2.702 detenções ilegais e outras 1.155 violações aos direitos humanos.

Retomando o tema da resistência, vale anotar que enquanto a marcha acontecia, 50 mil educadores continuavam em greve, mais de 8 mil trabalhadores de 28 hospitais e em outros mil centros públicos de saúde; e tiveram que fechar os quatro aeroportos mais importantes do país porque 95 de seus técnicos e operadores somaram-se à luta. Tudo isso a despeito de que a repressão militar e policial é cada vez mais brutal, como foi demonstrado com a violação do campus da Universidade Nacional Autônoma de Honduras, e o assassinato de dois professores.

Roger Vallejo morreu no sábado, 1º de agosto, após 36 horas de agonia causada pelo balaço recebido na cabeça durante a repressão a uma marcha nos arredores da capital. Martín Florencio Rivera Barrientos foi morto a punhaladas quando, na madrugada, após sair do velório de Vallejo, regressava à sua casa. A sede da Associação de Professores de Educação Média onde trabalhavam e foram velados ficou lotada por centenas de pessoas que repudiavam a repressão e exigiam o restabelecimento do estado de direito.

A cada dia que passa, a paralisação de importantes setores do país repercute na economia local, que parecera estar entrando em forte bancarrota. Por outro lado, apesar de que, de uma ou de outra maneira, meio planeta continua implicado nos esforços de reinstaurar a institucionalidade na empobrecida república centroamericana, o certo é que, enquanto muitos governos, organismos mundiais e regionais e prestigiosas personalidades que estão a favor aplicam inúmeros esforços, outros fazem todo tipo de artimanhas buscando levar a atual situação ao limite para, em seguida, mediar e debilitar o ainda incerto regresso a seu posto do presidente constitucional.

De modo que se continua tentando reviver uma das artimanhas dos falcões washingtonianos em confabulação com a oligarquia local e com as direitas da região e do mundo, no chamado plano do presidente costarricense Oscar Arias. Zelaya continuou com sua resistência pacífica, sua ofensiva diplomática para voltar ao país, e sua luta pela democracia direta "enquanto tenha um fio de vida", enquanto o governo espanhol, o canadense, o dominicano, entre outros, somavam-se à pressão para que tanto o governante legítimo quanto os golpistas aceitem o farsante plano de Arias,

Após manter-se por vários dias na zona limítrofe entre Honduras e Nicarágua, o mandatário deposto viajou para o México, convidado pelo homólogo Felipe Calderón, onde afirmou que a oligarquia hondurenha quer acabar com a pobreza assassinando aos pobres e que, com a repressão, com a inconstitucionalidade e com a barbárie, os golpistas "despertaram" o povo, que agora reconhece aos que jogaram Honduras no caos. Considerou débil para com os golpistas a mencionada mediação de Arias; apontou que a OEA arrisca prestígio ao dialogar com o governo de fato e reclamou urgência na devolução da constitucionalidade em seu país. Se a intransigência dos usurpadores persiste, disse, somente restará apelar ao Tribunal Penal Internacional. Reiterou que as medidas tomadas por EUA são mornas e débeis. "A crise em Honduras põe à prova o governo estadunidense".

O legítimo presidente de Honduras participa no Equador da cerimônia oficial de início do segundo mandado de seu colega Rafael Correa e viajará depois ao Brasil, Espanha e Estados Unidos.

Em entrevista a Telesur, sua filha, a advogada Zoe Zelaya Castro que, com sua mãe continuam em Honduras e, portanto, separadas do mandatário deposto, argumenta com tino que "os líderes mundiais devem atuar com energia condenando aos homicidas do regime de fato". Nada mais certo, a vida não deveria continuar igual enquanto Honduras não volte à normalidade, enquanto os hondurenhos tenham que continuar marchando e ofertando seu suor, suas lágrimas e seu sangue.

Enquanto isso, em Honduras, prosseguem as manifestações, as greves, os bloqueios de pontes e de estradas, enfim, a resistência; e se espera a chegada de uma missão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos que buscará informação sobre as múltiplas violações ocorridas desde o golpe de Estado de 28 de junho.


* Jornalista da revista centenária cubana Bohemia

Publicado originalmente em: ADITAL Notícias

terça-feira, 11 de agosto de 2009

As bases ianques e a soberania Latino-Americana


O conceito de nação surgiu da soma de elementos comuns tais como a história, a linguagem, a cultura, os costumes, as leis, as instituições e mais outros fatores relacionados com a vida material e espiritual das comunidades humanas.

Os povos da América, por cuja liberdade Bolívar realizou as grandes façanhas que fizeram com que virasse El Libertador foram convocados por ele para criar, como disse: "a maior nação do mundo, menos por sua extensão e riquezas do que por sua liberdade e glória".

António José de Sucre levou a cabo em Ayacucho a última batalha contra o império que tinha convertido grande parte deste continente em propriedade real da coroa de Espanha durante mais de 300 anos.

É a mesma América que dezenas de anos mais tarde, e quando já tinha sido cerceada em parte pelo nascente império ianque, Martí chamou Nossa América.

Temos que recordar mais uma vez que, antes de tombar em combate pela independência de Cuba, último bastião da colónia espanhola na América, no dia 19 de Maio de 1895, horas antes da sua morte, José Martí escreveu profeticamente que tudo o que ele tinha feito para "… impedir a tempo com a independência de Cuba que se estendam pelas Antilhas e caiam, com essa grande força, sobre as nossas terras da América".

Nos Estados Unidos, as 13 colônias recém libertadas não tardaram em se estender desordenadamente para o Oeste em busca de terra e ouro, exterminando índios até que chegaram às costas do Pacífico, concorriam os Estados agrícolas escravagistas do Sul com os Estados industriais do Norte que exploravam o trabalho assalariado, tentando criar outros Estados para defenderem os seus interesses económicos.

Em 1848 arrebataram ao México mais de 50 por cento de seu território, numa guerra de conquista contra o país, militarmente fraco, que os levou a ocupar a capital e impor-lhe humilhantes condições de paz. No território arrebatado estavam as grandes reservas de petróleo e gás que mais tarde forneceriam aos Estados Unidos durante mais de um século e continuam em parte fornecendo-os.

O flibusteiro ianque William Walker, estimulado pelo "destino manifesto" que proclamou o seu país, desembarcou na Nicarágua no ano 1855 e se proclamou por si próprio como Presidente, até que foi expulso pelos nicaragüenses e outros patriotas centro-americanos em 1856.

O Nosso Herói Nacional viu como o destino dos países latino-americanos era destroçado pelo nascente império dos Estados Unidos.

Após a tombada em combate de Martí teve lugar a intervenção militar em Cuba, quando já o exército espanhol estava derrotado.

Foi imposta a Cuba a Emenda Platt, que concedia ao poderoso país o direito de intervir na ilha.

A ocupação de Porto Rico, que dura já 111 anos e hoje constitui o chamado "Estado Livre Associado", que não é Estado nem é livre, foi outra das consequências daquela intervenção.

Confirmando as geniais premonições de Martí, as piores coisas para a América Latina ainda não tinham acontecido. Já o crescente império tinha decido que o canal que uniria os dois oceanos seria por Panamá e não pela Nicarágua. O istmo do Panamá, a Corinto sonhada por Bolívar como capital da maior República do mundo concebida por ele, seria propriedade ianque.

Mesmo assim, houve ao longo do Século XX piores consequências. Com o apoio das oligarquias políticas nacionais, os Estados Unidos apropriaram-se depois dos recursos e da economia dos países latino-americanos; multiplicaram-se as intervenções; as forças militares e policiais ficaram sob a sua égide. As empresas multinacionais ianques apropriaram-se das produções e dos serviços fundamentais, dos bancos, das companhias de seguros, do comércio exterior, dos caminhos de ferro, dos navios, dos armazéns, dos serviços eléctricos, dos telefónicos e outros, em maior ou menor grau passaram às suas mãos.

É certo que a profunda desigualdade social fez com que explodisse a Revolução Mexicana na segunda década do Século XX, que se converteu em fonte de inspiração para outros países. A revolução fez com que o México avançasse em muitas áreas. Mas o mesmo império que ontem devorou grande parte do seu território, hoje devora importantes recursos naturais que lhe restam, a força de trabalho barata e até faz com que derrame o seu próprio sangue.

O TLCAN é o mais brutal acordo imposto a um país em desenvolvimento. Em aras da brevidade, é suficiente assinalar que o Governo dos Estados Unidos recém afirmou textualmente: "Em momentos em que o México tem sofrido um golpe duplo, não só pela queda de sua economia, mas também pelos efeitos do vírus A H1N1, provavelmente queremos ter a economia mais estabilizada antes de ter uma longa discussão sobre as novas negociações comerciais." Logicamente não se faz nenhuma referência a que, como consequência da guerra desatada pelo tráfico de drogas, na qual o México utiliza 36 mil soldados, em 2009 tem morrido quase quatro mil mexicanos. O fenômeno repete-se em maior ou menor Grau no resto da América Latina. A droga não só engendra problemas graves de saúde, engendra a violência que desgarra o México e a América Latina como fruto do mercado dos Estados Unidos, fonte inesgotável das divisas com as quais é fomentada a produção de cocaína e heroína, e é o país donde são fornecidas as armas usadas nessa feroz e não divulgada guerra.

Aqueles que morrem do Rio Grande até os confins da América do Sul são latino-americanos. Deste modo, a violência geral está acima do recorde de mortes e as vítimas ultrapassam a cifra de 100 mil por ano na América Latina, engendradas principalmente pelas drogas e a pobreza.

O Império não luta contra as drogas dentro de suas fronteiras; luta nos territórios latino-americanos.

No nosso país não são cultivadas a coca nem a papoula. Lutamos com eficiência contra os que tentam introduzir drogas no nosso país ou utilizar Cuba como trânsito, e os índices de pessoas que morrem por causa da violência diminuem a cada ano. Para isso não precisamos de soldados ianques. A luta contra as drogas é um pretexto para estabelecer bases militares em todo o hemisfério. Desde quando os navios da IV Frota e os aviões modernos de combate servem para combaterem as drogas?

O verdadeiro objetivo é o controle dos recursos econômicos, o domínio dos mercados e a luta contra as mudanças sociais. Que necessidade tinha de reestabelecer essa frota, desmobilizada no fim da Segunda Guerra Mundial, há mais de 60 anos, quando já não existe a URSS nem a guerra fria? Os argumentos utilizados para o estabelecimento de sete bases aeronavais na Colômbia são ao longo do Século XX um insulto à inteligência.

A história não perdoará aos que cometem essa deslealdade contra os seus povos, tampouco aos que usam como pretexto o exercício da soberania para encobrir a presença de tropas ianques. A que soberania fazem referência? À conquistada por Bolívar, Sucre, San Martín, O´Higgins, Morelos, Juárez, Tiradentes, Martí? Nenhum deles teria aceitado tão repudiável argumento para justificarem a concessão de bases militares às Forças Armadas dos Estados Unidos, um império mais dominante, mais poderoso e mais universal do que as coroas da península ibérica.

Se como consequência desses acordos promovidos de forma ilegal inconstitucional pelos Estados Unidos, qualquer governo desse país utilizasse essas bases, mesmo como o fizeram Reagan com a Guerra Suja e Bush com a do Iraque, para provocarem um conflito armado entre dois povos irmãos, seria uma grande tragédia. A Venezuela e a Colômbia, nasceram juntas na história da América após as batalhas de Boyacá e Carabobo, sob a direção de Simon Bolívar. As forças ianques podiam promover uma guerra suja como fizeram na Nicarágua, inclusive utilizar soldados de outras nacionalidades treinados por eles e poderiam atacar algum país, porém dificilmente o povo combativo, valente e patriótico da Colômbia se deixe arrastar para a guerra contra um povo irmão como o da Venezuela.

Enganam-se os imperialistas se subestimam igualmente os outros povos da América Latina. Nenhum deles aprovará a instalação de bases militares ianques, nenhum deles deixará de ser solidário com qualquer povo latino-americano agredido pelo imperialismo.

Martí admirava extraordinariamente Bolívar e não se enganou quando disse: "assim está Bolívar no céu da América, vigilante e carrancudo… calçadas ainda as botas de campanha, porque aquilo que ele não deixou feito, hoje está por fazer: porque Bolívar ainda tem coisas a fazer na América.



Fidel Castro Ruz
9 de agosto de 2009
18h32



Publicado originalmente em:
Blog Solidariedade Internacional