terça-feira, 26 de maio de 2009

A educação e os comics: instantâneos brasileiros


Este texto feito pela professora Olgária Mattos pretende avaliar as condições atuais do ensino público em São Paulo que, levando em conta a precarização resultante do abandono do Estado, apresenta fraqueza diante do escândalo gerado após a impressão de livros com conotações sexuais. A autora afirma que esta prática é fruto da indústria cultural, formada no bojo da sociedade do consumo, qual despreza a educação para se aproximar à cultura midiática.


A imprensa divulgou a notícia de que as escolas públicas de São Paulo, a fim de “estimular a leitura e a escrita” no aprendizado da língua portuguesa, haviam adotado, para crianças entre oito e nove anos, histórias em quadrinhos. A publicação foi considerada imprópria por conter palavrões que, como se sabe, portam conotação sexual. Considere-se, também, além do estilo do desenho, a dificuldade de leitura de seus balões, que se deve ao traçado das letras, desenho e letras plenamente adequados ao gênero.
Assim, a questão não é a história em quadrinho, mas a adoção, pelas escolas, de uma expressão literária de distração “para adolescentes e adultos”, uma vez que a árdua tarefa da educação é introduzir a criança no universo do conhecimento, formando-lhe a sensibilidade e o pensamento, para que ela possa apropriar-se, progressivamente, de um repertório mais amplo e diverso daquele de que dispõe por sua inserção social e pela cultura de massa.
Confundindo educação e entretenimento, cedendo à adaptação da escola ao gosto das mídias, esta escolha não foi circunstancial, pois expressa o núcleo da ideologia contemporânea, que considera que “a verdadeira cultura é inacessível à grande massa”. Adorno escrevia nos anos 1940 que a mídia determinou uma cisão entre “cultura de elite” e “ cultura popular”, protagonizando a cultura média midática, que difunde um conhecimento medíocre para a grande massa. Para ele, a indústria cultural seria, então, produzida “para os ignorantes”. Em seguida, seria levada a cabo “pelos ignorantes”, por equipes técnicas que não estabelecem nenhum contato ou contato apenas episódico com o mundo da cultura. Acrescente-se o ideário de que a dificuldade em alfabetizar, bem como em despertar interesse pelos saberes escolares, devem-se ao pressuposto de a escola não estar adaptada ao universo do “ educando”. Na verdade, talvez a crise esteja em a escola ter-se adaptado à carência do status quo , que corresponde à indigência das próprias elites educacionais.
Em sua obra "A revolução da escrita e suas conseqüências culturais na Grécia Antiga" , Havelock indica a maneira pela qual o advento da educação formal e o ensino da gramática foram de grande eficácia, pois qualquer sistema de escrita que reproduzisse apenas a língua falada estaria sujeito a flutuações e variâncias que acabariam por comprometer sua função social de comunicação e clareza, e por isso exigia um alto grau de convenção. Também Adorno em suas "Minima Moralia" alertava para as dificuldades das relações humanas na sociedade industrial produtivista,uma vez que esta se encontra sob o domínio da razão instrumental, movida pelo culto da eficiência e dos resultados, por um lado, pelas razões econômicas, de outro. Na educação, trata-se, antes da pergunta sobre o que ensinar e seus métodos, de refletir sobre o “tipo de indivíduo que se procura formar com a educação.” Por visar o indivíduo compassivo com seus próximos e solidário na sociedade, a educação não se pautava pelas necessidades do mercado. Valia-se, pois, no ensino da língua, de narrativas exemplares em que a elaboração literária era essencial. Por isso,associava-se o ético ao prazer estético.
A adaptação da escola ao social é comandada pelo fetiche da facilidade que comanda, por sua vez, as transformações dos programas educacionais, definindo comportamentos intelectuais. Esta mutação do caráter civilizacional da educação escolar não é acontecimento isolado de São Paulo, mas se expande por todo o sistema de ensino. Que se pense na indústria dos livros para-didáticos e sua discutível qualidade, recomendados em estabelecimentos de ensino.
Desde suas origens gregas, a educação formal visava desenvolver saberes e habilidades a fim de reunir escola e vida. Diversamente daquelas aptidões que se aprendem sem necessidade de instrução, pela experiência e pelo hábito, a escola foi o lugar de adoção de uma identidade coletiva com valores e conhecimentos comuns e compartilhados. Lembre-se que “aluno”, em francês, se diz “ élève”, porque a educação eleva a criança e sublima o povo.
Independentemente de sua utilização, o fato de este material ter sido cogitado para as escolas públicas indica de que maneira o Estado produz intensivamente a exclusão, educando os mais pobres para permanecerem na pobreza.. Elitista, o Estado impede o acesso dos despossuídos à cultura formal, tornando-a privilégio de uma elite. “Genocídio cultural”, na expressão de Pasolini.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Lançada primeira edição da Comuna LibRe




Já está disponível a edição Zero do Jornal da Juventude Liberdade e Revolução, a "Comuna LibRe".

O estilo da publicação mescla elementos estéticos oriundos de publicações bolcheviques do período revolucionário na Rússia e arte urbana contemporânea, trabalhados a partir de fotos, charges e textos.
A primeira edição tem como matéria de capa a crise econômica e os seus impactos sobre os trabalhadores, em especial nos jovens. Além disso também traz:

MUNDO - Grécia: apenas uma faísca?
BRASIL - Atos unificados agitam as Capitais
EDUCAÇÃO - Novo ENEM: pra que(m)?
CULTURA - Hip Hop é movimento contínuo
...e muito mais!

Adquira a sua Comuna LibRe impressa entrando em contato conosco através do e-mail juventudelibre@yahoo.com.br, ou visualizando a edição eletrônica aqui.

terça-feira, 12 de maio de 2009

V SEMANA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - USP

As várias questões polêmicas dos últimos tempos, como ocupação da sede do DCE e greve dos funcionários da USP, não impediram a organização, pelo Centro Universitário de Pesquisas e Estudos Sociais (CEUPES), da 5ª Semana de Ciências Sociais, qual teve início no dia 11 e vai até 15 de maio. A programação contempla diversas atividades, como mesas de debates e uma mostra de filmes, sob a temática dos 20 anos de eleições diretas, colocando em questão a democracia vigente.
Logo após o coquetel de abertura, a primeira mesa trazia alguns depoimentos dos professores Eugenio Bucci, José Guilherme Magnani, e também do senador Eduardo Suplicy. Este espaço para discussão pretende ser abrangente e plural para compreensão acerca destes assuntos que, ao contemplar divergentes opiniões. Embora contido em moldes academicistas, é livre o acesso aos debates que vão desde condições no sistema educacional até mesmo às influências - direta ou indireta na vida das pessoas - de embates históricos, geopolíticos e ideológicos.
Outro encontro muito esperado entre os participantes ocorreu ainda no primeiro dia com a presença de Lincoln Secco, do Dep. de História da USP, Ruy Braga do Dep. de Sociologia da USP e Antonio Mazzeo, professor de Ciência Política da UNESP. Os professores ficaram ali por pouco mais de duas horas - embora com alguns pedidos para extensão deste tempo - na mesa cujo tema foi O Mundo e o Muro.
Com pontos de vista distintos na abrangência deste vasto assunto, Ruy deu início à sua fala com direta crítica ao stalinismo no caso da revolução na Hungria, em 1956, quando cerca de 20 mil foram mortos. Ao comentar a expansão do parque industrial soviético, advertiu ter sido um advento ocorrido por entre um modelo de centralidade burocrática , e com aval formaram-se os departamentos - ponto em especial que gerou ásperas considerações dos docentes.
O historiador Lincoln Secco chegou a dizer que este processo teve início nos tempos em que Lênin e Trotsky estavam à frente do partido Bolchevique e lembrou que após a queda do muro de Berlin, aonde havia primazia em educação musical, por exemplo, fez-se a troca pelo lado instigante e desejoso da Alemanha Ocidental e seus fast-foods. Para consentimento geral, os professores fizeram falas sobre a incapacidade da URSS acompanhar o desenvolvimento tecnológico, mesmo com os grandes avanços na indústria bélica e espacial.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Juventudes Comunistas celebram 191 anos de Marx



Na última terça-feira (05/05) completaram-se 191 anos desde o nascimento de Karl Marx, idealizador do socialismo científico, que junto com Engels escreveu o famoso Manifesto Comunista, documento que sintetizou os princípios da nova concepção de mundo que viria a ser seguida por operários, camponeses e estudantes no mundo todo. Para os comunistas, esse não é apenas um dia de comemoração, mas de reflexão sobre a importância do legado de Marx para a humanidade.

Na noite de ontem, realizou-se um debate na sede do SindiPetro em Porto Alegre/RS, no qual foram ressaltados os aspectos mais importantes da contribuição teórico-prática que o comunista alemão ofereceu durante sua vida, e a importância de buscar sua referência para superar os dilemas atuais da sociedade.

A atividade, organizada pela Juventude LibRe em conjunto com a Juventude Comunista Avançando e União da Juventude Comunista - que compõem o Fórum de Unidade dos Comunistas - também debateu a importância que os jovens tiveram nos diversos processos revolucionários ao longo da história e a sua situação atual no cenário de crise econômica.


Na passagem desse 5 de maio, cumpre lembrar o famoso discurso de Engels diante do túmulo de seu amigo e camarada:

"Marx era, antes de tudo, um revolucionário. Sua verdadeira missão na vida era contribuir, de um modo ou de outro, para a derrubada da sociedade capitalista e das instituições estatais por esta suscitadas, contribuir para a libertação do proletariado moderno, que ele foi o primeiro a tornar consciente de sua posição e de suas necessidades, consciente das condições de sua emancipação. A luta era seu elemento. E ele lutou com uma tenacidade e um sucesso com quem poucos puderam rivalizar. (...) Como conseqüência, Marx foi o homem mais odiado e mais caluniado de seu tempo. Governos, tanto absolutistas como republicanos, deportaram-no de seus territórios. Burgueses, quer conservadores ou ultrademocráticos, porfiavam entre si ao lançar difamações contra ele. Tudo isso ele punha de lado, como se fossem teias de aranha, não tomando conhecimento, só respondendo quando necessidade extrema o compelia a tal. E morreu amado, reverenciado e pranteado por milhões de colegas trabalhadores revolucionários - das minas da Sibéria até a Califórnia, de todas as partes da Europa e da América - e atrevo-me a dizer que, embora, muito embora, possa ter tido muitos adversários, não teve nenhum inimigo pessoal."

Camarada Marx, PRESENTE!


segunda-feira, 4 de maio de 2009

DCE da USP Ocupado: símbolo do início da luta em 2009


Na noite do dia 23 de abril (quinta-feira), cerca de 400 estudantes da USP, reunidos em Assembléia Geral, deliberaram e ocuparam a sede do DCE (Diretório Central dos Estudantes) que estava desde 2006 sob controle da reitoria para reformas e regulamentação do espaço.
Na época em que o DCE foi fechado para as reformas, foi feito um contrato – entre a reitoria e os estudantes - que continha os termos de uso do espaço. Porém, desde o começo de 2009, mesmo com a conclusão dos trabalhos no local, a reitoria não sinalizou o cumprimento do contrato. No lugar da plena e imediata disposição do espaço para as atividades do movimento estudantil, o que se viu foi a burocracia acadêmica titubeando diante de sua utilização pelos estudantes. Os estudantes interpretam que essa postura da reitoria significa uma imposição que acabaria com a autonomia política e financeira do movimento estudantil, além de lhes tirar o direito à gestão de seu próprio espaço, que foi historicamente conquistado.
Os movimentos organizados da Universidade de São Paulo vêm sofrendo, além desse, uma série de ataques que se inserem num contexto de perseguição aos movimentos sociais brasileiros que vêm ocorrendo em todo o país. Ataques como processos contra estudantes que participaram da ocupação da reitoria em 2007 e das mobilizações do congresso da USP em 2008, multa de mais de 300 mil reais imposta ao DCE pela Justiça e também sindicâncias e demissões políticas de funcionários, como a do sindicalista Claudionor Brandão, militante histórico do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP) - todas por conta de participação em greves e mobilizações.
Estes são apenas exemplos dos ataques a uma comunidade universitária que recusa calar-se diante das ações da reitoria e do governo de José Serra. Estes, seguindo uma linha política de perseguição às lideranças populares, visam silenciar os movimentos que lutam contra suas políticas cada vez mais privatizantes e que vêm submetendo a universidade pública aos interesses do mercado e das grandes empresas, tirando seu papel de olhar para os interesses da sociedade e da população (essa sim a verdadeira função de uma universidade pública).
A retomada do DCE pelos estudantes é um símbolo que marca o início da luta unificada em 2009 e a necessidade de fortalecer o movimento para que mais estudantes sejam atraídos para a luta.

Univesp: mobilizações em torno da EXPANSÃO COM QUALIDADE do ensino universitário.
No começo do ano, o governo do estado lançou a Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), para a criação de cursos à distância em massa nas universidades estaduais paulistas, que começam a funcionar já este ano (previsão para início no segundo semestre).
Entretanto, o que poderia ser um avanço na democratização do ensino superior significa desde o primeiro momento a sua precarização. O que há, na realidade, é uma política pública de expansão do ensino universitário SEM qualidade: os cursos reunirão centenas de alunos para cada professor, as verbas investidas em cada aluno serão insuficientes, e nesse esquema serão formados, majoritariamente, professores. Vale aqui lembrar que a grande maioria dos cursos oferecidos pela Univesp têm como objetivo formar professores em cuja formação ficaram pendentes suas respectivas licenciaturas.
A Juventude LibRe interpreta que os docentes formados nesses parâmetros de ensino terão uma qualificação claramente inferior à dos alunos de cursos plenamente presenciais. Esses professores, provavelmente, darão aula nas piores escolas, que infelizmente são as públicas, ao passo que estas estarão servidas de professores com uma qualificação cada vez pior. Ao mesmo tempo, é bom lembrar, o vestibular da USP para os cursos presenciais – seguindo uma orientação nacional de reformulação dos vestibulares - ficará mais elitizado já a partir desse ano. Isso aponta que haverá, no caso das universidades estaduais paulistas, a formação de duas castas de discentes: uns, formados com uma educação de maior qualidade, e, conseqüentemente, com mais impedimentos ao seu acesso; e outros formados pelo ensino à distância, com menos qualidade, e que somarão as fileiras de um ensino público básico já precarizado.

A nossa opinião é a de que a expansão do ensino universitário tem que ocorrer, sim! Mas não acompanhada de uma grande perda na qualidade. Defendemos, então, uma expansão com qualidade e democrática: com todos tendo acesso ao melhor do ensino público. Compreendemos, assim, que o programa da Univesp se dá diante de um problema real, mas um dos seus objetivos centrais é melhorar os indicadores do governo Serra com relação à educação. Portanto, com o governo reconhecendo esse grave problema na sociedade, não há melhor momento para que os estudantes reivindiquem um programa real de acesso ao ensino superior gratuito e de qualidade.
A Juventude LibRe faz coro aos estudantes da USP, se declarando contra a UNIVESP, que entendemos como uma política de expansão deturpada e precarizada.

Contra a UNIVESP! Por um programa real de acesso ao ensino superior gratuito e de qualidade!
Todo apoio à ocupação da sede do DCE-USP! Pela autonomia financeira dos estudantes!
Todos apoio à greve dos funcionários da USP! Contra todas as demissões!
Contra a repressão aos estudantes e funcionários! Abaixo à todas sindicâncias, processos administrativos, e ações na justiça burguesa contra os militantes dos movimentos organizados da USP!
Nenhum centavo a menos para a educação!

domingo, 3 de maio de 2009

5 de maio: Aniversário de Marx e discussão no Sindipetro-RS

Pela união do proletariado em todo planeta exclamava a última frase do texto célebre, escrito em 1948, Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels. Obra escrita em forma de panfleto, como documento do primeiro partido internacional, trouxe conceitos que defrontavam com a classe dominante (burguesia) e o caráter revolucionário na posição de um comunista diante dos acontecimentos gerais.

A ideologia concebida no bojo de teoria dialética, a partir de Hegel, aponta para a evidente luta de classes qual se torna força motriz para manifestações, formação de partidos, correntes de juventude, movimentos sociais, etc. Intelectuais explicam através da filosofia questões de orientação materialista histórico. Mais ainda, a visão de uma teoria transformadora da realidade com uma reflexão teórica acoplada à prática política, assim como fizeram Lênin, Trotsky, Gramsci, Rosa Luxemburgo, entre muitos outros.

“(...) Marx desenvolveu numa série de trabalhos históricos a sua teoria materialista, dedicando-se, sobretudo ao estudo da economia política. Revolucionou esta ciência nas suas obras Contribuição para a Crítica da Economia Política (1859) e O Capital...”, assim faz referência Lênin em escrito de 1914. Mais adiante, Lênin objeta o ser social determinante da consciência de acordo com a questão materialista. “(...) o materialismo explica a consciência pelo ser, e não ao contrário, ele exige, quando aplicado à vida social da humanidade, que se explique à consciência social pelo ser social.”

No próximo dia 5 de maio será comemorado o aniversário de 191 anos de Karl Marx. A Juventude Libre deve estar presente, junto aos jovens que compõe o Fórum de Unidade dos Comunistas, Juventude Comunista Avançado e União da Juventude Comunista, às 19h no Sindipetro-RS*, para um ciclo de debates em torno da obra e reflexão acerca do demais temas que rodeiam o universo do jovem, assim como a luta ao longo da história e crise econômica.

O COMUNISMO É A JUVENTUDE DO MUNDO

*Localização: Rua General Lima e Silva nº818. Cidade Baixa, Porto Alegre/RS.