sexta-feira, 31 de julho de 2009

Criminalização total do aborto aumenta número de mortes de mulheres e meninas grávidas

Na terra do ex-guerrilheiro sandinista Daniel Ortega - que hoje tem como Vice-presidente um dos empresários expropriados pela Revolução e integrante dos "Contra" - mulheres sofrem com a nova legislação sobre o aborto, aprovada em arranjo político com a Igreja.

Adital -29.07.2009

O número de mortes entre mulheres e meninas grávidas na Nicarágua aumentou neste ano. Segundo informações da Anistia Internacional, neste ano, 33 gestantes já morreram, enquanto que, no mesmo período do ano passado, o número não passou de 20. Para a organização, o crescimento do índice de mortalidade materna no país está diretamente relacionado com o Novo Código Penal da Nicarágua, em vigor desde o ano passado.

De acordo com o relatório divulgado na última segunda-feira (27) pela Anistia Internacional - "A proibição total do aborto na Nicarágua: A vida e a saúde das mulheres em perigo; os profissionais da medicina criminalizados" -, o Novo Código Penal proíbe totalmente a prática do aborto no país. Tal medida não só criminaliza os profissionais da saúde que praticam o aborto em qualquer situação, mas também contribui com o aumento da mortalidade materna.

"Na Nicarágua, o aborto é um delito em qualquer circunstância. O Novo Código Penal, que entrou em vigor em 2008, prevê longas penas de prisão para as mulheres e as meninas que solicitem ou consigam um aborto e para os profissionais da saúde que proporcionem serviços de aborto e atenção obstétrica necessária para salvar vidas e preservar a saúde da paciente", apresenta o relatório.

Segundo o estudo, o atual Código viola os direitos humanos das mulheres e meninas grávidas, incluindo o direito delas à saúde. "Procedimentos médicos que são recomendados como boas práticas e salvam a vida de milhares de mulheres e meninas na Nicarágua agora são ilegais", comenta. A Anistia explica que, na maioria das vezes, quando surgem complicações durante o período da gravidez, os médicos trabalham para manter a gestação e, quando esta coloca em perigo a vida da mãe, a intervenção profissional é realizada para garantir a vida da genitora.

Entretanto, a atual lei representa uma regressão nos direitos das mulheres no país. Para a Anistia Internacional, "a proibição total do aborto é uma grave violação das obrigações da Nicarágua de proteger, respeitar e tornar real os direitos humanos das mulheres e das meninas em virtude de sua Constituição e dos tratados internacionais nos quais o Estado faz parte".

De acordo com o relatório, a criminalização total do aborto ainda prejudica a própria gestação, pois deixa as mulheres que têm complicações na gravidez receosas de até mesmo procurar ajuda médica: "Segundo os médicos e as mulheres entrevistas pela Anistia Internacional, o temor de serem acusadas de abordo induzido também pode dissuadir as mulheres que experimentam dificuldades na gravidez de buscar atenção médica", afirma.

Dessa forma, a Anistia Internacional pede às autoridades nicaraguenses que derroguem a lei que proíbe o aborto em todos os casos e solicitam às autoridades que garantam serviços de abortos seguros e acessíveis às vítimas de violação sexual e cuja saúde materna está em risco. Além disso, pede que o Estado proteja a liberdade de expressão dos que são contrários à nova lei e ofereça apoio às mulheres e meninas afetadas por ela.

O relatório completo está disponível no site: amnesty.org/es

Notícia publicada originalmente em Adital Notícias

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Movimento cultural, político e social: hip hop*

A utilização dos elementos artísticos do Hip Hop (MC, Dança de rua, graffiti e Dj), como veículo aglutinador da juventude, para a construção de um verdadeiro processo de cidadania dos jovens de periferia, deve ser encarado como o maior desafio da história do nosso movimento.

É importante destacar como o Movimento Hip Hop pode desenvolver o processo de uma cidadania não burguesa para a juventude pobre e como deve ser a sua relação com outros movimentos populares, que também trabalham para construir a cidadania nas suas áreas específicas de atuação.

Quando se diz que o Movimento Hip Hop contribui com o processo de cidadania dos jovens, não necessariamente se tem em mente o abrangente conceito de cidadania burguesa. Porém, a cidadania no Hip Hop, hoje, quer dizer: aumento da auto-estima dos jovens das camadas populares, envolvimento com a produção de cultura, internalização individual de uma identidade coletiva, como a que o Hip Hop proporciona e, conseqüentemente, e o combate à ociosidade, além da efetivação da inclusão social.

Elementos como o rap, o Break (dança de rua), o grafite e o Dj representam o lado artístico, cultural do Movimento Hip Hop e funcionam como mobilizadores da juventude pobre, que facilmente se identifica. Quando acompanhado pela formação política, o Movimento pode significar a ascensão de sujeitos ativos, capazes de lutar por um mundo sem opressores e oprimidos.

O Movimento Hip Hop procura, primeiro, entender como a exclusão social se mantém, para depois assumir como principal missão a organização da juventude pobre da periferia para que esta possa exigir e fazer acontecer uma transformação radical no sistema político-econômico vigente. O Hip Hop tem se organizado e trabalhado para ser o incentivo da juventude oprimida, para levantar e lutar declaradamente contra a exclusão social. Esta luta vem se dando de forma clara, tendo como meta final a construção de uma nova sociedade baseada em valores onde o Capital não prevaleça sobre o ser humano, uma sociedade igualitária e humanista. Desta maneira, o Hip Hop está, por meio da arte, fortalecendo a cidadania plena dentro do movimento e fora dele e, conseqüentemente, participando da construção de um novo mundo. Um mundo baseado na liberdade, igualdade e justiça.

Juventude Liberdade e Revolução (LibRe) - Núcleo Cotia/SP

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Manifesto da unidade pela Universidade Popular*


Diante dos ataques que a universidade pública vem sofrendo mais intensamente nos últimos anos, da crise que provoca desemprego em massa, perdas dos direitos trabalhistas e entrega das riquezas naturais de nosso povo, o 51° Congresso da União Nacional dos Estudantes (CONUNE) realizado entre os dias 15 a 19 de julho ignorou todo um passado histórico de lutas do Movimento Estudantil. Já foi o tempo em que cinco dias de Congresso da UNE representariam um período de intenso debate político que instrumentalizasse os estudantes frente ao desafio histórico de defender a educação das garras do mercado.

É lamentável fazer um balanço deste CONUNE e visualizar que este conseguiu ser mais despolitizado e aparelhado que o de 2007. Quando pensamos que a abertura se deu em plenário do Congresso Nacional, que os dois primeiros dias foram de ócio programado, que os atos do dia 16 (PROUNI e Petróleo) foram financiados e regidos pelo Governo Federal, nos perguntamos: onde estará a autonomia de uma entidade que historicamente tinha papel protagonista e que hoje está a reboque do Estado? Os heróicos militantes que dedicaram a sua vida para a luta no movimento estudantil, certamente não poderiam prever algo que foi tão explicito em matéria de aparelhamento partidário. A “primeira participação” de um presidente no Congresso – apresentando sua possível candidata a presidente em 2010 – ouvido por uma claque de estudantes exclusivamente convocados para este fim, foi emblemática da situação atual de subserviência da nossa entidade nacional.

No terceiro dia, a enxurrada de mesas foi assustadora na programação: 25 em um curto espaço de 8 horas, exigindo que um estudante interessado se dividisse em pelo menos 10 pra acompanhar os debates! Ainda assim, temas importantes como o de Ciência e Tecnologia foram simplesmente boicotados. O fim do dia estaria reservado para o pior: os 13 Grupos de Discussão – que em tese deveriam tirar as principais linhas a serem defendidas pela entidade – não existiram! Méritos para a oposição que “forçou” a mesa de Movimento Estudantil, que o bloco governista majoritário da União da Juventude Socialista (UJS) logo se prontificou a abafar, levando parte de seus militantes para fazer guerra de torcida e não para colocar suas posições políticas.

O sábado e o domingo estariam reservados para as Plenárias Finais (ou seriam iniciais?). No sábado seria a definição dos eixos em Conjuntura, Educação e Movimento Estudantil que a UNE defenderia nos próximos 2 anos e no domingo a escolha da Diretoria. Participamos em conjunto com os companheiros da Oposição de Esquerda, defendendo eixos importantíssimos para o movimento estudantil, na defesa da universidade pública e gratuita, contra todas as medidas da Contra-Reforma Universitária, e na defesa do projeto estratégico que o ME carece no momento: a Universidade Popular.

Toda a insuficiência da UNE enquanto entidade organizadora das lutas do ME; autônoma aos governos, partidos e reitorias; protagonista de campanhas históricas pelas riquezas naturais de nosso povo; por um projeto de sociedade mais justa e igual e na luta contra a autocracia da ditadura militar; - ficou exposta de forma emblemática na plenária final de “eleição” da nova diretoria da UNE. O debate se resumiu aos dez minutos de cada chapa, na defesa das bandeiras de cada organização e numa votação em que a “guerra pelos crachás”, se constituía na briga pelas 17 vagas na diretoria executiva (remuneradas) e nas mais de 80 vagas na diretoria plena.
Diante de toda a falta de debates, da necessidade de um congresso de verdade e não de uma fachada institucionalizada de disputa de cargos, apresentamos a chapa “Por uma Universidade Popular”, convocando os estudantes para a necessária reorganização do ME de “baixo pra cima” a partir de cada entidade de base. Convocamos todos a lutar contra os efeitos da crise econômica sobre o povo e pelo o que identificamos como fundamental: a construção de um projeto estratégico do movimento estudantil. Após a apresentação da chapa nos retiramos do processo de eleição da diretoria por entender que não é uma possível diretoria – nas condições já descritas deste congresso – que auxiliará para a reorganização do ME. Na situação despolitizante deste CONUNE, nossa disputa prioritária foi no campo das idéias, buscando construir laços que possam ter repercussões para além deste evento.

ME e a necessidade do projeto estratégico: “Criar, criar, a universidade popular!”

A unidade entre as teses Une de Volta pra Luta, A Hora é Essa e Ciência em Disputa, se deu em torno de alguns eixos: a visualização da conjuntura desfavorável ao conjunto dos trabalhadores do mundo e ao futuro da universidade; a defesa de um projeto de educação que tenha como objetivo a emancipação política, social e econômica do povo; e o chamado “urgente” para a reorganização de movimento estudantil autônomo e combativo, que expresse o clamor das bases organizadas. Essa unidade programática foi uma vitória para o processo de reorganização do ME, pois mesmo com todas as críticas à fragilidade da UNE e sua insuficiência para potencializar as lutas dos estudantes, acreditamos que não podemos nos ausentar deste espaço que é apenas um reflexo da totalidade do movimento.

Saímos deste CONUNE com a certeza de que o Movimento Estudantil tem que superar os seus vícios institucionais, que fazem com que o absurdo da falta de debates seja naturalizado em nome de uma suposta “representatividade da base” sacralizada nos rituais de escolha da Diretoria. Precisamos romper o atrelamento espúrio e a tendência “parlamentarista” que a UNE tem se emaranhado nos últimos tempos, delegando todas as lutas para os gabinetes fechados, ignorando as ruas e as ocupações de Reitoria.

Chamamos todos os companheiros da “Oposição de Esquerda” para uma unidade real nas lutas de base, que supere o imediatismo da unificação nos períodos de escolha da Diretoria da UNE. Para isso, acreditamos que é imprescindível ampliar o movimento por uma universidade popular: debatendo e formulando rumos para o movimento estudantil; questionando a que(m) serve a produção de conhecimento da universidade; que lute pela democracia interna das universidades disputando seus projetos; sendo críticos e criadores do novo conhecimento para a emancipação de nosso povo trabalhador; pintando a universidade com as cores dos movimentos sociais, com a cara dos operários, camponeses e todos setores explorados de nossa sociedade!

Sabemos que a Universidade Popular não se realizará plenamente nesta sociedade regida pela ordem do Capital, mas compreendemos que é preciso ir além do debate sobre qualidade e de resistência às políticas governamentais. É necessário apontar para quem queremos tal qualidade. A ciência e tecnologia devem ser bases para a construção de um projeto popular de transformação social, exigindo do Movimento Estudantil que postule uma Universidade ao lado daquele a quem deve servir: o povo.

“Vem estudante, vamos lutar!...Por uma Universidade Popular!”


*Assinam este manifesto as teses “Une de Volta pra Luta”, “A hora é essa” e “Ciência em disputa”, que constituíram no CONUNE a chapa “Por uma Universidade Popular”.

domingo, 26 de julho de 2009

Congresso de 1971: a trincheira esquecida


*O artigo abaixo serviu de base para a resolução aprovada por consenso no último Congresso da UNE, por iniciativa da Juventude LibRe, que reconhece os esforços dos camaradas que lutaram por manter ativa a União Nacional dos Estudantes, mesmo sob forte repressão do regime autoritário.


Quando o regime militar dissolveu o Congresso de Ibiúna e editou o AI-5, o movimento estudantil viu-se numa encruzilhada crucial: cerrar as portas da UNE, curvando-se ao Terrorismo de Estado, ou manter sua diretoria atuante, assumindo as conseqüências? O Conselho de Novembro (1968) não vacilou: decidiu remontar o 30o Congresso, com os mesmos delegados anteriormente eleitos, que se reuniram em encontros estaduais para dificultar a ação repressiva. O Conselho de Abril (1969) incumbiu-se de homologar o resultado e empossar os novos diretores.

Dois anos depois, o mesmo desafio se recolocou: realizar o 31o Congresso. Os delegados foram eleitos em assembléias limitadas, mas sempre convocadas pelos DAs, CAs, Conselhos de Turma e outras entidades. Os representantes à instância nacional vieram de fóruns descentralizados, com um ou vários estados. Ao todo, participaram quase 200 delegados de base (um por faculdade ou instituto), nos seguintes encontros: um no Norte (PA); três no Nordeste (BA, PE e CE); um no Centro-Oeste (Brasília); um em MG (BH), um no RJ, um em SP e um no Sul (POA).

Na sessão nacional (setembro de 1971), realizada na Baixada Fluminense (RJ), estavam estudantes indicados pelos encontros regionais, que tinham a competência de apresentar o resultado das discussões e tomar decisões. A representação restrita foi indispensável diante da repressão aguda. Estiveram presentes 11 estados. Outros não compareceram por dificuldades materiais ou porque estavam embutidos em delegações regionais. Aprovou-se uma “Carta aos Estudantes”, divulgada em todo o País. Honestino – que substituíra Jean Marc quando de sua prisão – foi eleito presidente. Os demais diretores eram: Alírio (RN), Humberto (PE), Jorge (SP), Luis Oscar e Pedro (RS), Marco Aurélio e Neuton (MG), Maria Emília (BA), Rufino (CE) e Ronald (RJ).

Após minha prisão (agosto de 1972), a diretoria deixou de reunir-se e de editar o jornal “Movimento”. Todavia, seus membros continuaram encontrando-se e atuando. Os assassinatos de Honestino e Humberto representaram novo golpe. Mesmo assim, a UNE permaneceu viva: acompanhou encontros setoriais por áreas, estimulou reivindicações específicas, dirigiu eventos sobre os 50 anos da Semana de Arte Moderna, organizou um show com a velha guarda da Portela e promoveu protestos contra a morte de Alexandre Vanucchi. É certo, portanto, que ainda atuava em 1972 e pelo menos até o final de 1973.

Para manter o trabalho da entidade e proteger-se da prisão, os diretores tiveram de abandonar os estudos e viver clandestinos. Nunca, porém, tomaram a decisão de renunciar aos mandatos. Essa atitude de resistência, sem capitulação e sem derrota definitiva, facilitou a reorganização da entidade no Congresso de Salvador (1979), evitando uma lacuna abissal que secionasse a tradição de lutas e a memória coletiva. O verdadeiro 31o Congresso da UNE, de 1971, é um capítulo da história do movimento estudantil, que não deve perder-se.

Ronald Rocha

Ex- presidente do Centro Acadêmico Edson Luis (IFCS/RJ)

e ex-diretor da UNE (eleito nos Congressos de 1969 e 1971)


Links relacionados:
Artigo "A Une: uma página perdida da história - por Augusto Buonicore"
Resoluções 51º Congresso da UNE - Brasília 2009

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Criar a Universidade Popular!

Avaliação preliminar da Juventude LibRe sobre o Congresso da UNE - Brasília 2009

A Juventude LibRe completou neste último domingo (19/07) um ano, e o melhor de tudo é que a comemoração se deu do melhor jeito possível: na luta! Estivemos ao lado dos camaradas da União da Juventude Comunista (UJC) e da Juventude Comunista Avançando (JCA) no Congresso da UNE, tendo como eixo central a construção da Universidade Popular.

Universidade Popular

A unidade em torno desse ponto não é secundária. A transformação da Universidade brasileira é uma urgência sentida por todos. Contudo, a mudança que queremos não é aquela que vem sendo operada através das sucessivas contra-reformas do Governo Federal com a complacência da UNE.

Queremos uma Universidade que sirva aos interesses da sociedade e não do mercado, do povo e não da elite burguesa. Uma universidade que vise a formação de indivíduos críticos (ou seja, que relacionem a ciência que estão aprendendo com o papel que ela terá na sociedade), e não mera mão-de-obra a serviço das grandes corporações do capitalismo. Essa Universidade deve ter a pesquisa voltada fundamentalmente para as demandas populares. Deve abrir suas portas para a ampla maioria da juventude que hoje é desfavorecida e não tem acesso a um ensino superior de qualidade. Devemos lutar por esta Universidade Popular!

Compreendemos que não é possível hoje a sua realização por completo, já que, na sociedade capitalista em que vivemos, as Universidades cumprem papel estratégico na manutenção do domínio burguês. Este se consolida em diferentes âmbitos, seja na universidade pública – destinada a formação de quadros intelectuais e produção de conhecimento para a esfera privada – seja nas faculdades particulares, que apesar de terem um acesso importante das camadas intermediárias e populares, não fogem a essa lógica, realizando-a com uma estrutura ainda mais precarizada.

A consolidação plena da Universidade Popular somente seria possível em uma sociedade livre dos imperativos do Capital. Ela pode, contudo, contribuir ativamente para a transição a uma sociedade sem classes, isso se estiver em consonâcia com as demandas populares e ligada a um projeto estratégico de transformação social revolucionária.


A chapa composta pelas Juventudes do Fórum de Unidade dos Comunistas (UJC, JCA e Juventude LibRe) defendeu a constituição da Universidade Popular como um projeto estratégico da Esquerda brasileira. Um processo que aprofunde a reflexão a respeito da Educação em pontos já consensuais no seio dessa mesma Esquerda, fornecendo uma proposta de transcendência positiva de maneira mais consistente, em lugar da mera resistência às políticas governamentais. Um projeto inovador, que tenha a capacidade de aglutinar todas as forças progressistas em torno de si e fortalecer a luta por transformações sociais profundas.


Eleição para a Diretoria e a Unidade pretendida

Reconhecemos a necessidade de que a Esquerda se unifique, entretanto a unidade que se construiu a partir da chamada “Oposição de Esquerda” - como já ocorreu na anterior FOE – é meramente momentânea. Essa unidade é – infelizmente – frágil, pois se limitou ao somatório de votos para conseguir alguns míseros postos na Diretoria da UNE, sem que se aprofundassem a discussões sobre os pontos de unidade entre essas forças a fim de estreitar laços e constituir uma agenda de lutas comum.

Acreditamos que pouco avançamos a partir de uma unidade puramente eleitoral, sem estar baseada num amplo debate que possa refletir em uma atuação unitária para além dos congressos bianuais da UNE. Sendo assim, optamos por reforçar a unidade real que construímos junto aos camaradas da UJC e JCA, com o horizonte de nacionalizar o debate sobre a Universidade Popular.

Após termos defendido as propostas de nossa chapa e respeitosamente ouvido a defesa da chapa Oposição de Esquerda, nos retiramos do processo de votação – enfatizando que a disputa que travamos ali não se baseia na disputa por cargos.

Defendemos a unidade que se dá na luta, no intercâmbio, nas experiências comuns de ação cotidiana, que ultrapassam em muito os limites de ação da hoje frágil União Nacional dos Estudantes. Para tal, é necessário aprofundar o debate político sobre as pautas centrais que podem unificar a ação da Esquerda brasileira, superando a sua fragmentação e refluxo. É a isso que nos propomos e seguiremos caminhando nessa direção, ao lado de todos aqueles que se propõem a superar o atual estado de coisas.


São Paulo/Porto Alegre, 24 de julho de 2009.


"Vem estudante, vamos lutar!...
Por uma Universidade Popular!"

"Criar! Criar! a Universidade Popular!"

"Estudante do povo, qual é o seu lugar?
Construindo uma Universidade Popular!
Não é... Prouni! Não é Reuni não!
Não queremos nenhum tipo de enganação!"

Defesa da resolução sobre Movimento Estudantil no Canal LibRe Youtube:


domingo, 12 de julho de 2009

Desemprego entre os jovens chega a 67% e discrimina mulheres e negros

Não existe apenas uma juventude no Brasil, foi o que apontou o relatório “Trabalho Decente e Juventude no Brasil”. O estudo, realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e divulgado na última semana, mostra que o desemprego afeta 67% dos jovens brasileiros entre 15 e 24 anos. Entre negros e mulheres, a situação se agrava, chegando a atingir aproximadamente 78% de taxa de desemprego. A diretora da OIT no Brasil, Laís Abramo, acredita que a crise econômica vai piorar a condição dos jovens.

A pesquisa teve como um dos focos o acesso à educação. Foi verificado que 7% dos jovens brancos tinham baixa escolaridade. No caso dos jovens negros, o número crescia mais que o dobro, alcançando 16%. A jornada dos jovens também impressiona: 30% passam mais de 20 horas semanais trabalhando, o que prejudica o rendimento escolar.

O relatório aponta que a necessidade efetiva que os jovens possuem de trabalhar se confronta com o fato de que quanto mais cedo seu ingresso ao mercado, mais precária será sua inserção. O estudo é inédito e tem como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), referente aos anos de 1992 a 2006.



Fonte: Radioagência NP

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Fidel: UM ERRO SUICIDA

Reflexões do companheiro Fidel: UM ERRO SUICIDA

Na reflexão escrita na noite da Quinta-feira 25, há três dias, disse: "Ignoramos o que acontecerá esta noite ou amanhã em Honduras, mas o comportamento valoroso de Zelaya passará à história."

Dois parágrafos antes tinha assinalado: "… Aquilo que lá aconteça será uma prova para a OEA e para a atual administração dos Estados Unidos."

A pré-histórica instituição interamericana se tinha reunido no dia seguinte em Washington, e em uma apagada e fraca resolução prometeu realizar as gestões pertinentes imediatamente para procurar uma harmonia entre as partes em conflito. Quer dizer, uma negociação entre o golpistas e o Presidente Constitucional de Honduras.
O alto chefe militar, que continuava a comandar as Forças Armadas Hondurenhas, fazia pronunciamentos públicos em discrepância com as posições do Presidente, enquanto só de um modo meramente formal reconhecia a sua autoridade.

Não precisavam os golpistas outra coisa da OEA. Não lhes importou nada à presença de um grande número de observadores internacionais que viajaram a esse país para dar fé de uma consulta popular, aos quais Zelaya falou até altas horas da noite. Antes do amanhecer de hoje eles lançaram ao redor de 200 soldados profissionais bem treinados e armados contra a residência do Presidente, os que separando brutalmente a esquadra de Guarda de Honra seqüestraram Zelaya, quem dormia nesse momento, foi conduzido à base aérea, foi montado pela força num avião e o transportam a um aeroporto na Costa Rica.

Às 8 e 30 da manhã, conhecemos por Telesur a notícia do assalto à Casa Presidencial e o seqüestro. O Presidente não pôde assistir ao ato inicial da consulta popular que aconteceria este domingo. Era desconhecido o que tinham feito com ele.
A emissora da televisão oficial foi silenciada. Desejavam impedir a divulgação prematura da traiçoeira ação através de Telesur e Cubavisión Internacional, que informavam dos fatos. Suspenderam por isso os centros de retransmissão e acabaram cortando a eletricidade a todo o país. Ainda o Congresso e os altos tribunais envolvidos na conspiração não tinham publicado as decisões que justificavam o conluio. Primeiro levaram a cabo o inqualificável golpe militar e depois o legalizaram.

O povo acordou com os fatos consumados e começou a reagir com grande indignação.
Não se conhecia o destino de Zelaya. Três horas depois, a reação popular era tal que foi visto mulheres batendo com o punho aos soldados, cujos fuzis quase caiam das suas mãos por puro desconcerto e nervosismo. Inicialmente os seus movimentos pareciam os de um estranho combate contra fantasmas, depois tentavam cobrir com as mãos as câmaras de Telesur, apontavam tremendo os fuzis contra os repórteres, e às vezes, quando as pessoas avançavam, os soldados recuavam. Enviaram transportadores blindados com canhões e metralhadoras. A população discutia sem medo com os soldados dos blindados; a reação popular era surpreendente.

Ao redor das 2 horas da tarde, em coordenação com os golpistas, uma maioria domesticada do Congresso depôs Zelaya, Presidente Constitucional de Honduras, e designou um novo Chefe de Estado, afirmando ao mundo que aquele tinha renunciado, apresentando uma falsificada assinatura. Minutos depois, Zelaya, desde um aeroporto na Costa Rica, informado de todo o acontecido, desmentiu categoricamente a notícia da sua renúncia. Os conspiradores fizeram o ridículo perante o mundo.
Muitas coisas aconteceram hoje. Cubavisión dedicou-se completamente a desmascarar o golpe, informando o tempo todo a nossa população.

Houve fatos de carácter totalmente fascista que não por esperados deixam de surpreender.

Patrícia Rodas, a ministra de Relações Exteriores de Honduras, foi depois de Zelaya o objetivo fundamental do golpistas. Outro destacamento foi enviado a sua residência. Ela, valente e decidida, atuou rapidamente, não perdeu um minuto em denunciar por todos os meios o golpe. O nosso embaixador tinha estabelecido contato com Patrícia para conhecer a situação, como o fizeram outros embaixadores. Num momento determinado pediu aos representantes diplomáticos da Venezuela, da Nicarágua e Cuba reunir-se com ela, que, ferozmente acossada, precisava de proteção diplomática. O nosso embaixador, que desde o primeiro instante estava autorizado a oferecer o máximo apoio à Ministra constitucional e legal, partiu para visitá-la na sua própria residência.
Quando estavam já na sua casa, o comando golpista enviou o Major Oceguera para prendê-la. Eles se colocam diante da mulher e lhe dizem que está sob a proteção diplomática, e só pode mover-se em companhia dos embaixadores. Oceguera discute com eles e o faz de maneira respeitosa. Minutos depois penetram na casa entre 12 e 15 homens uniformizados e encapuzados. Os três embaixadores se abraçam a Patrícia; os mascarados atuam de forma brutal e conseguem separar os embaixadores da Venezuela e Nicarágua; Hernández a pegou tão fortemente por um dos braços, que os mascarados arrastaram a ambos até um furgão; levam-nos à base aérea onde conseguem separá-los, e levam-na com eles. Estando ali detido, Bruno que tinha notícias do sequestro, se comunica com ele através do telemóvel; um mascarado tentou arrebatar-lhe rudemente o telefone, o embaixador cubano que já tinha sido batido em casa de Patrícia, grita-lhe: "Não me empurre, Porra,! " Não me lembro se a palavra que pronunciou fosse alguma vez usada por Cervantes, mas sem dúvida o embaixador Juan Carlos Hernández enriqueceu a nossa língua.

Depois o deixaram numa rodovia longe da missão e antes de abandoná-lo lhe disseram que, se falava, poderia acontecer-lhe alguma coisa pior. "Nada é pior do que a morte! ", respondeu-lhes com dignidade, "e não por isso sinto medo de vocês”. Os vizinhos da área o ajudaram a voltar à embaixada, desde onde imediatamente comunicou-se mais uma vez com Bruno.
Com esse alto comando golpista que não se pode negociar, é necessário exigir-lhe a renúncia e que outros oficiais mais jovens e não comprometidos com a oligarquia ocupem o comando militar, ou não haverá jamais um governo "do povo, pelo povo e para o povo" em Honduras.
O golpistas, encurralados e isolados, não têm salvação possível se o problema se encara com firmeza.
Até a Senhora Clinton declarou já em horas da tarde que Zelaya é o único Presidente de Honduras, e os golpistas hondurenhos nem sequer respiram sem o apoio dos Estados Unidos.

De pijamas até há algumas horas, Zelaya será reconhecido pelo mundo como o único Presidente Constitucional de Honduras.

Fidel Castro Ruz
28 de junho de 2009
18h14

Postado anteriormente em: http://edisonpuente.blogspot.com/2009/06/fidel-um-erro-suicida.html