segunda-feira, 18 de abril de 2011

Os debates do Congresso

HOJE, domingo, escutei os debates dos delegados ao 6º Congresso do Partido.

Eram tantas as comissões que, como é lógico, não pude escutar todos os que falaram.

Reuniram-se em cinco comissões para discutir diversos temas. Com certeza, eu também aproveitava os recessos para respirar com calma e para consumir algum portador energético de procedência agrícola. Eles, seguramente com maior apetite por seu trabalho e sua idade.

Espantava-me a preparação desta nova geração, com tão elevado nível cultural, tão diferente a essa que se alfabetizava precisamente em 1961, quando os bombardeiros ianques, em mãos mercenárias, atacavam a Pátria. A maioria dos delegados ao Congresso do Partido eram crianças ou não tinham nascido.

Não me importava tanto o que diziam como a forma em que o diziam. Estavam tão preparados e se expressavam com um vocabulário tão rico, que eu quase não os entendia. Discutiam cada palavra, e até a presença ou ausência de uma vírgula no parágrafo discutido.

Sua tarefa é ainda mais difícil que a assumida por nossa geração quando se proclamou o socialismo em Cuba, a 90 milhas dos Estados Unidos.

Por tal motivo, persistir nos princípios revolucionários é, segundo minha opinião, o legado principal que podemos deixar-lhe. Não há margem para o erro neste instante da história humana. Ninguém deve desconhecer essa realidade.

A direção do Partido deve ser a soma dos melhores talentos políticos do nosso povo, capaz de enfrentar-se à política do império que põe em perigo a espécie humana e gera gansteres como os da OTAN, capazes de lançar em só 29 dias, do inglorioso "Amanhecer da Odisseia", mais de 4 mil missões de bombardeio sobre uma nação da África.

É dever da nova geração de homens e mulheres revolucionários ser modelo de dirigentes modestos, estudosos e de lutadores incansáveis pelo socialismo. Sem dúvida, na época bárbara das sociedades de consumo constitui um difícil desafio superar o sistema de produção capitalista, que fomenta e promove os instintos egoístas do ser humano.

A nova geração é chamada a retificar e mudar, sem hesitar, tudo o que deve ser retificado e mudado, e constinuar demonstrando que o socialismo também é a arte de realizar o impossível: construir e levar a cabo a Revolução dos humildes, pelos humildes e para os humildes, e defendê-la durante meio século da potência mais poderosa que jamais existiu.



Reflexões de Fidel, publicado originalmente no site Gramna

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Caso Battisti é tema de palestra e debate

O caso do refugiado italiano Cesare Battisti será tema de palestras e de debate nesta quinta-feira (14), em São Paulo. O encontro "A Verdade Sobre o Caso Battisti -

Uma Visão Objetiva Vista desde a Perspectiva Jurídica, Política, Mediática e dos Direitos Humanos" ocorrerá das 19h30min às 22h30min na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a PUCSP´(Rua Monte Alegre, 1044, Perdizes, São Paulo, SP).

Battisti, de 56 anos, é escritor e ex-integrante da organização Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), que optou pela luta armada na década de 1970 na Itália. Foi condenado à prisão perpétua por participação, direta e indiretamente, em quatro assassinatos ocorridos no período. No Brasil em 2004, Battisti foi preso em 2007 e, atualmente, está no presídio da Papuda, em Brasília, aguardando a definição sobre seu pedido de extradição por parte da Itália.

Para o governo italiano, Battisti deve ser tratado como um criminoso comum e cumprir a pena de prisão perpétua. O escritor, no entanto, nega os crimes e afirma ser vítima de perseguição política.

Mais informações:
A verdade sobre o caso Battisti - Uma Visão Objetiva Vista desde a Perspectiva Jurídica, Política, Mediática e dos Direitos Humanos.
Dia: 14 de abril
Horário: das 19h30 às 22h30
Local: Campus Sede da Pontífica Universidade Católica (PUC) de São Paulo - Rua Monte Alegre, 1044, Perdizes, São Paulo, SP – Auditória a definir

Cronograma do evento:

19h30 - Uma Análise Breve da Perseguição de Cesare Battisti
Palestrante: CELSO LUNGARETTI, escritor, jornalista e ex-preso político

20h40 - Os Abusos aos Direitos Humanos Durante o caso Battisti
Palestrante: CARLOS A. LUNGARZO, membro de Anistia Internacional

19h50 - Aspectos Institucionais do Caso Battisti
Palestrante: EDUARDO MATARAZZO SUPLICY, senador da República

20h10 - Aspectos Políticos do Caso Battisti
Palestrante: LÚCIO FLÁVIO RODRIGUES, professor de Ciências Políticas da PUCS

20h30 - Aspectos Jurídicos do Caso Battisti
DALMO DE ABREU DALLARI, Professor da USP

20h50 - A Atitude da Mídia na Divulgação do Caso Battisti
Palestrante: JOSÉ ARBEX, jornalista e professor da PUCSP

21h10 - Abertura de Debate
Os presentes poderão fazer perguntas, formular sugestões e opiniões.

22h30 - Encerramento

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Grupo de Estudos sobre obra de Marx


 
Serão reiniciados na próxima quinta-feira os trabalhos do Grupo de Estudos organizado pelo Núcleo da Juventude LibRe de Porto Alegre desde o ano passado. Esse semestre a obra escolhida é a "Contribuição à Crítica da Economia Política", de Karl Marx. O grupo é aberto e dele atualmente participam também os amigos da LibRe, de forma que o convite é extensivo a quem interessar possa.

Quando? Quintas-feiras das 18h às 20h
Onde? No Diretório Acadêmico da Faculdade de Educação da UFRGS (andar térreo da FACED - campus Centro)

No encontro inicial ocorrerá uma contextualização da obra e vida Marxianas e em seguida será iniciada já a discussão sobre o capítulo inicial: "a mercadoria". Esse capítulo estará disponível no xerox Pró-Cópias (na Av. Osvaldo Aranha - em frente à FACED) a partir de segunda-feira (11/04) à tarde. Na seqüência, porém, sugere-se a aquisição do livro completo junto à editora Expressão Popular, pois o preço é relativamente barato (R$15) e ajuda a reforçar esse importante trabalho de disseminação da cultura que ela faz.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O que a falácia da ditabranda revela

Em um editorial publicado no dia 17 de fevereiro de 2009, o jornal Folha de S. Paulo utilizou a expressão “ditabranda” para se referir à ditadura que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Na opinião do jornal, que apoiou o golpe militar de 1964 que derrubou o governo constitucional de João Goulart, a ditadura brasileira teria sido “mais branda” e “menos violenta” que outros regimes similares na América Latina.

Como já se sabe, a Folha não foi original na escolha do termo. Em setembro de 1983, o general Augusto Pinochet, em resposta às críticas dirigidas à ditadura militar chilena, afirmou: “Esta nunca foi uma ditadura, senhores, é uma dictablanda”. Mas o tema central aqui não diz respeito à originalidade. O uso do termo pelo jornal envolve uma falácia nada inocente. Uma falácia que revela muita coisa sobre as causas e consequências do golpe militar de 1964 e sobre o momento vivido pela América Latina.

É importante lembrar em que contexto o termo foi utilizado pela Folha. Intitulado “Limites a Chávez”, o editorial criticava o que considerava ser um “endurecimento do governo de Hugo Chávez na Venezuela”. A escolha da ditadura brasileira para fazer a comparação com o governo de Chávez revela, por um lado, a escassa inteligência do editorialista. Para o ponto que ele queria sustentar, tal comparação não era necessária e muito menos adequada. Tanto é que pouca gente lembra que o editorial era dirigido contra Chávez, mas todo mundo lembra da “ditabranda”.

A falta de inteligência, neste caso, parece andar de mãos dadas com uma falsa consciência culpada que tenta esconder e/ou justificar pecados do passado. Para a Folha, a ditadura brasileira foi uma “ditabranda” porque teria preservado “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça”, o que não estaria ocorrendo na Venezuela. Mas essa falta de inteligência talvez seja apenas uma cortina de fumaça.

O editorial não menciona quais seriam as “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça” da ditadura militar brasileira, mas considera-as mais democráticas que o governo Chávez que, em uma década, realizou 15 eleições no país, incluindo aí um referendo revogatório que poderia ter custado o mandato ao presidente venezuelano. Ao fazer essa comparação e a escolha pela ditadura brasileira, a Folha está apenas atualizando as razões pelas quais apoiou, junto com a imensa maioria da imprensa brasileira, o golpe militar contra o governo constitucional de João Goulart.

Está dizendo, entre outras coisas, que, caso um determinado governo implementar um certo tipo de políticas, justifica-se interromper a democracia e adotar “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça”. A escolha do termo “ditabranda”, portanto, não é acidental e tampouco um descuido. Trata-se de uma profissão de fé ideológica.

Há uma cortina de véus que tentam esconder o caráter intencional dessa escolha. Um desses véus apresenta-se sob a forma de uma falácia, a que afirma que a nossa ditadura não teria sido tão violenta quanto outras na América Latina. O núcleo duro dessa falácia consiste em dissociar a ditadura brasileira das ditaduras em outros países do continente e do contexto histórico da época, como se elas não mantivessem relação entre si, como se não integrassem um mesmo golpe desferido contra a democracia em toda a região.

O golpe militar de 1964 e a ditadura militar brasileira alimentaram política e materialmente uma série de outras ditaduras na América Latina. As democracias chilena e uruguaia caíram em 1973. A argentina em 1976. Os golpes foram se sucedendo na região, com o apoio político e logístico dos EUA e do Brasil. Documentos sobre a Operação Condor fornecem vastas evidências dessa relação.

Recordando. A Operação Condor é o nome dado à ação coordenada dos serviços de inteligência das ditaduras militares na América do Sul, iniciada em 1975, com o objetivo de prender, torturar e matar militantes de esquerda no Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Bolívia.

O pretexto era o argumento clássico da Guerra Fria: "deter o avanço do comunismo internacional". Auxiliados técnica, política e financeiramente por oficiais do Exército dos Estados Unidos, os militares sul-americanos passaram a agir de forma integrada, trocando informações sobre opositores considerados perigosos e executando ações de prisão e/ou extermínio. A operação deixou cerca de 30 mil mortos e desaparecidos na Argentina, entre 3 mil e 7 mil no Chile e mais de 200 no Uruguai, além de outros milhares de prisioneiros e torturados em todo o continente.

Na contabilidade macabra de mortos e desaparecidos, o Brasil registrou um número menor de vítimas durante a ditadura militar, comparado com o que aconteceu nos outros países da região. No entanto, documento secretos divulgados recentemente no Paraguai e nos EUA mostraram que os militares brasileiros tiveram participação ativa na organização da repressão em outros países, como, por exemplo, na montagem do serviço secreto chileno, a Dina. Esses documentos mostram que oficiais do hoje extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) ministraram cursos de técnicas de interrogatório e tortura para militares chilenos.

Em uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo (30/12/2007), o general Agnaldo Del Nero Augusto admitiu que o Exército brasileiro prendeu militantes montoneros e de outras organizações de esquerda latino-americanas e os entregou aos militares argentinos. “A gente não matava. Prendia e entregava. Não há crime nisso”, justificou na época o general. Humildade dele. Além de prender e entregar, os militares brasileiros também torturavam e treinavam oficiais de outros países a torturar. Em um dos documentos divulgados no Paraguai, um militar brasileiro diz a Pinochet para enviar pessoas para se formarem em repressão no Brasil, em um centro de tortura localizado em Manaus.

Durante a ditadura, o Brasil sustentou política e materialmente governos que torturaram e assassinaram milhares de pessoas. Esconder essa conexão é fundamental para a Folha afirmar a suposta existência de uma “ditabranda” no Brasil. A ditadura brasileira não teve nada de branda. Ao contrário, ela foi um elemento articulador, política e logisticamente, de outros regimes autoritários alinhados com os EUA durante a guerra fria. O editorial da Folha faz eco às palavras do general Del Nero: “a gente só apoiava e financiava a ditadura; não há crime nisso”.

Não é coincidência, pois, que o mesmo jornal faça oposição ferrenha aos governos latino-americanos que, a partir do início dos anos 2000, levaram o continente para outros rumos. Governos eleitos no Brasil, na Venezuela, na Bolívia, na Argentina, no Paraguai e no Uruguai passam a ser alvos de uma sistemática oposição midiática que, muitas vezes, substitui a própria oposição partidária.

A Folha acha a ditadura branda porque, no fundo, subordina a continuidade e o avanço da democracia a seus interesses particulares e a uma agenda ideológica particular, a saber, a da sacralização do lucro e do mercado privado. Uma grande parcela do empresariado brasileiro achou o mesmo em 64 e apoiou o golpe. Querer diminuir ou relativizar a crueldade e o caráter criminoso do que aconteceu no Brasil naquele período tem um duplo objetivo: esconder e mascarar a responsabilidade pelas escolhas feitas, e lembrar que a lógica que embalou o golpe segue viva na sociedade, com um discurso remodelado, mas pronto entrar em ação, caso a democracia torne-se demasiadamente democrática.


Escrito por Marco Aurélio Weissheimer



Publicado no site Carta Maior