quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Estudantes europeus: revolta contra reformas que precarizam a educação

No transcorrer das últimas semanas, várias manifestações populares acontecem nas ruas de importantes cidades da Europa. A crise mundial passa por momento delicado e mostra reações conservadoras em muitos países, afetando diretamente o sistema de ensino em algumas regiões.


Em Roma, milhares de estudantes universitários fizarem uma manifestação contra a reforma da educação, proposta pela ministra Mariastella Gelmini. Milão e Palermo foram palco para vários confrontos com a polícia. Os universitários também bloqueram ruas de acesso aos portos em Veneza e Nápoles.
O decreto governamental já foi aprovado pela Câmara de Deputados e o Senado deve votar nesta quinta (23). A população não aceita as alterações que retiram benefícios da educação. Redução para 24 horas semanais onde antes eram 29/31, a diminuição de professores na grade, redução de mandatos dos reitores, aumento de setores privados na educação.

Assim como essas demonstrações por parte da juventude na Itália, o mesmo aconteceu em protestos no Reino Unido. Em Londres, estudantes universitários  foram às ruas contra o aumento que triplica as taxas universitárias em face a medidas que visam reduzir os impactos de individamento do Estado. O Sindicato Nacional de Estudantes informou que mais de 50 mil protestaram no dia 10 de dezembro. Segundo estudo realizado pelo sindicato, 49 universidades - o que representa 1/3 de todas universidades britanicas - estariam em risco de fechar por conta dos cortes.
O orçamento das universidades pode baixar dos atuais 3.500 milhões de libras para 700 milhões. Além disso, há ainda o plano que eleva a atual taxa de matrícula de 3.290 libras para uma cifra que pode chegar de 7.000 a 9.000.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Wikileaks: operação revanche

Centenas de voluntários e "hackers" favoráveis à pirataria na Internet realizam ataques cibernéticos em massa em apoio a Julian Assange, fundador do WikiLeaks, preso atualmente Londres.

Este grupo, que se autodenomina "Anônimos", atacou os servidores das empresas transnacionais de cartões de crédito MasterCard e Visa, bem como a página na Internet da ex-candidata republicana extremista à vice-presidência Sarah Palin.

Antes o grupo havia atacado a Igreja da Cientologia e a vários sites da indústria fonográfica, segundo o jornal The New York Times.
Os sites atacados até agora, em todos os casos, empreenderam ações que afetaram de algum modo as operações do WikiLeaks.

Os portais do promotor sueco que conduz o caso de Assange e do advogado que defende as duas mulheres que acusam o australiano também foram desativados ao mesmo tempo que o do senador estadunidense Joe Lieberman, que é um recalcitrante inimigo do WikiLeaks.

O grupo Anônimos também criou centenas de sites espelhos para que o WikiLeaks possa continuar revelando documentos secretos sem ser tirado do ar por seus atuais inimigos.

A Operação Revanche é composta por milhares de usuários que se oferecem voluntariamente para integrar uma rede clandestina controlada remotamente, denominada "botnet".

E através desta rede, os hackers conseguem inabilitar servidores em diferentes países com total impunidade, segundo o site The poet bench.com.
Outros portais que sofreram ataques foram:o site de pagamentos PayPal, o de venda de livros pela Internet "Amazon", o de um banco suíço, bem como o principal portal do governo sueco, segundo a mesma fonte.

Os ataques dos piratas rebeldes do ciberespaço afetaram seriamente todas as compras de Natal em diversos países e desataram uma onda de pânico entre diversos setores da vida política, comercial e militar, assegura a lista de e-mails actionla@lists.riseup.net.

O vírus da liberdade da Internet

Os voluntários oferecem um software que pode ser baixado por cada computador. Este software provoca o envio de mensagens simultâneas que literalmente fazem com que os servidores colapsem durante um tempo.
No caso de as autoridades policiais revistarem os computadores dos simpatizantes do Wikileaks, eles podem alegar que foram infectados por um vírus de computador de maneira casual e não podem ser penalizados legalmente por seus ataques.

A ferramenta cibernética que utilizam anuncia, uma vez que é instalada, que "agora devem se sentar comodamente e olhar o show dos efeitos que vai provocar". As possibilidades de que alguém seja preso por tê-la instalado são nulas até agora, publica a lista de e-mails austinagainstwar@yahoogroups.com.

Muitos usuários opinam que o próximo site que eventualmente será atacado é o Twitter, já que fechou unilateralmente a conta do grupo "Anônimos", denominada "Operação Anon".

Um dos representantes dos hackers, que utilizava o pseudônimo de "Sangue Frio", ou "Coldblood" em inglês, se identificou ante os meios de imprensa como um programador de 22 anos que trabalha em Londres.

Ele assegurou que "todos os portais que se submeterem às pressões desatadas pelos Estados Unidos serão alvos dos próximos ataques no ciberespaço".

O jovem disse que o WikiLeaks é mais que um site que revela documentos e denúncias, mas que também é um novo campo de batalha onde o povo pode enfrentar seus governantes.
Em um comunicado que apareceu no Twitter, o grupo "Anônimos" colocou a seguinte mensagem:

"Olá mundo, nós somos um grupo que opera no anonimato e o que saibam ou ignorem sobre nós agora é irrelevante".

“Queremos contatar a todos, aos meios de imprensa para que conheçam nossa mensagem, intenções e alvos futuros nesta campanha pacífica pela liberdade de expressão”.

“Que a internet seja para os jornalistas honestos e os cidadãos de qualquer país independentemente do que pensem ou digam”.
“Este grupo luta por vocês e a Internet é o último bastião da liberdade neste mundo em acelerado desenvolvimento tecnológico onde todos podemos nos unir e sermos fortes”.

"Por isso querem eliminar o Wikileaks e temem nosso poder quando nos unirmos. Não somos uma organização que quer fazer justiça com suas próprias mãos, nem somos terroristas. Nunca esqueçam isto", pontualizou o grupo Anônimos.

Uma acusação risível

Assange não foi formalmente acusado de nenhum delito, mas está sendo solicitado pela INTERPOL por ter supostamente mantido relações sexuais com duas mulheres de passado duvidoso, que estão vinculadas, segundo diversos meios de imprensa, aos serviços especiais estadunidenses.

Ele continua declarando-se inocente e qualificou que este caso é como uma caçada às bruxas que se intensificou desde que o WikiLeaks divulgou internacionalmente milhares dos mais sensíveis telegramas diplomáticos secretos do governo dos Estados Unidos.

Um dos advogados da equipe de defesa de Assange, Mark Stephens, disse segundo a rede Democracy Now: "O juiz do caso não viu nenhuma evidência contra meu cliente e se aprovou uma ordem de captura somente por supostamente praticar sexo sem proteção entre adultos, o que é um deboche ao sistema judicial sueco e a toda a comunidade internacional".
Stephens expressou que: "Nestas circunstâncias, acho que veremos outra nova solicitação de fiança para meu cliente e isso será somente a ponta do iceberg do conjunto de ações internacionais que planejamos executar nos próximos dias" .

O advogado também assegurou: "Isto vai generalizar-se muito cedo, muitas pessoas vão se apresentar para servir de testemunhas ao senhor Assange. Há muitos que estão convencidos de que ele é inocente e a maioria pensa que esta acusação se deve a uma manobra por motivos notadamente políticos".
O The New York Times informou que o Departamento de Justiça investiga diferentes variantes para acusar Assange, não só com a Lei de Espionagem, mas também por conspiração e tráfico de documentos secretos furtados.

Por Sivio Gonzáes, da Prensa Latina

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

No Rio, massacre e espetáculo são o novo significado de ‘segurança pública’

"Segundo a investigadora Vera Malaguti, o inimigo público número um está sendo esculpido tendo por modelo o rapaz bisneto de escravos, que vive nas favelas, não sabe ler, adora música funk, consome drogas ou vive delas, é arrogante e agressivo, e não mostra o menor sinal de resignação" (Eduardo Galeano, De pernas para o ar: a escola do mundo ao avesso).


Desde domingo passado (21/11/2010), quando surgem os primeiros incêndios de veículos nas ruas do Rio de Janeiro e a imprensa dá início à cobertura dos fatos, uma voz vem repercutindo e crescendo acima do burburinho e do bombardeio – o outro bombardeio, o das imagens, estáticas ou dinâmicas, que vêm de todas as direções. Parece existir uma esperança no ar, algo semelhante àquele sentimento que paira em final de copa do mundo, de que, desta vez, sim, a vitória está garantida!


Diz-se que a vitória em questão é a da guerra contra o crime, em especial, o tráfico de drogas, o mais hediondo de todos, encarnado pelo inimigo público nº. 1, aquele que convoca todos os ódios, medos e paixões.


Percebe-se em transmissões de rádio e TV uma entonação diferente na voz, um olhar diferente, outra respiração, uma adrenalina, certa dose de euforia, embora contida, na pronúncia de trechos inteiros de um discurso carregado de armamento mortal contra o traficante das drogas ilícitas, uma verdadeira descarga de metralhadora como esta: "Acuados centenas de criminosos, operação prossegue, 450 homens do BOPE e das polícias Militar e Civil do Rio, com apoio inédito de veículos blindados da Marinha, provocou a fuga de centena de criminosos da Vila Cruzeiro"... Tudo parece indicar um final feliz, vence o mocinho e o bandido é eliminado.


Surge no horizonte um outro Cabral que refunda (palavra que voltou à moda recentemente) um marco histórico e promete, a partir do Rio, (re)descobrir um novo Brasil em meio aos escombros da batalha contra o crime. Esse Cabral é jovem, cheio de testosterona, como todos os corpos machos envolvidos, heróis ou bandidos desta guerra. Chama a bandidagem para a briga, diz que não vai recuar, não tem medo de terrorista. A ênfase que a imprensa tem dado a esse Cabral não é a de líder de um governo estadual com "estratégias bastante distintas do padrão vigente", como Cláudio Beato escreveu na Folha de São Paulo (26/11/2010, página A-3).




Estão dizendo na TV que os brasileiros querem blindados e tanques de guerra para defender a "sociedade dos ataques dos criminosos". E esses brasileiros existem e para nos provar sua existência são levados para a tela da TV. Formam, certamente, a tal maioria numérica (grupo que, sozinho, está em quantidade superior à metade do grupo inteiro) necessária para emplacar um plebiscito pela pena de morte, por exemplo. Despontaram na telinha pessoas que estão acreditando nisso, precisam acreditar, que as Forças Armadas vencerão a guerra contra o tráfico. Houve um cidadão que chegou a manifestar expressamente sua crença de que "no fim, o bem vencerá o mal". O que estão pedindo os moradores das próprias áreas ocupadas pelas tropas e blindados? Exatamente isso, tropas e blindados! Nunca a voz da favela ecoou tão diretamente ou repercutiu de forma tão imediata junto ao Poder Público. Vocês querem o BOPE? Vocês querem o exército e a marinha? Pois tomem BOPE, tomem exército, tomem marinha! Não é a segurança um direito do cidadão? Na linguagem mercadológica: satisfação total do cliente! As mortes de crianças, idosos, jovens, homens e mulheres não diretamente envolvidos são efeitos colaterais do combate necessário.


Ora, mas essa é a fala dos que querem fazer da segurança pública a máquina para matança de brasileiros pobres, traficantes ou não traficantes, bandidos ou mocinhos! Esse discurso pode se voltar facilmente contra UPPs, contra polícia cidadã, pode minar condições para construção de qualquer coisa distinta do BOPE e reverter as possibilidades de tratamento da questão da violência na linha dos direitos humanos.


Hoje eu ouvi no rádio um comentarista dizendo que Forças Armadas são treinadas para matar o inimigo e, portanto, "se todos querem as Forças Armadas nesse conflito, que depois não venham chorar os cadáveres espalhados".


Sinto-me mal, dói a cabeça, o estômago arde, fico indignada... Discuto sozinha na sala, em frente à TV... O Merval Pereira também entende de segurança pública! Estamos salvos... E eu que nem sabia dessa... Já cheguei a pensar que ele era o dublê de voz do Alf, o ETeimoso , mas – quem diria! – não sabia de sua expertise em estratégias contra o crime. Acaba de sugerir o corte de todo e qualquer tipo de comunicação, com o mundo externo, dos líderes do tráfico que saíram de Catanduvas para Porto Velho.


E se a queima de automóveis não for por causa das UPPs? E se as milícias tiverem uma função mais importante nesse cenário?


Entretanto, não é implausível que traficantes dos morros do Rio reajam desta forma se estiverem diante da dificuldade de sobrevivência dos pontos de comercialização da cocaína ou, pior, na iminência de perder o controle sobre a venda da droga proibida.


(Aos traficantes "incluídos", aptos ao exercício do consumo graças ao negócio lucrativo da cocaína, não interessa a descriminalização, porque outra é a lógica do mercado lícito, onde reassumirão o status de simples excluídos da ordem legal – dominada que é pela elite financeira, pelos ricos que podem consumir qualquer droga ilícita ou comercializá-la impunemente).


Como será que reagiriam, por exemplo, os empresários do fumo e do álcool se, por qualquer razão, absurda razão, fossem ameaçados de perder seu business? A diferença entre ambos, além, é claro, do selo de licitude/ilicitude do produto comercializado, é que o primeiro negócio gera muito mais dinheiro e movimenta uma outra indústria da morte, a das armas e munições.

Algum dia talvez se possa desmanchar esse falso consenso de que o proibicionismo penal, com a produção de cadáveres, culpados ou inocentes, vai derrotar o tráfico e deixar o Rio de Janeiro – e o resto do mundo – livre da droga. Hoje já se percebe alguma tolerância em relação à maconha, fala-se em consumo recreativo de maconha na Califórnia, a maconha é cultivada na Califórnia. Está deixando de ser negócio de índio e está virando negócio de branco. Não demora a sair a legalização...

Essa guerra não é nossa. Não é carioca, não é brasileira e nem sulamericana. Que me desculpem certas personagens da nova esquerda punitiva, limpinha, engomadinha e que não fala palavrão, é injustificável o investimento de tantos recursos a serviço na eliminação física dos pobres. Massacre não significa mais segurança pública, é apenas o serviço do business dos equipamentos e tecnologias de segurança produzidos pelos países ricos. Essa guerra não existe para acabar com a droga. Jamais terá fim essa guerra infinita. Somente pausas, tréguas, intervalos. É para ser consumida no formato novela, seriado. Trata-se da guerra pela guerra, um outro bom negócio que não pode acabar, neverending war...




Produto altamente rentável no mercado, a guerra também é sensacional. Ela consome armamento e tecnologia e vende cinema, novela, jornal, cultura para a massa. Imagens reais e fictícias. A guerra vende sensação. No fim, a guerra é do mesmo partido que a droga, o partido da sensação, ela promete o mesmo que a droga.


Ainda pior que o consenso da lógica beligerante no terreno das drogas é a impossibilidade do dissenso – arrogante, violenta e antidemocrática. Por que não discutir princípio de segurança pública, ao invés de alimentar o espetáculo produtor de ethos heróicos e guerreiros, papéis historicamente destinados aos eternos derrotados, de ambos os lados, dessa estúpida guerra, os jovens pobres que vêm do mesmo lugar, uns para serem policiais e outros para serem bandidos? Não, isso não é um set de filmagem, isso é real.


É real o fogo marginal que se espalha pelo asfalto fazendo vítimas de verdade. Não é faz-de-conta o fogo oficial que sobe o morro para deixar mais corpos no chão. Ao final, a luz não vai se acender, não haverá cortinas a se fecharem sobre uma grande tela escura por onde desfilarão os créditos da obra. Não, não haverá um fundo musical, enquanto nós, passivos espectadores, mudamos de canal, do jornal nacional para a novela das oito, com a agradável sensação de que é o mundo que está mudando para melhor (ou para pior, quem sabe?). O depois será o saldo da violência, a morte, a dor, a intensificação do ódio, na sequência, o esquecimento e, com ele, outros jovens, pobres e negros, retomarão os postos dos bandidos mortos. A guerra continua, já pode recomeçar.


Essa queima de carros e ônibus praticada no palco social visível da classe média pede uma resposta imediata, é verdade, uma reação pronta, de força e manutenção da ordem. Mas é pontual, uma reação momentânea, porque não dá para transformar as forças armadas na força de segurança das cidades brasileiras, seja o Rio ou qualquer outra. Irmão invisível, grande irmão que nos vê a todos, anjo do bem que abre para nós suas janelas de ver o mundo, deixe-nos em paz com nosso sofrimento. Não nos queira convencer que essa guerra é boa, que é a única saída possível e vai nos livrar de todo mal da droga para sempre, amém.

A discussão pública corre o risco de seguir, mesmo depois do fim das recentes eleições, a mesma linha estúpida, simplificadora e maniqueísta entre o bem e o mal, no caso, a guerra ou a droga. Por favor, que se respeite ao menos o direito que as minorias (grupo que, sozinho, é menor que a metade do grupo inteiro) têm ao disssenso! 






Beatriz Vargas Ramos é advogada; foi professora assistente de Direito e Processo Penal da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atualmente leciona na Universidade de Brasília (UNB).

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sem-teto seguem em luta por moradia

A reportagem do jornal Brasil de Fato, destoante da abordagem dos grandes meios como a FSP, traz a situação das famílias ligadas aos movimentos de moradia que reivindicam a função social da propriedade. Nesse caso, locais que estão abandonados há anos e amontoam dívidas públicas. 

Michelle Amaral, do Jornal Brasil de Fato

A ocupação de quatro prédios no centro da cidade de São Paulo promovida pela Frente de Luta por Moradia (FLM) completa 43 dias nesta terça-feira (16). Com a reintegração de posse de dois destes prédios marcada para os próximos dias, as famílias permanecem em luta pelo direito à moradia.


Na última quinta-feira (11), os cerca de três mil sem-tetos das ocupações dos prédios das avenidas Ipiranga, Nove de Julho, Prestes Maia e São João realizaram uma caminhada pelo centro da capital paulista.


As famílias tentaram entregar sua reivindicação ao presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Antonio Carlos Rodrigues, e à Comissão de Direitos Humanos, mas não conseguiram. Rodrigues não estava na Câmara. A comissão estava em reunião e não permitiu a entrada dos representantes da FLM.


Os sem-teto seguiram até o Ministério Público de São Paulo, onde protocolaram um processo no qual denunciam os imóveis abandonados. “A ação pede a instalação de inquérito para investigar os prédios abandonados que não tem função social”, explica Osmar Silva Borges, da coordenação geral da FLM. Além disso, são solicitadas providências em relação ao atendimento das famílias de baixa renda que não tem moradia.


Segundo Borges, com este processo espera-se a realização de uma audiência com representantes das famílias sem-teto e autoridades municipais e estaduais para que sejam discutidos encaminhamentos em relação ao direito à moradia. O balanço que o coordenador do FLM faz é de que “o Estado está sendo ineficiente na promoção de políticas públicas voltadas à moradia”.

Reintegração de posse


Está marcada para a próxima quinta-feira (18) a reintegração de posse do prédio da Avenida Nove de Julho. Nele, encontram-se cerca de 900 sem-teto. O prédio pertence ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e, desde 1997, é reivindicado para moradia popular.


O prédio da Avenida Ipiranga teve a reintegração marcada para o dia 8, mas adiada para o dia 25 deste mês, por conta de uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). O tribunal atendeu a um pedido da Polícia Militar que alegou dificuldades na desocupação devido ao grande número de ocupantes. O prédio, de propriedade da HM Engenharia, que faz parte do grupo Camargo Corrêa, está ocupado por cerca de 1.200 pessoas, entre elas 373 crianças.


A FLM entrou com recurso para impedir as reintegrações, mas ainda não obteve resposta. De acordo com Borges, o movimento está trabalhando “na tentativa de derrubar as liminares”. “Mas é bem provável que não consigamos reverter esse quadro, porque temos um histórico de que o judiciário trabalha em favor dos proprietários desses prédios”, explica o coordenador da FLM.


Caso as reintegrações aconteçam, ele explica que as famílias não têm para onde ir. “Vamos acampar na rua, vamos montar uma favela no centro de São Paulo”, conta Borges. Segundo o coordenador da FLM, os sem-teto acreditam que “já que o Estado está dando proteção aos proprietários, não resta outra saída do que montar uma favela no centro” da capital paulista.


Reivindicações


A FLM reivindica a desapropriação dos prédios ocupados, que estão abandonados há muitos anos e possuem irregularidades ou dívidas junto ao Estado. Como também pedem a desapropriação de outros imóveis sem função social na capital paulista.


Além disso, o movimento pede a apresentação de um cronograma de atendimento em unidades habitacionais da COHAB, CDHU e Minha Casa, Minha Vida para as 1.200 famílias assistidas no programa de atendimento emergencial e Parceria Social, entre outras reivindicações.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Comunicação e Democracia

O artigo seguinte foi escrito pelo professor de pós graduação, fundador da Telesur e diretor da revista Questão e do Observatório Latino-Americano de Comunicação e Democracia (ULAC), Aram Aharonian, que faz uma análise sobre a concentração de poder que detém os veículos de comunicação, atuando diretamente para as definições de democracia e, no entanto, restringem a participação efetiva da grande maioria no processo de comunicação.

Ante tudo, devemos assumir que o tema dos meios de comunicação tem a ver com o presente e o futuro de nossas democracias, sobre a democracia não somente nos países subdesenvolvidos mas também nas nações industrializadas, que vivem hoje a grave crise do capitalismo.

Hoje em dia um tipo de ditadura midiática tenta suplantar à ditadura militar das décadas passadas na América Latina. São os grandes grupos econômicos corporativos que dominam o latifúndio midiático, que criam imaginários coletivos virtuais e decidem quem tem ou não a palavra, quem é o protagonista e quem é o antagonista, enquanto tenta que as grandes maiorias sigam afônicas e invisíveis, sem voz nem imagem.

Atualmente os meios de comunicação comerciais são os publicistas dos produtos de suas megaempresas: lhe oferecem una enorme audiência às empresas para impor suas marcas. O que se busca é conseguir consumidores ou cordeirinhos políticos e/ou religiosos, não formar cidadãos.

Neste mundo, dizia Saramago, há uma única palavra tabu, da que não se pode falar nem sobre a que não se pode discutir: democracia. A democracia segue instalada como sistema formal, sem apropriação cidadã, razão pela qual sua institucionalidade é precária. Construir democracia é construir cidadania, empoderar aos pobres, dar voz e imagem às grandes maiorias transformadas em ninguém, postergadas e ocultadas durante séculos. Com informação lixo somente se garante uma democracia-lixeira.

Há três décadas, para impor um modelo econômico e político se recorreu às forças armadas, com o saldo de milhares e milhares de mortos, desaparecidos, torturados. Hoje os meios de comunicação de massa levam o bombardeio da mensagem hegemônica diretamente à sala de nossa casa, a nossa cozinha e dormitórios, durante 24 horas por dia.

Das novas formas de poder surgidas recentemente, uma das principais é a dos meios de comunicação de massas, por seu alcance mundial e sua capacidade de influir na opinião pública, concentração de poder que limita a liberdade individual. Sob a ilusão dos mecanismos coercitivos (igreja, escola, exército, sindicatos, família) estão em crise, o controle social, manejado pelos meios comerciais, pelo contrário, se acrescenta.


Os meios de comunicação da oligarquia tem ocupado um protagonismo cada vez maior no debate público (além do óbvio desafio de mediação que se supõe devam cumprir) e praticamente passaram a ocupar o espaço deixado pelo descalabro (que eles incitaram) dos partidos políticos tradicionais. E com uma afinada orquestração a nível internacional.

Esta descomunal sintonia de vozes e imagens, resultante do virtual consenso dos poderes midiáticos – a mensagem hegemônica tem se concentrado de maneira particular em gerar dúvidas sobre o sentido, oportunidade e viabilidade dos processos endógenos e os de integração.

A resposta desde estes governos tem sido, em geral, reativa e limitada à propaganda e ao apoio aos meios públicos, que foram saqueados e privatizados durante os anos neoliberais. Não resta dúvidas da importância disso, porém é insuficiente, porque fica limitada às conjunturais prioridades governamentais.


É fácil cair presa do otimismo ingênuo. Por isso é necessário reconhecer a tarefa pendente de superar a dispersão, para que este conjunto de esforços adquira um peso específico ao compasso do movimento contra-hegemônico que se projeta por este outro mundo possível (e também imprescindível). Aqueles que durante anos temos militado na concepção da comunicação alternativa e popular não temos sabido fazer bem nossas tarefas. Vamos perdendo – por goleada– a batalha das ideias, conceitualmente e no campo de batalha.

Na última década, com os ventos de mudança que modificaram significativamente o cenário político na América Latina, em maior ou menor medida os diversos países tem procurado afirmar sua autonomia a respeito do chamado Consenso de Washington, ao mesmo tempo em que tem reativado a alternativa histórica da integração.

Atormentado pela crise econômica e política mais grave de sua história, o poderio estadunidense se vem fragilizando, o que, no entanto, não impede que trate a todo custo de retomar o controle de seu “quintal”. Para isso, acentua as tradicionais pressões bilaterais, reativa movimentos de guerra (ampliação de bases militares, deslocamento da IV Frota, etc.), propicia operações de desestabilização midiático-psicológicas (terroristas) contra governos considerados “inimigos” (golpe de Estado em Honduras , e tentativa no Equador, após os frustrados na Venezuela e na Bolívia), multiplica os fundos de “ajuda” aos setores opositores destes governos e um longo etcétera.

Tudo isto, sob os parâmetros cada vez mais afinados da chamada guerra de baixa intensidade (ou de quarta geração) que basicamente aponta a ganhar os corações e as mentes da população.

Virou moda falar da necessidade de retirar as cercas dos latifúndios midiáticos e do chamado terrorismo midiático. E muitas vezes isto não passa de consignas ou, pior ainda, de lamentos, que incluem declarações instando a modificar legislações, sem estabelecer com precisão os objetivos que se buscam. Não temos podido passar da etapa de resistência ao neoliberalismo, à de construção de novos paradigmas e novas sociedades. Em geral, seguimos paralisados pela “síndrome do encurralado”.

Nosso principal problema, de latino-americanos, é que temos estado cegos de nós mesmos: sempre nos vendo com olhos estrangeiros. E o seguimos fazendo desde governos e desde os movimentos sociais, copiando formas e conteúdos. Recitamos “sul”, declamamos “integração”, porém a realidade é que nós sequer nos conhecemos.

Por isso dentro desta luta está a necessidade de que os programas de integração regional (Unasul, Mercosul, Alba, etc) incorporem à comunidade como um de seus elementos constitutivos e constituintes, e situem a comunicação, cenário da disputa de sentidos entre modelos de sociedade, como um tema fundamental em suas agendas.

É fundamental reivindicar e fazer realidade o sentido etimológico da comunição, que implica diálogo, interação, intercâmbio, para construir acordos comuns, consensos, entre as partes implicadas no processo, sem que isso signifique unanimidade.

Se deve lutar pela recuperação de nossos Estados, para que desde aí se criem políticas públicas que garantam os processos de participação dos povos com suas diversidades, saberes e expressões organizativas, impedindo monopólios e oligopólios e regulando a ação dos que exercem a comunicação como negócio e não como serviço público e direito social.

Existem fortes resistências, especialmente nos países desenvolvidos e no establishment de nossos países, para enfocar o tema em sua verdadeira dimensão, porque não interessa repensar os meios na sociedade midiática, já que isso exige refletir sobre a democratização da comunicação e a própria democracia.
Os conglomerados midiáticos reacionam corporativamente para evitar um debate público sobre o papel dos meios no exercício da cidadania e preferem substituí-lo por uma espécie de discussão privada no âmbito profissional e/ou acadêmico, de costas à cidadania, em busca de soluções técnicas cosméticas.

Devemos ter claro que viemos sendo treinados para pensar que comunicação alternativa significa comunicação marginal. Porém hoje devemos mudar estes paradigmas e assumir que a única forma de planejarmos a batalha das ideias, é com uma estratégia comunicacional massiva, que seja realmente alternativa ao bombardeio constante, hegemônico, que nos chega desde o Norte e se instala no Sul.

Para além do suporte utilizado, os chamados meios alternativos –ou talvez seja melhor chamá-los de populares- se movem numa faixa de modalidades segundo contemplem maior ou menor participação dos cidadãos, maior ou menor democracia em seu funcionamento e tipo de relação com elementos potencialmente manipuladores, como a publicidade e as administrações.

Todavia em muitos países de nossa América se criminaliza a chamada imprensa alternativa e sobre tudo às rádios e televisoras comunitárias, independentes, camponesas, indígenas. Por isso, a construção de uma comunicação contra- hegemônica é tarefa de todos - Estados, pessoas e organizações sociais -, desde baixo. Porque desde cima, o único que se pode construir... é um poço.

Doze temas a levar em conta:

Há vários temas a ter em conta para analisar a realidade comunicacional de nossas novas ou renovadas democracias:

1) Nosso principal problema é que temos estado cegos de nós mesmos: siempre nos temos visto com olhos estrangeiros. E o seguimos fazendo: copiando formas e conteúdos. Recitamos “sul”, declamamos “integração”, porém a realidade é que sequer nos conhecemos.

Para começar a ver-nos com nossos próprios olhos é necessário visibilizar às grandes maiorias, à pluralidade e diversidade de nossas nações e regiões, recuperar nossa memória, nossas tradições. Porque um povo que não sabe de onde vem, dificilmente sabe aonde ir, e, assim, o destino sempre lhe será imposto desde fora

2) É necessária a mudança de paradigmas. Temos sido treinados para pensar que imprensa alternativa significa comunicação marginal. Hoje sabemos que a única forma de propor a batalha das ideias é com uma estratégia comunicacional massiva, que seja realmente alternativa ao bombardeio constante, hegemônico, que nos chega desde o Norte.

Temos sido treinados para crer na imparcialidade e na objetividade: sim devemos ser objetivos (não entendido como neutros) porém nunca imparciais. O jornalismo é propaganda objetiva, quer dizer, com checagem de fontes. Sem este último requisito estaríamos ante uma simples propaganda em sentido amplo ou outro tipo de relato.

Os meios comunitários são um passo no caminho à democratização, porém, por si mesmos não são suficientes. Podemos ter centenas de meios comunitários, porém se 90% da audiência e dos meios está controlada por uma estrutura monopólica dos meios corporativos comerciais, pouco será o que teremos avançado na direção da democratização.

3) Precisamos ter consciência de que a batalha contra o terrorismo midiático é parte da guerra cultural, da batalha das ideias. É uma guerra que não se esgota em palavras de ordem, mas para a qual há que se preparar adequadamente, e abandonarmos o voluntarismo. Para isso devemos nos apropriar da tecnologia, aprender a usá-la melhor –ou tão bem - como o inimigo e, sobretudo, ter claro para que queremos estas armas, a fim de que, definitivamente, não se somem ao arsenal hegemônico contra os nossos próprios povos. Capacitação e profissionalização são as palavras de ordem e por isso devem ser democratizados os programas de formação em comunicação em todos os níveis, incluindo mudanças curriculares nas universidades para ajustá-los às realidades da região e para fortalecer a integração e a unidade.

4) Há mais de 25 anos o informe Mc Bride da UNESCO sublinhava a necessidade de tomar medidas jurídicas eficazes para: a) limitar a concentração e a monopolização; b) conseguir que as empresas transnacionais acatem os critérios e as condições específicas definidos na legislação e na política de desenvolvimento nacionais; c) inverter a tendência à redução do número de responsáveis quando está aumentando a eficácia da comunicação e a dimensão do público; d) reduzir a influência da publicidade sobre a redação e os programas de radiodifusão; e) aperfeiçoar os modelos que permitem fortalecer a independência e a autonomia dos órgãos de informação em matéria de gestão e de política de redação, independentemente que sejam privados ou públicos. Este diagnóstico, lamentavelmente, se mantém três décadas depois.

5) Os direitos humanos não podem existir sem a liberdade de palavra, de imprensa, de informação, de expressão. A transformação destas liberdades em um direito individual ou coletivo mais amplo a comunicar é um princípio evolutivo no processo de democratização.

6) É fundamental a proteção e o fomento da pluralidade de opiniões e da diversidade cultural e linguística, a democratização dos meios de comunicação, e a defesa e divulgação dos bens comuns de conhecimento mundial, como parte do domínio público.

A variedade de culturas e idiomas que se conservam ou transmitem através da tradição oral ou de diversos meios de expressão, nutrem as sociedades da informação e a comunicação e contribuem para o acervo do conhecimento que é a herança do ser humano e a origem da criação de toda nova descoberta.

7) A digitalização por si mesma não significa a democratização do espectro televisivo ou radioelétrico, se não se muda o sistema de concessões de frequências. A implementação destas mudanças não depende somente de reconversões tecnológicas, mas principalmente de decisões políticas. Por isso é necessário assegurar o acesso e utilização universal das tecnologias da informação.

8) O espectro radioelétrico é um patrimônio da humanidade e os Estados são soberanos em sua administração, em função do interesses nacional e geral. É uma falácia a ideia de que são proprietárias do espaço radioelétrico as empresas, nacionais ou transnacionais, que têm a concessão de uma frequência. Diante disso, é necessário lutar para que o espaço radioelétrico se divida em três partes: uma para o estado, outra para os meios comerciais e uma para os movimentos sociais, as universidades, os sindicatos, para isso que chamamos o espaço público.

9) A luta pela democratização passa pela reconstrução do espaço público, que foi privatizado e esvaziado durante décadas na ofensiva neoliberal. O espaço público é aquele que reúne os meios estatais, regionais, educativos, universitários, legislativos e comunitários, e que aposta não à formação de consumidores ou cordeirinhos políticos ou religiosos, mas que contribui à formação de uma cidadania e identidade comum latino-americana.

10) A comunicação é fator articulador chave para o reencontro e a solidariedade de nossas nacionalidades, que implica no reconhecimento de um destino comum por cima de rivalidades reais ou forjadas.

Por isso se torna indispensável formular uma estratégia de cooperação específica entre os povos para os âmbitos da informação, comunicação, cultura e conhecimento, contemplando acordos para potencializar as redes regionais de informação e comunicação pública e cidadãs, com um sentido de equidade em a respeito dos meios de comunicação.

11) É cada vez mais necessária a auditoria social dos meios comerciais (e talvez também dos estatais) de comunicação social, que se converteram no principal poder, por cima dos outros três clássicos – executivo, legislativo e judiciário. É necessária a criação do quinto poder, o do cidadão, para fiscalizar os quatro anteriores.

12) Para ostentar políticas de comunicação adequadas, os movimentos sociais e sindicais devem ter claro para que os querem, assumir quem são os destinatários das mensagens e capacitar-se tecnológica e profissionalmente para criar conteúdos com formas e vocabulários que visibilizem os trabalhadores, suas vidas, suas memórias, com especial atenção às mulheres como atrizes. Os sindicatos são reativos aos acontecimentos a nível social ou político, porém em general carecem de uma proposta (de solução).

Se deve passar da imprensa-propaganda a produzir comunicação, e isso somente se logra com capacitação e profissionalização. Para dentro, uma comunicação útil e formadora não somente em temáticas reivindicatórias, para fora uma nova imagem de sindicalismo, como ator político e social, de classe, e uma recuperação de valores como a igualdade, a solidariedade, a justiça, o esforço coletivos, frente aos valores neoliberais como o consumismo, o individualismo, a mercantilização dos próprios valores…

Os sindicatos devem e podem exercer uma nova liderança intelectual e política e têm todo o direito (e até a obrigação) de usar todas as plataformas comunicacionais: dos cartazes às redes sociais, a rádio e a televisão. O uso das tecnologias permite aos trabalhadores superar o anonimato e o desconhecimento de muitas realidades sociais. Há novas técnicas, como o protesto virtual, o videossindicalismo, o ciberativismo, a formação online e a informação digital, que estão à ordem do dia no cardápio que deve ser proposto.

13) De nada serve ter meios novos, novas emissoras de rádio e televisão, se não tivermos novos conteúdos, se seguimos copiando as formas hegemônicas. De nada servem se não acreditamos na necessidade de nos vernos com nossos próprios olhos. Porque lançar meios novos para repetir a mensagem do inimigo, é ser cúmplice do inimigo. Temos de trabalhar para criar fábricas de conteúdo, que nutram a rádios e televisoras do Sul. Se não, estaremos condenados a ver as comédias enlatadas e Walt Disney pelo resto dos nossos dias…


Publicado originalmente na Ancool (Agencia de Notícias Nova Colômbia) - Brasil

domingo, 31 de outubro de 2010

A televisão no Brasil

Na próxima semana o Clube de Cultura de Porto Alegre (RS) inicia o ciclo de palestras intitulado "A televisão no Brasil".
Confira a programação:


Fonte: http://clubedecultura.blogspot.com

domingo, 24 de outubro de 2010

LibRe gaúcha no DNJ

Na tarde desse domingo (24/10) a Juventude LibRe participou do Dia Nacional da Juventude. O evento, organizado pelas Pastorais da Juventude dos Vicariatos de Porto Alegre, Canoas e Gravataí, ocorreu no Parque Eduardo Gomes em Canoas. Sob o lema "Juventude em Marcha Contra a Violência", a programação do 25º DNJ envolveu atividades eclesiais, apresentações culturais, oficinas e debates. 

 A LibRe marcou presença com uma banca de materiais de divulgação e também apresentando a iniciativa do Cinema LibRe, através de uma oficina que trouxe a discussão sobre a produção de cultura, os direitos autorais e a pirataria no Brasil. A parceria com as PJ's seguirá, envolvendo especialmente o reforço à Campanha Contra a Violência e o Extermínio dos Jovens, iniciativa fundamental para tentar mudar essa situação social calamitosa.


sábado, 23 de outubro de 2010

Grupo de Estudos: A educação para além do Capital

A Juventude LibRe do Rio Grande do Sul está iniciando na próxima quarta-feira (27/10) um grupo de estudos sobre o livro A Educação para Além do Capital, de autoria do filósofo húngaro István Mészáros. O grupo é aberto a todos que se interessam pelo tema e busca incentivar não só o estudo crítico, mas uma práxis transformadora da realidade social vigente. Estão previstos seis encontros, todos nas quartas-feiras das 17h30 às 19h30, na sala do Diretório Acadêmico da Faculdade de Educação (Campus Centro da UFRGS).

Maiores informações: juventudelibre@yahoo.com.br

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Crianças em ação: Por escola, terra e dignidade


No mês de outubro se comemora o Dia das Crianças.


A data foi oficializada na década de 1920, pelo decreto nº 4.867, de 5 de novembro de 1924.


Mas só se tornou “popular” em 1960, quando a fábrica de brinquedos Estrela, em conjunto com a Johnson & Johnson, fez uma promoção para aumentar suas vendas, lançando a "Semana do Bebê Robusto".


Desde então a criança é uma “peça chave” para o consumo. O mercado tenta manipular seus desejos para promover vendas de produtos de todo tipo.


O MST fez do mês outubro uma referência de luta das crianças Sem Terrinha.


Desde 1994, buscamos desenvolver os Encontros Sem Terrinha nos estados onde estamos organizados. Os encontros são momentos de muita mística para toda a organização, pois as crianças se envolvem desde sua preparação até a realização.


É um espaço em que as crianças levam seu jeito de lutar, brincando, aprendendo e reivindicando.


Neste ano, 15 estados realizarão encontros estaduais e regionais, reunindo mais de 12 mil crianças em todo o Brasil.


O lema que nos motivará é o que construímos ao longo de nossa história e ainda é muito atual: “Por escola, terra e dignidade!”


Do site do MST

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Tentativa Golpe Militar no Equador!

Um grupo de policiais tomou nesta quinta-feira o Regimento Quito Nº1 para protestar contra uma lei do governo que limitou os benefícios econômicos a militares.


Foram lançadas bombas de gás lacrimogêneo contra o presidente, Rafael Correa, que abandonou o Regimento nº1 após uma saída as pressas com ajuda da sua escolta, pulando um muro de aproximadamente três metros e no momento se encontra em asilo no Hospital Militar.  


Se confirma que forças armadas do país, na tentativa de golpe de estado, tomaram os principais aeroportos do país.


A população do Equador realiza diversas manifestações pelo país em apoio ao presidente.


Link ao vivo da Telesur 

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Semana de Movimentos Sociais - ECA/USP

Divulgamos aqui a Semana de Movimentos Sociais, organizada por diversas entidades, que acontecerá ao longo desta semana na ECA/USP. A Juventude LibRe defende o projeto estratégico de transformação revolucionária, a Universidade Popular, com vistas a estabelecer um estreito canal de debate e ação junto aos movimentos sociais/populares.



SABADO (18/09)


VISITA A ESCOLA NACIONAL FLORESTA FERNANDES (*inscrição no anexo 2)



Segunda (20/09):
 14-16h: Mobilização nas unidades

18-20h: Movimentos sociais, universidade e sociedade – Sergio Gomes e ILAESE


Terça (21/09)


14-16h: Arte e comunicação em luta – Coletivo audiovisual da Vila Campestina. Wellington Lopes Goes
 16h18h: SARAU

18-20h: Movimento estudantil pra quê: uma reflexão sobre nossos desafios – Virtude, Comissão organizadora da semana

20h: Chorando em terças – roda de chorinho


Quarta (22/09)

14-16h: Onde estao os negros? Movimento negro e universidade – MNU, Nuclo de consciencia negara USP, Circulo Palmarino, Quilombo raça e classe

16-18h: Do armario ou no armario! A luta LGBT – Prisma e Marcelo Daniliauskas

18-20h: Mulheres em movimento – Coletivo Dandara, Marcha Mundial das mulheres, movimento mulheres em luta


Quinta (23/09)

14-16h: A luta no asfalto- Movimentos sociais urbanos – MTST, Terra Livre, Frente de luta por moradia, MPL

18-20h: A luta na terra – Movimentos sociais camponeses e o campo brasileiro – MAB, MST, Ariovaldo Oliveira

QuintaiBreja com atrações especiais!


Sexta (24/09)

14-16h: Lutar é crime? Criminalização dos Movimentos sociais – Intervozes, Leandro L Barbosa, MNPR, MST, MTL

18-20h: Mundo do trabalho – para onde vamos depois da universidade? – CONLUTAS, Oposição alternativa da APEOSP, Sintusp, Intersindical


Marcha Global pede inclusão da erradicação de trabalho infantil nos ODMs

Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelam que cerca de 215 milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo realizam atividades laborais. Para a Marcha Global contra o Trabalho Infantil, a exploração laboral de crianças e adolescentes representa um obstáculo para a conquista dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs). É pensando nisso que a Marcha aproveita a Cúpula dos ODMs para demandar das Nações Unidas e dos chefes de Estado mais atenção no combate ao trabalho infantil.

A ideia é, no marco das atividades da Cúpula, entregar uma petição ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) solicitando mais visibilidade para a questão do trabalho infantil nas discussões do evento. Para isso, a Marcha pede o estabelecimento dos indicadores de trabalho infantil para cada um dos ODMs e a incorporação da erradicação da exploração laboral de crianças e adolescentes nos Objetivos do Milênio.


"A existência constante do trabalho infantil constitui um obstáculo para a conquista dos ODMs e, sem conquistar os ODMs, não se pode erradicar o trabalho infantil. Os objetivos de desenvolvimento para conquistar os ODMs e erradicar e prevenir o trabalho infantil estão intimamente ligados e, apesar disso, o trabalho infantil segue sendo um nono ODM invisível", alerta a Marcha.


Outras demandas são: a assinatura de recursos adequados para erradicar e prevenir todas as formas de trabalho infantil; o fortalecimento dos programas de desenvolvimento; e a vinculação do processo de monitoramento e revisão dos ODMs com o Plano de Ação para conseguir a erradicação das piores formas de trabalho infantil para 2016.


"Ainda que não esteja mencionado explicitamente nos oito Objetivos, a erradicação do trabalho infantil é, no entanto, tão crítica quanto os outros e vai para lá dos temas de todos eles. Enquanto milhões de meninos e meninas se veem obrigados pela pobreza e outras circunstâncias a situações de trabalho explorador, então o número daqueles que estão fora da escola seguirá crescendo", considera.


Cúpula dos ODMs


Entre os dias 20 e 22 de setembro, representantes de Estados Membros da ONU estarão em Nova Iorque, Estados Unidos, para a Reunião Plenária de Alto Nível da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.


Convocado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o encontro terá o objetivo de acelerar os avanços para a conquista dos ODMs até 2015. "Nosso desafio atual é acordar uma agenda de medidas para conquistar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio", disse.


A Cúpula consistirá em seis reuniões plenárias, duas a cada dia. Simultaneamente, acontecerão seis mesas redondas sobre os temas: "O problema da pobreza, da fome e da igualdade entre os gêneros"; "Cumprimento dos objetivos em matéria de saúde e educação"; "Promoção de desenvolvimento sustentável"; "Questões incipientes e evolução dos enfoques"; "Atenção às necessidades especiais dos mais vulneráveis"; e "Ampliação e fortalecimento das associações de colaboração".


Para assinar a petição da Marcha Global contra o Trabalho Infantil, acesse: http://www.globalmarch.org/


Mais informações sobre a Reunião da ONU sobre ODMs em: http://www.un.org/es/mdg/summit2010/index.shtml


Escritor por Karol Assunção, do Adital

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

CCLCP e Refundação lançam proposta de Programa de Governo

“Os comunistas apóiam, em toda parte, qualquer movimento revolucionário contra o estado de coisas social e político existente. Em todos esses movimentos, põem em primeiro lugar, como questão fundamental, a questão da propriedade, qualquer que seja a forma, mais ou menos desenvolvida, de que se revista. (...) trabalham pela união e o entendimento entre os partidos democráticos de todos os países. Os comunistas não se rebaixam a dissimular suas opiniões e seus fins.”.
Marx e Engels, Manifesto do Partido Comunista
 
 
A Corrente Comunista Luiz Carlos Prestes e a Refundação Comunista acabam de lançar um documento público contendo uma "Proposta de Eixos e Desdobramentos para um Programa Nacional de Governo". As proposições foram endereçadas à Plínio de Arruda Sampaio - candidato à Presidência da República apoiado pelas duas organizações - e também aos partidos, organizações e movimentos do campo popular, bem como a todos os revolucionários, democratas e progressistas.
   
Para acessar o documento na íntegra, basta clicar aqui ou através do blog da Refundação.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pastorais promovem campanha contra o extermínio dos jovens

As Pastorais da Juventude do Brasil estão impulsionando a Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio de Jovens. A iniciativa, que visa unir forças na defesa da vida da juventude, é "uma ação articulada de diversas organizações para levar a toda sociedade o debate sobre as diversas formas de violência contra a juventude, especialmente o extermínio de milhares de jovens que está acontecendo no Brasil. Com isso, a Campanha objetiva avançar na conscientização e desencadear ações que possam mudar essa realidade de morte."

No nosso país os jovens são as maiores vítimas da violência, que atinge majoritariamente os pobres e negros. Por isso, são urgentes as iniciativas que busquem atacar esse grave problema social, fruto de um modo-de-produção que deixa bilhões de pessoas à margem do direito aos bens produzidos por toda a sociedade. A Juventude LibRe convida todos a conhecerem essa campanha e estará somando esforços com todas as organizações juvenis que se disponham a participar de ações voltadas a esse tema.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

As juventudes e o projeto popular

O retrato da juventude brasileira evidencia além dos projetos de classe, as intenções manifestas por cada corrente tanto na concepção, quanto no que fazer apresentado a este grupo social pertencente à classe trabalhadora.

Façamos um breve exercício de entender a situação concreta deste grupo na educação, para depois, imersos nos principais elementos reflexivos, pensarmos o inédito viável deste grupo.

1. Os dados sobre juventude e educação brasileira

Segundo o documento de IPEA de 2008 "Juventude e Políticas Sociais no Brasil", a população de 15 a 29 anos corresponde a 27,4% da população total. Existem 51 milhões de brasileiras(os) nesta faixa etária.

Com relação à educação tanto em termos de acesso quanto de permanência, os dados são alarmantes para se pensar o futuro da nação.

34% da população dos 15 aos 17 anos ainda não concluíram o ensino fundamental; apenas 12,7% dos jovens de 18 a 24 anos têm acesso ao curso superior.

Além disto, 83% dos jovens de 25 a 29 anos e 66% de 15 a 17 anos deixaram de estudar. O número de idas e vindas aos bancos escolares também chamam a atenção: os que pararam somente 1 vez representam 61,6%; 2 vezes 20,1% e 3 vezes ou mais 16,7%.

Quase 70% destes jovens pensam ser possível retornar à escola, assim que as condições objetivas de sobrevivência o permitir.

Outro foco importante sobre a diversidade da juventude se refere à situação do jovem do campo e da cidade.

Enquanto nas cidades vivem 84,9% dos 51 milhões de jovens do país, no campo residem 15,1%.

Para o campo se amplia a precarização das condições de vida e os elementos como acesso, permanência e pertença jogam outros olhares sobre o debate do ser e sentir-se jovem.

A questão agrária, a posse da terra, o crédito, a agricultura familiar, o campesinato como classe e o uso da tecnologia subordinada à concepção de terra e de humano, são alguns dos temas a serem debatidos por estes jovens no seu contexto de vida específico.

O nível de escolaridade do jovem do campo é 50% inferior ao da cidade e o grau de analfabetismo chega a 9% nesta população


2. O debate teórico sobre o tema

Em uma perspectiva crítica, falar em juventude é retomar ao menos 4 aspectos centrais que se entrelaçam.

1.A juventude como protagonista da formação de consciência. Se por um lado, são fundados valores, memórias, representações a partir do ora vivido, por outro lado, são abertas perspectivas sobre como ler o que se vive, para além do que até então se tem.

2.A juventude como historicidade. Está referido ao movimento ininterrupto de refazer-se a partir daquilo com que se encontra e para além. A historicidade demarca o terreno da ação dos sujeitos a partir da correlação de forças manifesta no cotidiano. Vai além quando o permite superar o vivido rumo a outro processo de vida a ser encarnado por ela.

3.A juventude como ser social. Aqui o centro é a disputa na produção de símbolos, códigos, imagens, de uma juventude que é formada ou para reproduzir o que já está posto na engrenagem instituída pelo modo de dominação real, ou para, questionando-o, permitir verificar o que pode ser feito para superar dito modelo.
Este conceito põe em evidêcia o individualismo apregoado como única forma possível de produção de vida, na concorrência, frente as possibilidades de relações para além do processo mercantil.

4. A juventude como consciência sobre o sentido do trabalho. Neste tema a j uventude vive outras dimensões da tensão. Ou é tomada como uma mercadoria cujo preço é estipulado por quem paga, a partir da precarização intensiva de uma formação técnica para o trabalho subutilizado. Ou é tida como possibilidade de recomposição do sentido de trabalho a partir da realização e pertença do mesmo ao grupo ao qual pertence: os trabalhadores.


3. A relação entre os dados e a teoria

Com base nos dados e nos temas centrais da discussão sobre juventude podemos ver como esta categoria é complexa, heterogênea e diversificada, fazendo uma alusão à construção de Antunes sobre o sentido do trabalho.

Complexa pela relação direta entre educação e trabalho que vai promovendo a divisão social e internacional e alocando os jovens a partir do melhor uso pelo capital do saber acumulado e apreendido deste grupo.

Jovens com carteira de trabalho e sem carteira de trabalho; jovens no trabalho informal legítimo e legal; jovens no trabalho informal ilegítimo e ilegal, entre outros.

Heterogênea pela forma e o conteúdo do ser jovem a partir do recorte étnico-racial, de gênero, de regiões e de nacionalidades.

Diversificada pela explícita diferença na concepção de cultura, do sentido do trabalho, do aspecto ético-moral e da religião. Diferenças que demarcam contextualizações distintas sobre o mesmo tema dentro deste grupo.

4. A juventude e o inédito viável

O mais viável é nos referirmos à unidade do diverso da juventude, ou seja, juventudes em movimento. O inédito neste viável é a intenção de vinculá-las na disputa pelo poder a partir da construção do sentido protagonista a ser dado a este grupo dentro de um projeto popular.

As diferenças cedem espaço à diversidade em unidade e as experiências conformam um quadro comum neste mosaico de cores, flores, pedras, territórios específicos dentro de um modelo de desenvolvimento geral.

O popular vira palco da territorialidade do poder, cujo protagonismo compartilhado vai, pouco a pouco, superando as classificações e criando um novo arranjo de sociedade em cujo poder popular dê unidade ao diverso, harmonize as particularidades no todo do projeto de classe, efetive a inclusão real deste grupo na tomada de decisão rumo à implementação da sociedade que se quer.


Escrito por Roberta Traspadini, economista, educadora popular e integrante da Consulta Popular/ ES