quarta-feira, 30 de junho de 2010

Nova chance à especulação imobiliária em Porto Alegre

RBS e Yeda voltam em nova investida contra os bens públicos

O grupo RBS e o governo Yeda não desistem. Acabaram de ser derrotados na intenção de vender o Morro Santa Teresa e agora voltam com novo projeto que pode beneficiar a especulação imobiliária.

O objeto do desejo do baronato do concreto desta vez é o velho cais do porto Mauá, no centro de Porto Alegre. Como se pode notar, eles cobiçam as áreas urbanas mais valiosas da Capital.

O engenheiro Hermes Vargas dos Santos, conselheiro do CREA/RS e membro do Sindicato dos Engenheiros (SENGE/RS) nos escreve chamando a atenção para a matéria publicada hoje em Zero Hora. Hermes aponta uma esperteza do jornal da família Sirotsky ao "omitir que será construído um prédio comercial - um shopping - junto à Usina do Gasômetro, como parte da chamada revitalização do cais Mauá".

O conselheiro do Crea afirma que o novo shopping "irá esconder a Usina, deixando à mostra apenas uma parte da chaminé". E acrescenta: "O atual projeto de revitalização portuária prevê a construção de espigões de até 33 andares (100 metros de altura) no trecho das docas, junto à Estação Rodoviária, no início da Avenida Castelo Branco. Trata-se de uma área que já está congestionada, constituindo um verdadeiro gargalo no caótico trânsito da Capital. Portanto, não possui infraestrutura suficiente para sustentar esta proposta faraônica - água, esgoto, energia elétrica, telefone e circulação viária" - completa o engenheiro Hermes Vargas dos Santos.

No contexto deste comentário, cumpre-nos informar - para quem está desinformado ou esquecido - que o grupo RBS, editores do jornal Zero Hora, detém o controle acionário e administrativo de uma das maiores incorporadoras imobiliárias do Rio Grande do Sul, a empresa Maiojama.

Indaga-se, apenas, se haveria algum nexo concreto (diríamos assim) entre este fato patrimonial e o projeto imobiliário ora em pauta.

Fac-símile parcial da página 4 da edição de hoje do jornal Zero Hora.


Publicado no Diário Gauche

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Saramago, um camarada de todas as horas dos Sem Terra do Brasil

João Pedro Stedile, José Saramago, Sebastião Salgado e Chico Buarque no lançamento do livro Terra

Por todo o mundo, se lamenta a morte do grande escritor comunista português José Saramago.

A literatura universal perde um de seus maiores mestres. De origens camponesas, apesar de ter trabalhado em diversos ofícios antes de se dedicar à escrita, Saramago nos propõe, a partir de seus romances, que reflitamos sobre alguns dos principais dilemas humanos.

Logo naquele que é considerado seu primeiro grande livro, chamado “Levantado do Chão”, nos descreve tão bem a tragédia do camponês do sul de Portugal na luta para ver a terra dividida.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sente profundamente a perda desse grande intelectual. Mas, acima de tudo, sentimos a perda de um amigo e camarada.

Amigo que sempre tivemos por perto na defesa das mesmas bandeiras de Reforma Agrária, igualdade e justiça social, sem nunca esconder a sua posição política.

Amigo do qual recebemos sempre solidariedade. Seja na forma de palavras, seja com ações concretas, como a que teve para conosco quando se somou à exposição e livro de fotografias Terra, juntamente com Sebastião Salgado e Chico Buarque, em 1997. Graças a essa iniciativa, pudemos iniciar a construção de nossa escola nacional.

Ou quando recusou, em agosto de 1999, receber o título de doutor “honoris causa” no Pará, em sinal de protesto contra o andamento do julgamento do massacre de 19 Sem Terra em Eldorado dos Carajás, em 17 de abril de 1996.

Nós, Sem Terra do Brasil, seremos sempre gratos à sua solidariedade. E nossa maior homenagem lhe prestamos por meio da nossa luta por uma vida digna para os trabalhadores rurais do Brasil e do mundo.

E assim como ele seguiremos solidários com todos os povos oprimidos, como do Haiti e da Palestina.

Suas palavras e seu exemplo continuarão sempre a incitar a nossa reflexão e luta, como essas:

O mal é não estarmos organizados, devia haver uma organização em cada prédio, em cada rua, em cada bairro, Um governo, disse a mulher, Uma organização, o corpo também é um sistema organizado, está vivo enquanto se mantém organizado, e a morte não é mais do que o efeito de uma desorganização,… (José Saramago, em "Ensaio Sobre a Cegueira").
Do site do MST

sexta-feira, 18 de junho de 2010

As muitas violências contra os moradores de rua de São Paulo

O tratamento dado pela prefeitura paulistana e o governo estadual paulista à população sem-teto a torna invisível e mais vulnerável à violência

A invisibilidade da população em situação de rua pode explicar, de uma maneira mais ampla, a chacina ocorrida na madrugada de 11 de maio, no bairro do Jaçanã, em São Paulo, quando seis pessoas que dormiam sob um viaduto foram mortas a tiros (leia detalhes na matéria abaixo).

A opinião é de Átila, ex-morador de rua e um dos coordenadores do Movimento Nacional da População de Rua. Segundo ele, é difícil dizer por que a violência contra esse setor social vem crescendo tanto nos últimos anos, mas acredita que alguns fatores são determinantes para tal comportamento. “Isso vem sendo motivado pelo incômodo que a sociedade, como um todo, sente dos moradores de rua. São pessoas mais vulneráveis, pois são invisíveis por não terem a proteção do Estado, geralmente por não terem documentos e por terem perdido seus vínculos familiares”.

Albergues fechados

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, dentre toda a população de moradores de rua de São Paulo, 79,6% fazem apenas uma refeição por dia e 19% não conseguem se alimentar diariamente.

Na opinião de Átila, essa vulnerabilidade e consequente violência acontecem porque faltam, em São Paulo, políticas públicas diferenciadas, não somente aquelas aplicadas hoje pela prefeitura ou governo estadual – que acabam discriminando a população de rua e sempre terminam na tentativa de sua remoção, sobretudo dos espaços físicos centrais, como se sua presença incomodasse ou sujasse o lugar – mas, principalmente, “políticas intersetoriais, integralistas, que incluam a saúde, tratem a questão do álcool e das drogas, atenuem a questão do trabalho e da habitação. Todos esses elementos não são abordados juntos”, lamenta.

Em 2009, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), fechou três albergues na região central, acabando com 1.154 das 8 mil vagas que existiam, conforme dados da prefeitura.

Átila pontua que as vagas não precisariam ser fechadas; a estrutura de atendimento desses albergues é que deveriam ser repensadas. “No que restou dos albergues centrais, como, por exemplo, o da Pedroso, construído debaixo do próprio viaduto Pedroso, no bairro da Bela Vista, todos os moradores de rua que chegam são colocados juntos e recebem o mesmo tipo de tratamento. Sabemos que essa população é heterogênea em suas características – há pessoas com problemas de saúde física ou mental, por exemplo –, portanto, há de existir um tratamento individual”, propõe.

“Toque de despertar”

Kassab também determinou, através de uma portaria assinada no dia 1º de abril de 2010, que a Guarda Civil Metropolitana passasse a “contribuir para evitar a presença de pessoas em situação de risco nas vias e áreas públicas da cidade e locais impróprios para a permanência saudável das pessoas”. O cumprimento dessa determinação inclui “toque de despertar”, inclusive com utilização de bombas, para impedir que a população moradora de rua possa dormir.

Diante desse quadro, para Átila, sem uma diretriz governamental que resolva ou minimize os problemas das pessoas que moram nas ruas – que, hoje, na cidade de São Paulo, formam um contingente de, aproximadamente, 14 mil pessoas, segundo dados da própria prefeitura –, a violência contra elas será difícil de cessar. “É difícil prever se teremos outras ações criminosas como essas, mas sabemos que o que está sendo feito hoje pelas autoridades leva a isso”, desabafa.

Os crimes que vitimaram os sete moradores de rua em agosto de 2004, na região da Sé, não tiveram um desfecho investigativo que chegasse aos culpados ou mandantes e suas motivações. Portanto, para Átila, fica claro que “as corporações de segurança e a população sabem que existe um movimento de policiais envolvidos nessa violência contra os moradores de rua”.

A imprensa legitimadora - Mesmo com a investigação sob sigilo, mídia levanta hipóteses para “justificar” chacina contra os moradores de rua

Das sete vítimas da chacina contra moradores de rua ocorrida na madrugada de 11 de maio, no bairro do Jaçanã, no limite entre São Paulo e Guarulhos, apenas uma mulher sobreviveu.

Segundo o delegadoLuiz Fernando Lopes Teixeira, da 3ª Delegacia de Homicídios Múltiplos do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que investiga o caso, trata-se de uma moça branca de 25 anos.

Segundo informativo lançado pelo Movimento Nacional da População de Rua, três vítimas – até o momento, ainda não identificadas – eram jovens cuja faixa etária aparentava variar entre 25 e 35 anos; dois eram de cor parda e um de cor branca.

As demais vítimas já identificadas são: Reinaldo Rodrigues Ananias (pardo, idade variando entre 25 e 30 anos), Adriano de Jesus (cor parda, 25 anos) e Manoel do Nascimento Batista Cerqueira de Jesus (negro, 25 anos, provável morador de um conjunto habitacional Cingapura).

Segundo os depoimentos das primeiras testemunhas ao DHPP, as vítimas sofreram vários disparos efetuados por quatro homens em duas motos. Os criminosos usavam capacetes e fugiram em alta velocidade, dificultando a identificação.


Mídia

Mesmo que o delegado Teixeira mantenha a investigação em sigilo, o noticiário sobre os assassinatos “revelou” que o local do ocorrido seria um ponto de tráfico de drogas e que haviam sido achados cachimbos de crack e um pó branco, que poderia ser cocaína a ser utilizada pelas vítimas. Outras versões cogitaram, ainda, que os moradores de rua teriam sido mortos por vingança, por estarem cometendo pequenos roubos e furtos e incomodando outras pessoas.

Na opinião de Átila, ex-morador de rua e um dos coordenadores do Movimento Nacional da População de Rua, a cobertura da imprensa sobre a chacina é preocupante. “A imprensa procura a conotação sensacionalista. Ela não enfoca que outros níveis econômicos da sociedade, por exemplo, também usam crack, e justifica a violência contra os moradores de rua porque eles são alcoólatras ou usam drogas”, observa.

Átila concorda que muitas pessoas habitam a rua devido a problemas com drogas, mas, “daí, dar esse desfecho, de matar em vez de tratamento, não é o certo”.

“Massacram vidas humanas em nome disso. Justificam a repressão policial e não colocam que isso seria um caso de tratamento de saúde, de se criar clínicas públicas de recuperação que os tragam [os moradores de rua viciados em drogas] de volta ao convívio social e familiar, dignamente”, conclui.

Escrito por Marcio Zonta, para o Brasil de Fato.

terça-feira, 15 de junho de 2010

De como a África do Sul vendeu-se à Fifa

Publicado no Diário Gauche

Contam os jornalistas sul-africanos que a suíte renascentista escolhida por Joseph Blatter (foto), presidente da FIFA, no Hotel Michelangelo de Sandton, tem um tapete vermelho diante da porta, do tamanho de um campo de futebol, uma “jacuzzi” decorada com estilos africanos e um minibar individual com cubos de gelo da água mineral da marca Levian.

O apartamento se encontra na cobertura de uma das torres do hotel cinco estrelas que domina o distrito econômico mais branco e mais rico de Johannesburgo.

Monarca indiscutível da república mundial do futebol, o coronel construíu sua sucessão a Havelange ao trono da FIFA com os votos da Confederação Africana e a promessa (primeiro, na Alemanha em 2000 e mantida em 2004, com a presença de Mandela) do primeiro Mundial da história do continente negro. Isso explica por que ele é uma figura tão popular na região, a tal ponto que, em um almoço de gala celebrado em Johannesburgo, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma lhe outorgou a Ordem dos Companheiros de Oliver Reginald Tambo, uma das mais honrosas do país outorgadas a personalidades estrangeiras. Tambo, junto com Mandela, foi um dos grandes lutadores contra o apartheid.

Vendo esse personagem, nunca falta alguém disposto a encontrar, na magnanimidade de Blatter, pulgas que desmascaram as falhas de sua mastodôntica máquina de ganhar dinheiro. Esse é o caso do semanário sul-africano Mail & Guardian, que nos últimos meses tratou de meter o nariz no grande negócio dos mundiais de futebol, encontrando-se com um muro elástico.

Devido à escassa colaboração do Comitê Organizador Sul-Africano (LOC), dirigiu-se a um juiz, solicitando acesso aos documentos oficiais relacionados aos contratos da Copa do Mundo, em nome da liberdade de informação. Mas, antes mesmo que o tribunal emitisse a sentença, começaram a saltar alguns detalhes embaraçosos.

Antes de tudo, as garantias concedidas pelo governo de Pretória à FIFA no momento da confirmação do Mundial, em 2004, são 17, confirmadas pelos diferentes ministros do Executivo conduzido naquela época por Thabo Mbeki, destroem a soberania do país, como se a FIFA fosse o Fundo Monetário Internacional.

Para começar, tanto a FIFA como suas sociedades e delegações estão isentas do pagamento de impostos. Entre elas a Host, empresa do neto de Blatter que administrou a venda dos ingressos do Mundial, os hotéis oficiais e os pacotes de recepção (ainda que para as federações internacionais e seus amigos assegurasse um desconto de 20% em todos os hotéis).

Não haverá restrição a ninguém quanto à importação e exportação de moedas estrangeiras. Em um país onde ninguém sem um plano de saúde privado pode ser atendido em um hospital, o governo ofereceu ao exército do coronel Blatter cobertura médica total, além de segurança privada 24 horas por dia.

Uma parcela importante das forças da ordem foi comprometida e redirecionada para o que mais urge ao coração do chefe da FIFA: proteger a exclusividade de seus sócios comerciais, os generosos e fidelíssimos patrocinadores em termos de marketing, marcas, direitos televisivos e propriedade intelectual. No caso de controvérsias legais, a África do Sul se comprometeu inclusive a pagar à FIFA uma indenização, além dos honorários dos advogados.

É inútil esclarecer que as causas levantadas contra os falsificadores e os vendedores não autorizados da logomarca do Mundial proliferaram: 450 na África do Sul, 2.500 em todo o planeta. Algumas das ações são realmente ridículas: um pub de Pretória foi acionado por ter pintado em seu próprio teto a Copa do Mundo; uma fábrica de caramelos por ter impresso na embalagem destes uma bola de futebol e a bandeira sul-africana. Os vendedores de bebidas fora dos estádios foram obrigados a transferir para garrafas neutras qualquer bebida que competisse com aquela arquifamosa das borbulhas, que há 40 anos enche as arcas da FIFA.

Contudo, o caso mais retumbante é o da Kulula, linha aérea de baixo custo, que recebeu uma carta de advertência para que retirasse imediatamente a genial publicidade veiculada nos jornais locais em fevereiro: “A companhia não oficial de vocês sabem o quê”.

Segundo a FIFA, era uma emboscada aos direitos do autor, tendo em vista a presença de vuvuzelas, bolas e bandeiras, sobre os quais o governo suíço do futebol pretende ter o copyright absoluto. A coisa apareceu rapidamente no Twitter, desencadeando debates e protestos, bem resumidos por Heidi Brauer, diretora de marketing da Kulula: ´”É uma coisa exagerada acreditar que tudo o que é relativo à Copa do Mundo pertence à FIFA: as vuvuzelas, a bandeira nacional e o futebol pertencem à África do Sul. Parece que, em troca, vendemos os símbolos e a economia ao senhor Blatter".

A Kulula finalmente retirou a publicidade, mas a raiva pelo excesso de poder concedido á FIFA está muito difundida entre as pequenas e médias empresas sul-africanas, que esperavam obter lucros com o grande acontecimento.

Alguém lembra que muitas das ações tentadas pela FIFA há quatro anos na Alemanha ainda estão pendentes (é memorável uma ação contra um padeiro de Hamburgo, que deu a seus pães a forma da Copa do Mundo).

E aqui volta ao jogo o Mail & Guardian, ao qual um juiz da Suprema Corte de South Gauteng reconheceu o direito de ter acesso aos documentos relativos aos contratos. O Comitê Organizador, que pretendia ser um organismo privado, livre da obrigação de transparência, deverá colocar à disposição do semanário, no prazo de 30 dias, a nominata das empresas que obtiveram a concessão dos contratos ganhando milhares de rands (indicando a que preço e sob que modalidade de licitação obtiveram as concessões).

“Negar esses documentos – explicou o juiz Les Monson – permitiria aos organizadores ocultar à opinião pública eventuais casos de corrupção, violação ou incompetência. Torná-los públicos demonstrará, pelo contrário, que não houve nenhuma malversação”.

O diretor do Mail & Guardian, Nick Dwes, diz que também eles, como todos os sul-africanos esperavam o Mundial com ansiedade, mas “essa vitória mostra que a liberdade de informação na África do Sul é uma lei viva e não um pedaço de papel”.

Contudo, hoje [10/6], Blatter abrirá em Johannesburgo, com magnífica pompa, o sexagésimo congresso da FIFA, para confirmar que no ano que vem ele se candidatará a um quarto mandato, já que, segundo ele, ainda não completou sua missão.


Artigo do jornalista Matteo Patrono, publicado quinta-feira passada (10) no jornal italiano Il Manifesto (de esquerda independente), muitas vezes confundido como jornal do velho PCI, dissolvido em 1991 para dar lugar a um partido social-democrata chamado Partido Democrático da Esquerda (PDS, S de Sinistra, esquerda). Este partido detém até hoje o controle do jornal L'Unità, fundado em 1924 por Antonio Gramsci, hoje, com uma linha político-editorial completamente abastardada e desfigurada.


Tradução de Renzo Bassanetti.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Camponeses repudiam doação de sementes da Monsanto no Haiti

Uma marcha realizada na última sexta-feira (4), em Papay, no Haiti, comprovou que os campesinos e as campesinas deste país não estão dispostos a aceitar a doação de sementes transgênicas, fertilizantes e pesticidas, feita pela multinacional Monsanto. A marcha, que também teve a participação de ativistas de outros países, pediu ainda pela soberania alimentar e rechaçou os cúmplices da Monsanto.

Antes de iniciar a manifestação, campesinos, campesinas e demais membros de movimentos sociais plantaram, simbolicamente, sementes de milho crioulo em uma fazenda experimental do Movimento de Papaye (MPP). A intenção da cerimônia foi reformar a determinação em utilizar apenas sementes locais orgânicas e consumir alimentos saudáveis. Por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente (5), também foram plantadas árvores.

A marcha partiu do centro de formação do MPP e seguiu até Hinche. Foram 7 Km de caminhada e de reivindicações para exigir respeito à soberania alimentar do Haiti e para demonstrar repúdio à Monsanto e a todos os que estão ao seu lado apoiando a inserção de sementes transgênicas no país.

Os manifestantes levavam blusas vermelhas e chapéus onde se podia ler frases de repúdio como "Abaixo Monsanto" e "Abaixo Preval". Além disso, chamavam a atenção nas ruas com gritos e o som de tambores e instrumentos de sopro. De acordo com a Via Campesina Caribe, além do repúdio à Monsanto, os manifestantes utilizaram o momento para demonstrar sua insatisfação com a atuação política do presidente René Preval e do primeiro ministro Jean Max Bellerive. Ambos são acusados de serem "cúmplices do imperialismo ao vender o patrimônio nacional do país".

Durante a marcha, também foi lida a declaração final, escrita pelas organizações campesinas haitianas e demais movimentos sociais do país, durante convocatória. A leitura do documento foi seguida por mais um ato simbólico: a queima do "presente mortal" doado pela Monsanto ao governo haitiano. Após isso, foram distribuídas aos participantes sementes crioulas de milho e vários tipos de feijão.

Além da manifestação pelas ruas de Hinche, na quinta-feira (3), foi exibido pela Igreja Católica um documentário esclarecendo os impactos negativos que regiões como a América Latina podem sofrer ao utilizar os produtos da Monsanto. Também foi informado sobre o apoio que a multinacional recebe da Administração para o Controle de Alimentos e Remédios dos EUA (FDA, por sua sigla em inglês) para disseminar os seus produtos pelo território americano.

Diversas organizações demonstraram solidariedade com a luta do povo haitiano. Em comunicado, a Via Campesina Brasil descreveu a indignação por saber que a multinacional Monsanto, produtora de mais de 90% de todos os transgênicos plantados no mundo, está se aproveitando da vulnerabilidade do Haiti após o terremoto de 12 de janeiro.

"A doação das 475 toneladas de sementes de milho e hortaliças pode ser divulgada como uma ação de generosidade da Monsanto com o povo haitiano. Mas conhecendo o histórico desta multinacional, como conhecem os que fazem parte da Via Campesina Brasil, temos a certeza de que se trata de uma infame tática empresarial para o aumento inescrupuloso de suas ganâncias. Ganâncias que obterão a custo da exploração de famílias campesinas assim como também à força de destruição da soberania alimentar do Haiti", assinalou a Via Campesina Brasil.


Presente mortal

A doação da Monsanto, de 4 milhões em sementes híbridas de milho e hortaliças, foi aprovada há pouco meses pelo Ministério da Agricultura do Haiti. A justificativa foi de que os agricultores corriam o risco de não conseguir sementes de qualidade para semear na próxima safra. Dois carregamentos com 60 e 70 toneladas de sementes já chegaram ao país. Mais 345 toneladas devem ser distribuídas aos camponeses nos próximos 12 meses.

Por Adital.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

ONU condena ação israelense e pede investigação imediata

Segue abaixo o reporte da Agência Brasil de Fato em relação aos ataques cometidos por tropas israelenses contra a flotilha humanitária internacional, constituindo assim violação aos Direitos Internacionais e à Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. A última ação do Netanyahu, que serviu para assassinar 10 pessoas e deixar 60 feridos, constitui um ato criminal perpetrado em águas internacionais.
Em recente comunicado, tragicamente irônico, a Netanyahu havia se comprometido a chegar a paz com a Palestina: "Queremos avançar tão rapidamente quanto seja possível através de negociações diretas, porque o tipo de problema que temos com os palestinos tem de ser resolvido em paz e isso só se pode conseguir se sentamos para conversar juntos".



O Conselho de Segurança das Nações Unidas pediu, nesta terça-feira (01), uma investigação "imediata" e "imparcial” sobre o ataque israelense contra navios que transportavam ajuda humanitária à Faixa de Gaza. A ofensiva ocorreu na segunda-feira (31) e deixou pelo menos dez mortos e dezenas de feridos.

Ao fim de uma reunião de emergência, que durou mais de 12 horas, o Conselho de Segurança condenou os "atos que resultaram na perda de pelo menos 10 vidas e deixaram vários feridos". Em uma declaração, o órgão pede "a libertação imediata dos barcos e dos civis detidos" por Israel. "O Conselho de Segurança destaca que a situação em Gaza não é sustentável", completa o texto.

A chamada "Frota da Liberdade" era composta por seis embarcações e transportava mais de 750 pessoas e 10 mil toneladas de ajuda, como remédios e mantimentos, para os palestinos.

Em entrevista à rádio pública do país, o alto funcionário do ministério do Interior de Israel Yossi Edelstein afirmou que 45 dos 686 passageiros detidos aguardam deportação. "Os que aceitaram ser expulsos sem problema foram levados ao aeroporto Ben Gurion de Tel Aviv", explicou.

Posição

Em entrevista à agência Efe, o porta-voz do Ministério de Exteriores israelense Yigal Palmor afirmou que a condenação da ONU é "precipitada, sequer houve um tempo de reflexão para considerar todos os fatos".

Além disso, Palmor acusou o órgão internacional de "hipocrisia". "Esta condenação constitui um gesto automático baseado unicamente em determinadas imagens televisivas e não em um conhecimento dos fatos, além de uma dose impressionante de hipocrisia", declarou.

Em comunicado oficial divulgado nesta terça-feira, o governo de Israel reafirma sua posição em relação aos ataques. As autoridades israelenses acusam os passageiros dos navios de terem provocado o incidente e informaram que pretendem continuar a examinar as mercadorias que entram na região para evitar o fluxo de armas.

Condenações

Além da ONU, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a União Europeia também condenaram a ofensiva e pediram a libertação imediata dos ativistas e dos navios.

A Liga Árabe convocou uma reunião para esta terça-feira, mas a Jordânia e o Egito, que mantêm acordos de paz com Israel, já condenaram duramente a violência. Segundo a agência de notícias Mena, a oficial do Egito, o presidente Hosni Mubarak ordenou a abertura da fronteira do seu país com a Faixa de Gaza, em Rafah, permitindo a entrada de ajuda humanitária no território palestino.

O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, classificou o episódio como um "massacre" e decretou três dias de luto nos territórios palestinos devido ao ataque israelense.

Para o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, Israel deveria ser "punido" pelo "massacre sangrento" contra os ativistas e que a ação foi "um ataque ao Direito Internacinal, à consciência de humanidade e à paz mundial".

Na América do Sul, também houve condenações ao ataque. Após lamentar a morte das vítimas e pedir à ONU que tome decisões imediatas “que levem à paz justa e duradoura na região”, o governo da argentina Cristina Kirchner divulgou um comunicado oficial afirmando: "O governo argentino condena o ataque perpetrado em águas internacionais por forças israelenses contra a 'Frota da Liberdade', de bandeira turca, que transportava ajuda humanitária para a Faixa de Gaza."

Por meio do Ministério das Relações Exteriores, o governo chileno disse "deplorar a violenta reação" e condenou "o uso da força em todas as suas formas e especialmente neste caso", que deixou "mortos e feridos entre tripulantes e passageiros civis de embarcações".

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também se manifestou, condenando “energicamente o brutal massacre cometido pelo Estado de Israel". Segundo o comunicado emitido pela chancelaria venezuelana, houve uma "ação de guerra empreendida pelo exército israelense contra civis indefesos que tentavam levar ajuda humanitária ao povo palestino de Gaza sujeito ao criminoso bloqueio imposto" por Israel.

Também em nota, o governo do Paraguai expressou "sua mais enérgica rejeição a todo tipo de agressão, da mesma forma que condena o uso de toda força que viole os princípios fundamentais do direito internacional".

A chancelaria da Bolívia também expressou "profunda consternação e condolência com as vítimas e seus familiares" e declarou que os atos de Israel constituem flagrantes violações ao Direito Internacional

Brasil

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva manifestou "choque e consternação" com o ataque, por meio de um comunicado emitido pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE).

Em nota, o governo brasileiro afirma que o representante de Israel será chamado e que o Itamaraty atuará diretamente nas buscas de informação sobre a documentarista brasileira Iara Lee, que participava da missão e está retida em uma prisão israelense.

De acordo com o Itamaraty, um funcionário da Embaixada do Brasil em Israel visitou a documentarista brasileira Iara Lee, que participava da missão e está retida em uma prisão israelense. Iara informou que as autoridades israelenses exigiram, como condição para a sua libertação, que ela assinasse termo declarando ter entrado ilegalmente no país. Ela se negou a assinar o documento, uma vez que foi presa em águas internacionais.

Desde segunda-feira, vem ocorrendo manifestações em todo o mundo em repúdio ao ataque israelense à missão diplomática. No Brasil, a Frente de Defesa do Povo Palestino realiza na tarde desta terça, em São Paulo, um ato em frente ao Museu de Artes de São Paulo (Masp), que será seguida por uma reunião ampla na Mesquita Brasil (Avenida do Estado com Rua Barão de Jaguar, no centro da cidade).