quarta-feira, 9 de junho de 2010

Camponeses repudiam doação de sementes da Monsanto no Haiti

Uma marcha realizada na última sexta-feira (4), em Papay, no Haiti, comprovou que os campesinos e as campesinas deste país não estão dispostos a aceitar a doação de sementes transgênicas, fertilizantes e pesticidas, feita pela multinacional Monsanto. A marcha, que também teve a participação de ativistas de outros países, pediu ainda pela soberania alimentar e rechaçou os cúmplices da Monsanto.

Antes de iniciar a manifestação, campesinos, campesinas e demais membros de movimentos sociais plantaram, simbolicamente, sementes de milho crioulo em uma fazenda experimental do Movimento de Papaye (MPP). A intenção da cerimônia foi reformar a determinação em utilizar apenas sementes locais orgânicas e consumir alimentos saudáveis. Por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente (5), também foram plantadas árvores.

A marcha partiu do centro de formação do MPP e seguiu até Hinche. Foram 7 Km de caminhada e de reivindicações para exigir respeito à soberania alimentar do Haiti e para demonstrar repúdio à Monsanto e a todos os que estão ao seu lado apoiando a inserção de sementes transgênicas no país.

Os manifestantes levavam blusas vermelhas e chapéus onde se podia ler frases de repúdio como "Abaixo Monsanto" e "Abaixo Preval". Além disso, chamavam a atenção nas ruas com gritos e o som de tambores e instrumentos de sopro. De acordo com a Via Campesina Caribe, além do repúdio à Monsanto, os manifestantes utilizaram o momento para demonstrar sua insatisfação com a atuação política do presidente René Preval e do primeiro ministro Jean Max Bellerive. Ambos são acusados de serem "cúmplices do imperialismo ao vender o patrimônio nacional do país".

Durante a marcha, também foi lida a declaração final, escrita pelas organizações campesinas haitianas e demais movimentos sociais do país, durante convocatória. A leitura do documento foi seguida por mais um ato simbólico: a queima do "presente mortal" doado pela Monsanto ao governo haitiano. Após isso, foram distribuídas aos participantes sementes crioulas de milho e vários tipos de feijão.

Além da manifestação pelas ruas de Hinche, na quinta-feira (3), foi exibido pela Igreja Católica um documentário esclarecendo os impactos negativos que regiões como a América Latina podem sofrer ao utilizar os produtos da Monsanto. Também foi informado sobre o apoio que a multinacional recebe da Administração para o Controle de Alimentos e Remédios dos EUA (FDA, por sua sigla em inglês) para disseminar os seus produtos pelo território americano.

Diversas organizações demonstraram solidariedade com a luta do povo haitiano. Em comunicado, a Via Campesina Brasil descreveu a indignação por saber que a multinacional Monsanto, produtora de mais de 90% de todos os transgênicos plantados no mundo, está se aproveitando da vulnerabilidade do Haiti após o terremoto de 12 de janeiro.

"A doação das 475 toneladas de sementes de milho e hortaliças pode ser divulgada como uma ação de generosidade da Monsanto com o povo haitiano. Mas conhecendo o histórico desta multinacional, como conhecem os que fazem parte da Via Campesina Brasil, temos a certeza de que se trata de uma infame tática empresarial para o aumento inescrupuloso de suas ganâncias. Ganâncias que obterão a custo da exploração de famílias campesinas assim como também à força de destruição da soberania alimentar do Haiti", assinalou a Via Campesina Brasil.


Presente mortal

A doação da Monsanto, de 4 milhões em sementes híbridas de milho e hortaliças, foi aprovada há pouco meses pelo Ministério da Agricultura do Haiti. A justificativa foi de que os agricultores corriam o risco de não conseguir sementes de qualidade para semear na próxima safra. Dois carregamentos com 60 e 70 toneladas de sementes já chegaram ao país. Mais 345 toneladas devem ser distribuídas aos camponeses nos próximos 12 meses.

Por Adital.

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