Na última terça-feira (17/091/13) a Juventude
LibRe esteve presente na palestra da ativista política Ericka Huggins, ex-lider do Black Panther Party for Self-Defense (Partido dos Panteras Negras Em Legitima Defesa),
organizada pelo recém-formado Coletivo de Estudantxs Negrxs da USP para falar de sobre
preconceito racial e sobre as classe sociais. A atividade foi o marco da fundação do Coletivo de
Estudantxs Negros da USP. Voltando à falar da Ericka, poderíamos resumi-la como
FODA, mas pra que todos saibam melhor quem ela foi tentaremos fazer um breve
resumo de sua história, e em seguida relataremos como foi a atividade.
Ericka Huggins e o Black Panther Party
Ericka começou sua militância em 1963,
participando da Marcha em Washington, e seguiu comprometida com o movimento global
pelos direitos humanos. Entrou para o Partido aos 15 anos de idade, logo largou
a escola pra se dedicar cada vez mais à sua luta (ela nos aconselhou “não façam
isso! Estudem, se apliquem e voltem às suas comunidades para ajudar os teus!”) Em 1969, aos 18 anos, ela se tornou um
dos líderes da célula do Partido dos Panteras Negras junto ao seu marido John
Huggins em Los Angeles. Três semanas após o nascimento de sua filha Mai, Ericka ficou
viúva aos 19 anos, quando seu marido John Huggins, junto com Alprentice
"Bunchy" Carter, foi morto a tiros no campus da UCLA. Mesmo com todas
as dificuldades continuou no Partido, e segue lutando até hoje. Voltou à
escola, formou-se e passou a acredita que a educação é uma arma revolucionária,
assim como a cultura.
Se perguntarmos à qualquer negro que
decidiu lutar por seus direitos uma referência, eles responderão: Partido dos
Panteras Negras - até eu responderia isso - pois mesmo com referências
nacionais como o Zumbi dos Palmares (que sim, é uma grande referência, não
podemos esquecê-lo de maneira alguma), nos Panteras temos exemplos de como
utilizar da ideologia e de noções de organizativas específicas. A
principal finalidade do grupo era patrulhar os guetos e proteger os moradores
da violência policial. Huey Newton um dos fundadores aprendeu todo o Código
Penal da Califórnia, assim, utilizavam da legislação (através de citações) e de
armas para se defender. Além disso, influenciados pelo marxismo, os Panteras
Negras defendiam o socialismo como modelo político e o aplicavam nos bairros em
que atuavam. Mais que a defesa das comunidades, o partido também mantinha
escolas de formação política e treinamento de artes marciais para crianças e
jovens, um programa de segurança alimentar para famílias mais pobres, defendiam
a isenção de impostos e um projeto de reparação financeira da “América Branca”
pelos séculos de exploração, também o fim da humilhação e genocídio da
população negra.
Centenas de pessoas e a atenção voltada à uma mulher negra. “Eu vejo
você! – Eu me sinto vista!”
Nossos
dias geralmente começam assim: Acordar cedo, fazer nossas tarefas domésticas,
trabalhos, estudos e correr contra o tempo pra sobrar um momento pra participar
de atividades maravilhosas como essa. Tomando conhecimento da atividade horas
antes, ignoramos qualquer lógica e fomos. Chegando lá o primeiro choque, o
local estava lotado, já não havia onde sentarmos, todas aquelas pessoas queriam
ver e ouvir uma MULHER NEGRA. Sentamos então nas escadarias, ao olhar pro lado
muitos negros, muitos representantes da periferia.
A emoção já começa na hora que a Ericka entra no auditório, todos a aplaudindo de pé em seguida os braços esquerdos levantados, e seus comentários inicias bem humorados criaram um ambiente familiar e aconchegante. Ela nos pede pra acolhermos nossos companheiros que ainda não estavam acomodados, e logo diz que esse é o “espírito da coisa”, sejamos como uma família então. Passa a falar sobre suas experiências pessoais e foram poucas as pessoas que conseguiram segurar o choro. Os choros vieram com a identificação, principalmente das mulheres negras que estavam presentes, mas não nos faltaram momentos pra sorrir. Ericka disse que a felicidade é necessária pra lutar “por que se não de onde vamos tirar força pra resistir?”.
Num ato de humildade fala
sobre a realidade dos negros no Brasil – sim, ela pesquisou! - Huggins cita
acontecimentos como o genocídio da juventude negra da perifeira, os sacrifícios
que os negros passam pra entrar na universidade, a perseguição à religiões de
matrises africanas. Afirma a
importância da mulher na luta contando que em certos momentos só haviam
mulheres em determinados núcleos, pois a polícia perseguia primeiro os homens.
Disse que o machismo era presente, mas eles o combatiam diariamente, mulheres
“pegavam em armas” e homens “trocavam as fraudas”. E sim, as mulheres sofriam
muito, mas não desistiam. Lutavam da mesma forma que os homens, as divergências
internas haviam e eram superadas através do dialogo.
Coloca a questão da educação como um dos carros chefes na mudança social, nos pediu que mesmo que estudemos muito, nos especializarmos, que voltemos às nossas raízes. Que não devemos esquecer dos bairros onde crescemos, que devemos lutar por melhoras lá também. Considera de todas as ações dos Panteras Negras a criação de escolas algo mágico, escolas que algumas delas existem até hoje. “Na escola ensinávamos os alunos à pensar, e não o que pensar, mesmo que isso pudesse se voltar contra nós um dia. Falávamos das história dos negros, sem mentir, nem nos lamentarmos. Simplesmente não queríamos que nossas crianças vivessem na mentira, queríamos que elas soubessem por que viviam daquela forma.”
Ericka nos fala sobre o café da manhã que ofereciam às crianças das perifeiras, conta que mesmo se estivessem cansados ou tristes, no frio ou calor, o café acontecia – “não haviam desculpas válidas”. Também nos fala sobre a distribuição de alimentos (o que no Brasil poderíamos chamar de sexta básica). Bem humorada diz que o governo passou à imitar essas ações, criaram projetos parecidos e aplicavam dentro das escolas. A palestra foi mais do que um resgate histórico da militância do negros, foi o análise da nossa realidade e a adaptação dessas lições históricas no nossos cotidianos, pois em cada assunto que ela se aprofundava ela fazia referências ao que vivemos hoje (nos mostrando que ainda existe preconceito, que ainda temos muito o que conquistar).
A emoção já começa na hora que a Ericka entra no auditório, todos a aplaudindo de pé em seguida os braços esquerdos levantados, e seus comentários inicias bem humorados criaram um ambiente familiar e aconchegante. Ela nos pede pra acolhermos nossos companheiros que ainda não estavam acomodados, e logo diz que esse é o “espírito da coisa”, sejamos como uma família então. Passa a falar sobre suas experiências pessoais e foram poucas as pessoas que conseguiram segurar o choro. Os choros vieram com a identificação, principalmente das mulheres negras que estavam presentes, mas não nos faltaram momentos pra sorrir. Ericka disse que a felicidade é necessária pra lutar “por que se não de onde vamos tirar força pra resistir?”.
Coloca a questão da educação como um dos carros chefes na mudança social, nos pediu que mesmo que estudemos muito, nos especializarmos, que voltemos às nossas raízes. Que não devemos esquecer dos bairros onde crescemos, que devemos lutar por melhoras lá também. Considera de todas as ações dos Panteras Negras a criação de escolas algo mágico, escolas que algumas delas existem até hoje. “Na escola ensinávamos os alunos à pensar, e não o que pensar, mesmo que isso pudesse se voltar contra nós um dia. Falávamos das história dos negros, sem mentir, nem nos lamentarmos. Simplesmente não queríamos que nossas crianças vivessem na mentira, queríamos que elas soubessem por que viviam daquela forma.”
Ericka nos fala sobre o café da manhã que ofereciam às crianças das perifeiras, conta que mesmo se estivessem cansados ou tristes, no frio ou calor, o café acontecia – “não haviam desculpas válidas”. Também nos fala sobre a distribuição de alimentos (o que no Brasil poderíamos chamar de sexta básica). Bem humorada diz que o governo passou à imitar essas ações, criaram projetos parecidos e aplicavam dentro das escolas. A palestra foi mais do que um resgate histórico da militância do negros, foi o análise da nossa realidade e a adaptação dessas lições históricas no nossos cotidianos, pois em cada assunto que ela se aprofundava ela fazia referências ao que vivemos hoje (nos mostrando que ainda existe preconceito, que ainda temos muito o que conquistar).
All Power to the People, não é poder ao povo e sim poder à todos os
povos... Sim, nós falamos com ela!
Representantes do movimento HIP HOP,
militantes de movimentos sociais das periferias espalhadas por São Paulo,
estudantes negros, todos puderam falar sobre suas experiências. As Mães de Maio
e tantos outros movimentos foram lembrados durante as falas. E diante disso ficou
claro, até da nossa parte que os Black Panther influenciou em muito nas nossas
vidas. Cada palavra direcionada a Ericka era retornada à quem as pronunciava
com muito carinho, e novamente as lágrimas eram inevitáveis.
“Minhas pernas tremiam (acho que meu corpo inteiro), era um tremor que vinha do coração. Minhas palavras? nem eu lembro direito, mas eu não podia perder aquela oportunidade de mostra a minha experiência como mulher, negra, periférica, jovem. Citei a militância em Cotia, agradeci à Ericka por me dar força pra continuar lutando, e disse que minha referência de luta era a Alma, também ex-militante do Partido e disse que a história do Partido em si me influenciava muito. Chorei um pouquinho – só um pouquinho ok! E sorri quando ela me disse que aquele sentimento era recíproco. Ela estava olhando pra mim, me escutando! Vocês tem noção do que é isso? No final da atividade fomos falar com ela, a abraçamos. (acho que foi isso, estava num misto de sentimentos, mas o destaque foi pro meu nervosismo, talvez depois eu me lembre de mais alguma coisa que a emoção deixou passar).” Irenita, militante da Juventude LibRe
“Minhas pernas tremiam (acho que meu corpo inteiro), era um tremor que vinha do coração. Minhas palavras? nem eu lembro direito, mas eu não podia perder aquela oportunidade de mostra a minha experiência como mulher, negra, periférica, jovem. Citei a militância em Cotia, agradeci à Ericka por me dar força pra continuar lutando, e disse que minha referência de luta era a Alma, também ex-militante do Partido e disse que a história do Partido em si me influenciava muito. Chorei um pouquinho – só um pouquinho ok! E sorri quando ela me disse que aquele sentimento era recíproco. Ela estava olhando pra mim, me escutando! Vocês tem noção do que é isso? No final da atividade fomos falar com ela, a abraçamos. (acho que foi isso, estava num misto de sentimentos, mas o destaque foi pro meu nervosismo, talvez depois eu me lembre de mais alguma coisa que a emoção deixou passar).” Irenita, militante da Juventude LibRe
Depois de todas as falas,
vimos as pessoas interagindo, como se aquele laço que a Ericka havia feio com
suas palavras tivesse sido firmado com um nó bem apertado nas falas das outras
pessoas.Muitas pessoas vieram nos abraçar, distribuíam sorrisos. Um militante
do movimento HIP HOP, de quase dois metros de altura nos abordou dizendo “Ae
parabéns, me emocionei de verdade com a fala dessa mina aí! Satisfação”.Essa
atividade foi pra muitos a renovação dos votos como um militante de esquerda.
Nos fez lembrar que a luta não é entre nós e sim contra o opressor, e que
devemos lutar bravamente todo dia e que não devemos esquecer de lutar com o
coração.
Você já
viu nos livros de história falar sobre mulheres negras? Não, não existe! Procura
na história dos negros nacional ou internacional e vocês vão ver homens.
Através de pesquisas específicas encontramos mulheres, e sempre surge o nome
"Black Panther". A Ericka, é especial. Ela é jovem, nas palavras, na
forma como lida com as pessoas (ela é mais jovem que eu!). Sua militância se
iniciou aos 15 anos de idade, mais um motivo pra nos identificarmos. Ela
mostrou que a luta é justa, válida e possível. A humildade dela também é algo
inspirador, em momento algum ela se colocou como uma pessoa superior, ela
deixou bem claro que veio da periferia e se orgulha disso e praticamente nos
intimou à escrevermos nossas próprias histórias através da luta popular. São
tantas qualidades numa pessoa tão simples, tanta beleza, tanto sentimento, que
acho que vou procurar no dicionário novas palavras pra descrever por quê a
vemos como exemplo.
Fotos: Resisto OPM
Fotos: Resisto OPM
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