segunda-feira, 26 de março de 2012

Ato Político-Escracho à ditadura militar no Brasil

A Juventude LibRe compôs o ato político em repúdio aos crimes cometidos durante ditadura militar no Brasil. A atividade se deu na forma de escracho aos assassinos, torturadores e pessoas que contribuíram com os cruéis episódios que tanto persistem na memória dos lutadores e do povo.


Em São Paulo o alvo das ações foi David dos Santos Araujo, acusado de matar, torturar e estuprar à época. Movimentos sociais como MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Via Campesina e MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) também construiram a manifestação, assim como a protagonista organização camarada Levante Popular da Juventude.

terça-feira, 20 de março de 2012

Em defesa do Rio Uruguai

Entidades ambientalistas gaúchas e movimentos sociais entregaram ao Governador do Estado do RS, Tarso Genro, no dia 14 de março, dia Nacional de Mobilização Contra as Barragens, Carta aberta sobre o impacto das hidrelétricas especialmente em relação ao Rio Uruguai. A próxima batalha é a Audiência Pública sobre a UHE Pai-Querê de Bom Jesus, no dia 22 de março. Entre nessa luta!


                                                                                 
Porto Alegre, 14 de março de 2012


Excelentíssimo Senhor Governador Tarso Genro,

 

Oba! viva! veio a enchente
O Uruguai transbordou
Vai dar serviço pra gente
Vou soltar minha balsa no rio
Vou rever maravilhas
Que ninguém descobriu
Amanhã eu vou embora pros rumo de Uruguaiana
Vou levando na minha balsa cedro, angico e canjerana
Quando chegar em são Borja, dou um pulo a Santo Tomé
Só pra ver as correntinas e pra bailar um chamamé
Se chegar ao salto grande me despeço deste mundo,
Rezo a Deus e a São Miguel e solto a balsa lá no fundo
Quem se escapa deste golpe, chega salvo na Argentina
Só duvido que se escape do olhar das correntinas
(Balseiros do rio Uruguai- Barbosa Lessa)

 

O Rio Uruguai é um elemento importantíssimo para a identidade regional. O rio está muito presente e enraizado na memória coletiva Gaúcha, como ilustrou Barbosa Lessa, enquanto um curso d’água de corredeiras, ornado de florestas, de cheias e baixas sazonais, que desafiava, em sua doma, os antigos balseiros. Mesmo assim, dele dependem ribeirinhos, pescadores, camponeses e suas agriculturas, e piracemas e os animais silvestres, em suas travessias. Hoje em dia, partes do Rio “Uruguay” e seus tributários já não contam com tantas de suas belezas, presentes nas nossas músicas, histórias e poesias. Ele já não é mais livre para correr, na sua dinâmica natural de cheias e baixas, pois tem seu volume e ciclos alterados por 6 grandes hidrelétricas que existem ao longo da bacia deste rio. Em diversos pontos do rio, hoje, pairam lagos, praticamente mortos, com águas paradas, sem os peixes característicos (dourado, grumatã, surubim, etc.) e sem a oxigenação de suas corredeiras. Mas o dourado, as corredeiras, as florestas, os pescadores e campesinos ainda vivem no rio Uruguai!

O ponto de saturação de empreendimentos hidrelétricos é uma realidade. Não é mais possível tantas barragens, impedindo o curso livre de um rio, matando a paisagem natural e a biodiversidade. Toda vez que há um leilão para definir o consórcio que irá construir um novo empreendimento em sua bacia, sentimos como se nosso Rio Uruguai estivesse sendo, ele mesmo, leiloado. E isso, infelizmente, está se tornando regra no Brasil. E para que e para quem servem essas barragens?

As usinas hidrelétricas são formas “baratas” de se obter energia, principalmente porque sua forma de produção serve ao parque exportador de matérias primas (commodities, como ferro, alumínio, cimento, etc.) de gigantescas empresas do Setor Elétrico, que usam a própria natureza do rio para seus lucros. Essas concessionárias têm sua construção financiada por dinheiro público (BNDES) (resultado, portanto, do FGTS) e, de quebra, recebem concessões de energia gerada, por até 30 anos! Ou seja, recebem muitos dividendos, produzindo muito pouco para o desenvolvimento do País e para a redução dos custos de vida do trabalhador. O preço da energia para elas é subsidiado, sendo quase dez vezes menor do que o preço pago pela população, e, ainda por cima, são levados daqui nossos recursos naturais, a preços ínfimos.

O complexo Garabi-Panambi (Brasil/Argentina), se levado a cabo, poderá afetar mais de 50 mil pessoas, inundando áreas importantíssimas de 22 municípios (Alecrim, Dr. Mauricio Cardoso, Novo Machado, Porto Mauá, Santo Cristo, Tucunduva, Tuparendi, Crissiumal, Derrubadas, Esperança do Sul, Tiradentes do Sul, Garruchos, Santo Antonio das Missões, São Nicolau, Pirapó, Roque Gonzales, Porto Vera Cruz, Porto Lucena e Porto Xavier). Em Derrubadas, temos o Parque Estadual do Turvo, e com a usina de Panambi, pelo menos 10% (1.750 ha) do parque seriam destruídos, representando mais de 2 milhões de árvores (quantidade maior do que toda a arborização de Porto Alegre.), além de afetar irreversivelmente o Salto do Yucumã, o maior salto longitudinal do mundo. Isso resultaria numa significante perda para a unidade de conservação florestal mais antiga e importante do Rio Grande do Sul, único local do estado que ainda abriga espécies ameaçadas como a onça, a anta, o tapiti, entre outros.

No vale do rio Pelotas (nascente do Uruguai), a maior ameaça é representada pela Hidrelétrica de Pai-Querê (292 MW), transformando mais de 100 km de rios com corredeiras em águas paradas. Poderia causar extinção de dezenas de peixes e organismos de águas correntes, e provocar perda de 4 mil hectares de florestas com Araucária, no último habitat do queixada (Tayassu pecari).

É bom lembrar que o alto impacto socioambiental, da maior parte dos grandes empreendimentos hidrelétricos, envolve um alto nível de exploração dos trabalhadores da construção da barragem, na maioria das vezes, vindo de regiões distantes, os quais não têm seus direitos trabalhistas assegurados. Há denúncias de trabalho escravo nos próprios canteiros de obras das represas e também denúncias de exploração sexual, nas redondezas das obras, para acalmar grande número de trabalhadores distantes de suas famílias.

Embora o Brasil tenha passado por diversas mudanças positivas no contexto das leis ambientais, desde a década 1970, as mesmas são desconsideradas nos empreendimentos em implementação pelo governo atual, uma vez que estes são pautados, em sua maioria, pelos projetos do regime militar. E isso tudo ocorre na “ante-sala” da Rio +20...

Necessitamos de Áreas Livres de Barramentos e Respeito aos avanços da Legislação Ambiental Brasileira e proteção dos Direitos Humanos! Precisamos Rediscutir a Matriz Energética Brasileira e para onde vai esta energia, buscando as alternativas de geração realmente mais sustentáveis, defendendo os ribeirinhos e a biodiversidade de nossos rios, para continuarmos a cantar as belezas das paisagens e transmitir a cultura das populações que habitam a região da Bacia do Rio Uruguai e outras regiões brasileiras.

Respeitosamente

Apedema – Assembléia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente - RS

GTUP – Grupo de Trabalho Universidade Popular

MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens

InGá – Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais

AGAPAN – Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural

ASPAN – Associação São-Borjense de Proteção ao Ambiente Natural

Comitê Gaúcho em Defesa da Biodiversidade e do Desenvolvimento Sustentável

NAT/Brasil – Núcleo Amigos da Terra/ Brasil

Mira Serra/Projeto Mira-Serra

CEA- Centro de Estudos Ambientais

UPAN - União Protetora do Ambiente Natural

Instituto Orbis

Grupo Maricá

MoGdema – Movimento Gaúcho em Defesa do meio Ambiente

Levante Popular da Juventude

União da Juventude Comunista

Juventude Comunista Avançando

Juventude LibRe – Liberdade e Revolução

Movimento Rio Uruguai Vivo

Diretório Acadêmico do Instituto de Biociências - UFRGS

sexta-feira, 9 de março de 2012

Saudação da Juventude LibRe no Dia Internacional da Luta das Mulheres

Panfleto distribuído no último dia 8 de março, dia Internacional (da Luta) das Mulheres, em que estivemos presentes no ato público que teve início com a concentração na Praça da Sé e percorreu as ruas do centro, passando pela Libero Badaró e Barão de Itapetiniga, até a chegada na Praça da República onde finalizou as atividades. Em todo percurso foram realizadas falações e palavras de ordem em homenagem às mulheres lutadoras e pelo fim da opressão de genero. A manifestação foi unificada com diversos e amplos setores de esquerda e contou com a participação de aproximadamente 5 mil pessoas nas ruas.

Saudação da Juventude LibRe no Dia Internacional da Luta das Mulheres
“Assim como estes preconizavam a apropriação pelos trabalhadores dos meios de produção, também as mulheres têm de apropriar se dos meios de reprodução, isto é, do controle dos seus próprios corpos.”(Shulamith Firestone)

Neste dia 8 de março saudamos o Dia Internacional da Luta das Mulheres, uma data histórica concebida pela iniciativa da revolucionária Clara Zetkin, em 1910, no II Congresso Internacional das mulheres socialistas, com provável indício de homenagem a uma grande manifestação de proletárias russas, qual marcou o início da Revolução de fevereiro. Por isso, enfatizamos que esse dia possui um forte caráter classista e revolucionário. É comum observar a relação desse dia com um forte apelo mercadológico, que reforça a cultura machista e do consumo, e consiste em deturpar os valores da luta pela emancipação com tentativas de apropriação e cooptação pelo capitalismo. O Dia Internacional da Mulher não se trata de flores, bombons ou desconto nos salões de beleza. Ele é, pois, o DIA INTERNACIONAL DA LUTA DAS MULHERES.
O capitalismo é por inerência machista, se configura em mais um dos tantos algozes que temos, e lucra com a opressão das mulheres através do trabalho onde, além de mão-de-obra barata - pois persiste a máxima que diz que as mulheres são inferiores ou produzem menos - ela é, ainda, quem deve tomar conta dos filhos e da casa. Estas são consideradas obrigações apenas da mulher que “naturalmente” não deve ser remunerada.
Em 2012, conquistamos a constitucionalidade da Lei Maria da Penha, que proíbe e pune agressões físicas contra a mulher quando ocorridas no âmbito doméstico ou familiar. Agora, a abertura de ação criminal contra o responsável pela lesão corporal não está mais condicionada a uma representação da vítima, o processo poderá ser aberto mesmo se a mulher não prestar queixa. 
Por outro lado, enfrentamos o retrocesso do governo federal em relação à autonomia sobre nossos corpos com a criação da MP 557/11, que cria o Sistema Nacional de Cadastro, Vigilância e Acompanhamento da Gestante e Puérpera para Prevenção da Mortalidade Materna, e em nada contribui com a saúde da mulher, apenas a vigia e deturpa os seus direitos sexuais e
reprodutivos, obrigando-a fazer parte de um cadastro público que pode ser
inclusive acessado por seus patrões.
Questão do aborto não é de religião. Por um debate de saúde, justiça social e contra a opressão!
Muitas vezes essa pauta é colocada pelo aspecto moral e pouco se debate objetivamente o aborto. Seja através de bancadas na esfera parlamentar quanto em manifestações públicas, alguns religiosos pregam repúdio total.
Contra o retrocesso e pela laicidade do Estado, reivindicamos a descriminalização e a legalização do aborto, para que todas as mulheres possam abortar segura e gratuitamente, já que a ilegalidade do aborto tem consequências maiores principalmente nas mulheres mais pobres que não podem pagar uma clínica e utilizam vias clandestinas.
Manifestamos também o nosso incondicional apoio as mulheres do Pinheirinho e de todas as ocupações em comunidades que sofrem com a repressão e violência decorrente da militarização do estado, que prioriza os grandes especuladores e criminaliza a luta pelo direito a moradia.
Convocamos tod@s lutadores ao apoio na luta e unidade das mulheres para que avancemos na construção de uma sociedade igualitária, pondo fim as relações de dominação capitalistas e patriarcais. “Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.” (Rosa Luxemburgo)




quarta-feira, 7 de março de 2012

Os rumos do Movimento Estudantil na USP – Um balanço sobre a mobilização estudantil iniciada em 2011

Escrevemos este texto para compartilhar um pouco da avaliação que fizemos coletivamente no Universidade em Movimento sobre os acontecimentos do último ano (em especial dos últimos meses) na USP.
Apesar da USP sempre ter tido problemas, o ano de 2011 teve suas peculiaridades, que se iniciaram na Universidade literalmente desde a chegada de Rodas à Reitoria, tendo sido eleito em segundo lugar na lista tríplice, algo que não ocorria desde a Ditadura Militar.

Rodas também conseguiu desarticular as categorias (estudantes, professores e funcionários) de maneira magistral, acabando com a paridade salarial entre categorias, dando bônus, e perseguindo politicamente os mais engajados. Rodas de fato administra a USP como se fosse sua fazenda, fazendo nela o que bem entende: constrói e demole prédios onde quer, permite a entrada da PM… Recentemente, ganhou da amicíssima revista Veja o título de “Xerifão da USP”. Aceitou o elogio: mandou colocar no site oficial da universidade.

Em resposta à ação violenta dos mais de 400 policiais na desocupação da reitoria – que pode ser encarada como um grande resumo da gestão truculenta, oligárquica e autoritária do Xerifão da USP -, o Movimento Estudantil (ME) deu sua resposta: uma greve, atos com 6 mil pessoas na rua, milhares presentes em diversas assembleias em muitos cursos, em diversos campi. A resposta foi um movimento que conseguiu se expandir para além da FFLCH, para além do Butantã. Afinal, apesar de a greve ter se concentrado basicamente na FFLCH, ECA e FAU, quase todos os cursos do Butantã realizaram debates sobre o assunto, assim como quase todos os campi da USP. Muita gente que estava alheia aos acontecimentos começou a se envolver e participar dos debates e atos. Mesmo aqueles que não chegaram a participar, seja de dentro ou de fora da universidade, passaram a olhar para o ME da USP, para o bem o para o mal.


Este, no nosso balanço, é o principal aspecto positivo dos últimos meses: o movimento aumentou. Isso é importante justamente porque é no número de pessoas que conseguimos envolver que reside a força do movimento estudantil. Quanto mais gente participando e apoiando, mais força temos.

Porém, mesmo crescendo, o movimento vem sofrendo derrotas, e muito sérias. A prisão de 73 estudantes na reintegração de posse da reitoria, a expulsão de outros 6, o processo de reintegração de posse da moradia retomada e do espaço de vivência do DCE são ofensivas concretas da reitoria no sentido de criminalizar e coibir as ações dos estudantes, e ela não tem recuado.

A reitoria atacou em período de férias, quando o movimento naturalmente tem dificuldade em dar respostas, mas não é esse o motivo que explica estarmos sofrendo derrotas. A mais brutal de todas, por exemplo, a prisão dos 73 na ocupação da reitoria, ocorreu não só enquanto estávamos em aulas, mas no meio de todo esse processo de mobilização. Julgamos de primeira importância termos isso claro: não conseguimos em nenhum momento fazer com que a reitoria recuasse. Pelo contrário, as medidas de repressão têm se intensificado, e de uma forma que há muitos anos não acontecia.

É preciso lembrar, ainda, que o quadro que enfrentamos na USP não está desconectado do resto da sociedade: o governo paulista, que através de seu reitor coloca 400 policiais e cavalaria para resolver problemas internos da universidade, é o mesmo que leva a cabo a política higienista na Cracolândia e a reintegração de posse do Pinheirinho, com 2 mil policiais, que resultou até em moradores mortos. Os problemas de moradia, saúde pública e ensino, que a princípio são de responsabilidade do Estado, são todos tratados de uma só forma por Alckmin e seus partidários: como caso de polícia.

O precedente que as ações aqui na USP abrem para que as punições e perseguições aos movimentos das demais universidades no Brasil sejam disseminadas e banalizadas é gravíssimo para o Movimento Estudantil, e devemos ter plena noção disso. O respaldo que isso muitas vezes tem na opinião pública, com ajuda de uma mídia que tem lado, torna a situação ainda mais preocupante.

Mas por que, se conseguimos incorporar tantos estudantes, continuamos a ser atacados e a sofrer derrotas? Além da ação da reitoria e do governo estadual, do apoio midiático com que contam etc., é necessário também entendermos que erros graves que permeiam o próprio movimento nos impedem de avançar.

Problemas gerais do movimento e a polarização

Muitos problemas estão presentes no ME da USP: extremo clima de beligerância entre os setores, rixas, denuncismo, autoproclamação etc. A priorização, por parte de muitos, da autoconstrução de suas organizações em detrimento da construção do movimento leva à exaltação das disputas internas e afasta muitos estudantes das assembleias e outros espaços do movimento. Isso acaba sendo um tiro no nosso próprio pé, pois quem ganha com essas atitudes é a direita, a reitoria e o governo do Estado, que nos querem enfraquecidos. Esses são, portanto, vícios que devem ser combatidos.

Mas as diferenças de concepção e opinião no como fazer as coisas existem, e isso é inevitável. E toda a mobilização e greve iniciadas no final de 2011 foram permeadas por uma polarização bastante clara, que correspondeu genericamente a dois setores: um que defendia as propostas aparentemente sempre mais radicais, como as ocupações, e outro que enxergava a necessidade de mais cautela para que fosse possível o diálogo com o restante dos estudantes e da sociedade. Embora não de forma mecânica – nem todos se encaixam, necessariamente, de um lado ou de outro –, essa divisão corresponde bem nitidamente a dois agrupamentos, que coincidem com duas chapas formadas para a eleição para o DCE: a chapa 27 de Outubro (composta por LER-QI, MNN, PCO, POR, Práxis e independentes), “mais radical” (tanto é que se autodenominam usando a data do confronto que deu início a toda a mobilização); e a Não Vou Me Adaptar (MES/Juntos!, CSOL/Barricadas e Rosa do Povo/Domínio Público, que são setores da até então gestão do DCE, mais PSTU e independentes), os “mais moderados”.

O setormoderado

Os setores correspondentes à Não Vou Me Adaptar apresentaram propostas importantes, como a proposição do plano alternativo de segurança. Já que a justificativa da reitoria para colocar a PM no campus era a falta de segurança, entrar neste debate significava mostrar que havia outras formas reais de deixar o campus seguro, e que a presença da PM significava a intenção de tratar os conflitos políticos internos da universidade como caso de polícia. Esta pauta, proposta pela Não Vou Me Adaptar, era, portanto, uma importante forma de dialogar com os estudantes, que poderiam estar convencidos da presença da PM no campus pelo argumento da segurança, e ganhá-los para o nosso lado.

Entretanto, esses setores entraram em choque com boa parte dos estudantes envolvidos nas mobilizações, radicalizados pela situação (PM no campus e extremo autoritarismo da reitoria), e que passaram a enxergar o DCE, no qual o setor em questão estava identificado, como inimigo. A cautela – a objeção às formas diretas de luta, como as ocupações – passou a se confundir com imobilismo. E para isso o outro setor, o 27 de Outubro, também contribuiu: tratou de denunciá-los e de acusá-los de “traidores do movimento” desde o início, inclusive de formas caluniosas, como com a história de que “o DCE entregou os estudantes [pegos fumando maconha] para o camburão da polícia” (veja a nota de esclarecimento dos três estudantes  envolvidos). Chegaram a afirmar que o DCE, PSOL e PSTU estavam do lado da reitoria, do governo do PSDB e da PM – o que, para dizer o mínimo, não está lá muito próximo da realidade.

Mas o fato é que a pecha de “traidores do movimento” pegou entre muita gente. Por que isso ocorreu? Cabe aqui um uma observação: neste ano, em que a PM entrou de vez no campus, o autoritarismo da reitoria, através das mais diversas medidas, não tem precedentes. A conjuntura da USP em 2011 requeria uma resposta radicalizada do movimento. E ela ocorreu, com ou sem a gestão do DCE.

Ao contrário disso, a gestão de 2011 realmente nada ou muito pouco fez em relação à construção da luta contra a política e o autoritarismo da reitoria. Ao longo do ano, realizou muito pouco trabalho de articulação com os Centros Acadêmicos, base da organização do movimento, não esteve presente na organização do Encontro de Centros Acadêmicos, nem no I Encontro de Mulheres da USP (dos quais tampouco participaram os setores “radicais”, por não serem ações diretas). E, principalmente no segundo semestre, optou por construir pautas que diziam respeito muito mais aos grupos representados na gestão – alguém lembra do “15-O” e o “Fora Ricardo Teixeira”? – do que a construção da luta contra as ações da reitoria, que era o que do movimento precisava naquele momento.

Assim, quando três estudantes foram pegos pela polícia fumando maconha e um enorme protesto dos estudantes contra a PM e a política autoritária da reitoria foi desencadeado, a gestão do DCE não havia contribuído em praticamente nada nessa discussão e tampouco era referência para os estudantes. Com uma postura moderada quando a situação exigia radicalidade, e em choque com uma base radicalizada, não foi tão difícil colocar-lhes a pecha de “traidores do movimento”. Erro tático: ou a Não Vou Me Adaptar não soube compreender o quão latente era o sentimento anti-reitoria entre os estudantes e que o momento pedia pela radicalização (o que, convenhamos, não era tão difícil de captar), ou estava preocupada demais com outros assuntos, como a autoconstrução de seus grupos e o calendário eleitoral que se aproximava.

Essa é a lógica que tem predominado nos últimos anos, de conquista das entidades voltada para a autoconstrução dos grupos que estão nela. Esse foi o motivo básico pelo qual saímos do grupo da última gestão (muitos de nós defendiam que a pauta prioritária do DCE para este ano fosse, desde o início, o Fora Rodas, e não o 15-Oou Fora Ricardo Teixeira) para formar o Universidade em Movimento. E é por isso que os estudantes não têm enxergado as entidades como referência do movimento. Ao contrário, as entidades têm sido vistas cada vez mais como inimigas do movimento. Pensamos que isso deve ser seriamente revisto por aqueles que atuam no movimento estudantil da USP, e os setores da Não Vou Me Adaptar, a nosso ver, definitivamente não têm compreendido a importância que tem uma entidade como o DCE enquanto articuladora e unificadora dos estudantes.

Ao DCE cabe articular os Centros Acadêmicos, que têm o contato direto com a base e são os organizadores e os alicerces do movimento cotidiano, bem como se aproximar dos demais setores, como o Sintusp, a Moradia Retomada etc (por mais que se tenha diferenças com eles). Todos os setores que estão em movimento devem tomar parte na sua direção. Menos fragmentados, ficamos muito mais fortes, e não se trata de romantismo. O que não é possível é que apenas um grupo sozinho dirija o movimento, O desafio é conseguirmos criar uma forma de dirigir o movimento que seja aberta e democrática. Que as divergẽncias, que existem, sejam expostas, respeitadas e discutidas, mas principalmente, que na hora da ação tenhamos unidade, para que não nos falte força. A isso chamamos de direção coletiva.

O outro grupo (PSTU), que, junto a estes setores da antiga gestão a que nos referimos (MES/Juntos!, CSOL/Barricadas e Rosa do Povo/Domínio Público), compõe agora a Não Vou Me Adaptar!, também não foge disso. Sua gestão em 2009 (Nada Será Como Antes) se caracterizou basicamente pela construção da ANEL e o negligenciamento das necessidades do movimento – não realização do X Congresso dos estudantes, sem falar na retirada da gestão em plena greve no Butantã para o congresso de fundação da ANEL.

Até semanas antes das inscrições de chapa, as duas correntes (MES e PSTU) viam-se como inimigos absolutos no movimento estudantil da USP, e ninguém esperava que viessem a compor uma mesma chapa para o DCE. Com a justificativa de enfrentar a direita nas urnas, empreendem uma junção tão artificial que era inimaginável há pouquíssimo tempo para seus próprios militantes. O movimento precisa de unidade sim, mas unidade efetiva, no dia-a-dia (Leia nossa resposta ao “chamado de unidade” que nos foi feito pelos grupos que compõem a Não Vou Me Adaptar!). Infelizmente, nada nos faz crer que essa “unidade” é para exercerem uma “direção mais coletiva” do movimento. É uma unidade meramente eleitoral, entre quem não quer por nada sair do aparelho e quem quer por tudo nele estar, e que não vem acompanhada da necessária mudança na prática de fazer movimento. Em 2010, por exemplo, digladiaram-se na eleição e por 50 votos a Reconquista, a chapa da direita, não ganhou. Definitivamente, não é a reprodução dos vícios levada às últimas consequências o que o movimento precisa para se fortalecer e combater a direita.
É com muita franqueza que fazemos essas críticas. Mas são críticas que vem de reflexões sobre problemas reais e latentes que existem no movimento, e que portanto precisam ser colocadas, sobretudo pela preocupação que tais problemas nos causam.

Afirmamos que são preocupações pois as consequências que o vazio político deixado por uma política que prioriza a autoconstrução dos grupos e não o fortalecimento do ME, é um movimento rachado e um crescente rechaço às entidades, aos partidos de esquerda e a qualquer forma de organização. Este vazio político é ocupado tanto pela direita quanto por setores inconsequentes do movimento e que acabam ditando táticas impensadas.

O setorradicalizado

Do outro lado da moeda, vemos predominar uma ideia de movimento que preza sempre pela ação aparentemente mais radical, como se a ação direta fosse nosso único instrumento capaz de levar adiante a luta contra a política da reitoria. Há aí um erro grave: nem a ação direta é o único instrumento capaz de fazê-lo, nem tampouco deve ser encarada sempre como um erro tático.

Nesse setor se insere com peso fundamental a chapa 27 de Outubro. Uma das coisas que tal setor tem feito é colocar os estudantes contra suas entidades representativas, principalmente o DCE. Além da calúnia de que ele “entregou os estudantes para o camburão da polícia”, deslegitimaram as entidades estudantis de diversas formas: barrando a participação de estudantes diretores de Centros Acadêmicos ou do DCE em espaços do movimento (como nas comissões da ocupação da administração da FFLCH), com gritos, a todo momento, de “Fora DCE!”, ou com as repetidas solicitações de mudar as mesas de assembleias gerais e de curso e de dissolução das entidades e sua substituição pelos delegados do Comando de Greve – ainda que essa proposição nem sempre fosse feita de maneira clara.

É certo que as últimas gestões do DCE pouco têm contribuído para que os estudantes tenham a entidade como referência, como já dissemos, e daí o sentimento anti-DCE ter prosperado facilmente nos últimos tempos. Entretanto, o rechaço ao DCE e às demais entidades é ruim para o movimento, pois nos divide e nos enfraquece. As entidades são instrumentos importantes de auto-organização independente dos estudantes. Auto-organização, sim, uma vez que são estudantes eleitos por estudantes, sem interferência de reitoria, professores ou do que quer que seja. Por isso, as entidades estudantis são conquistas históricas dos que lutam. A organização nos dá força, nos unifica, e seu enfraquecimento só é bom para a reitoria e para o governo estadual.

É importante também observarmos o papel que tem cumprido o Comando de Greve. Ele pode e deve cumprir importante papel em momentos de plena mobilização, servindo de instrumento para a execução de tarefas quando há grande movimento. Entretanto, na prática ele tem sido usado como tentativa de substituir as entidades estudantis. E isso acontece quando se decide, por exemplo, que a Calourada Unificada seja realizada pelo Comando de Greve e não pelos Centros Acadêmicos. Era importantíssimo que fossem esses últimos que realizassem a calourada conjuntamente, pois isso fortalece a organicidade entre os movimentos dos cursos e o movimento geral, cria referência das entidades estudantis entre os calouros, integra os diversos campi da capital e, principalmente, do interior, que também têm estudantes que fazem movimento, mas não estão integrados num comando de greve que é demasiado centrado no Butantã.

Aproveitando-se de um problema do movimento – a deslegitimação das entidades – e alimentando-o, o Comando de Greve autonomizou-se, adquiriu uma dinâmica interna própria semelhante à de uma assembleia, com pouco diálogo interno e votações sempre polarizadas, com ligeira vantagem para os setores identificados com a 27 de Outubro. Assim, a tentativa de substituir as entidades pelo Comando coincide com o intuito por parte deste setor de incidir mais nas decisões e na direção do ME e alimentar uma ideia de movimento no qual somente os “estudantes mobilizados” devem ser representados. Diversas vezes ouvimos a defesa de que “o comando representa os estudantes mobilizados”. Ou seja, não querem que o movimento busque representar todos os estudantes, mas apenas os “mobilizados” – é a concepção que compreende que a vanguarda, setor “mais avançado” do movimento, deve “puxar” ou “rebocar” a base, e não permitir que o setor “mais atrasado” (direção burocratizada – no caso, as gestões das entidades) dirija o movimento.
Outro ponto importante diz respeito aos golpes que sofremos por parte da reitoria: prisões, reintegrações de posse, expulsões etc.. Todas essas ações ocorreram onde o movimento estava mais fragilizado: ou isolado, ou rachado. E quais foram essas ações?

Uma delas foi a ocupação da reitoria. É claro que era justo ocupar a reitoria, pois o autoritarismo com que a reitoria vinha e vem implementando suas medidas requeria que tomássemos medidas igualmente radicais. O problema é que, no momento em que a ocupação ocorreu, o movimento estava dividido ao meio. A ocupação já nasceu rachada, portanto não havia sequer possibilidade de ser um movimento unificado de todos os estudantes, pois começou já sem o apoio de metade dos que estavam na assembleia que a precedeu. Independente do mérito das questões daquele momento (se devíamos ou não votar a ocupação mesmo com o horário, se a assembleia devia ter sido encerrada daquela forma etc.), o importante é entender que aquele foi o auge da polarização entre dois lados apontados, onde a ausência de diálogo entre nós atingiu o ápice e uma parte via a outra com – não é exagerado dizer – um ódio assombroso. Ocupação de reitoria rachada, no momento de maior divisão e fragilidade do movimento, é prato cheio para a ofensiva da reitoria e do que há de mais conservador na sociedade. Resultado: prisão de 73 estudantes que estavam na ocupação, e, por parte da mídia, um tratamento tão agressivo quanto a ação policial.

Naquele momento, apoiamos a ocupação da reitoria, pois ela só ocorreu porque não há espaços nessa universidade para que os estudantes sejam ouvidos e por isso somos obrigados a gritar para que nos ouçam [leia nossa nota sobre a ocupação]. Não havia como ser diferente. Internamente, entretanto, criticamos a irresponsabilidade de setores como o 27 de Outubro que, desde o início, se esforçaram em estimular o clima de beligerância interna a que chegamos, onde um setor dos estudantes enxerga o outro praticamente como seu pior inimigo, culminando com a atitude inconsequente de realizar uma ocupação rachada. Reparem, achamos que, não só nesse episódio, mas durante todo o processo, houve erros graves de ambos os “lados”. E esse que acabamos de apontar é um deles.

Assim, outro exemplo de ações do movimento que ocorrem ignorando-se completamente a conquista do apoio da maioria e a coesão entre os estudantes diz respeito à Moradia Retomada (ocupação da Coseas), em função da qual 6 estudantes foram expulsos em dezembro e que sofreu reintegração de posse em 19 de fevereiro deste ano, com o saldo de mais 12 presos, entre eles uma garota grávida. Desde o início ela se tornou um movimento isolado inclusive entre os estudantes do próprio CRUSP. A pauta da moradia e da assistência estudantil é incontestavelmente justa e latente dentre aqueles estudantes. Se é assim, porque são tão isolados até no CRUSP, a ponto de na penúltima eleição da Associação de Moradores ter sido eleita uma gestão que se dizia de direita e que era totalmente desconhecida até então? Seria porque os moradores do CRUSP são de direita? Não! Mas sim porque não queriam de jeito nenhum o grupo da Moradia Retomada novamente na gestão. E por que isso? Porque não há preocupação, por parte desse grupo, em se obter o apoio da maioria. Essa é uma característica de muitos setores do movimento estudantil da USP, setores que têm tido ampla reverberação nas mobilizações desde outubro, e por isso atentamos para esta preocupação.

Temos que voltar a ter como objetivo conquistar o apoio da maioria. Justamente nos momentos em que o movimento menos se pauta por isso, é que sofremos as piores derrotas.

E nós, onde ficamos nisso?

Cabe aqui também fazermos uma autocrítica de nossa atuação. Estivemos presentes e ao máximo atuantes em todas as assembléias gerais, nas assembléias de cursos e campi onde nos encontramos, no comando de greve. Entretanto julgamos que na prática ainda não conseguimos romper a polarização que foi dominante (e provavelmente ainda é) durante o processo. Somos um grupo novo, formado no final do ano passado (às vésperas do início de toda essa mobilização) por setores e indivíduos descontentes com a forma predominante de como se vinha fazendo movimento estudantil na USP, que se juntaram pra conseguir colocar a sua opinião no movimento. Com todas as limitações que a realidade nos impõe, num movimento altamente polarizado e hostil, é isso o que temos tentado fazer.

Um dos momentos em que nos posicionamos claramente foi na decisão da última assembléia do ano, que deliberou a continuidade da greve durante as férias. Fomos contra a proposta porque é no mínimo duvidoso a viabilidade de conseguirmos efetivar uma greve em início de ano, com calouros que chegam e, enquanto tais, querem conhecer o mundo acadêmico no qual entram. E, mesmo que façamos uma calourada muito boa e que convençamos muita gente a respeito dos desmandos da reitoria, entendemos que empurrar uma greve no início do ano pode nos fazer atrair, desnecessariamente, a antipatia de um sem-número de outros estudantes (que estão entrando agora e aqui vão permanecer mais 4, 5 anos) com o movimento.

Pensamos que uma boa forma de conseguirmos retomar o movimento e fortalecê-lo é fazermos dias inteiros de paralisação em toda a USP. Conseguríamos efetivar isso muito mais do que uma greve de início de ano e daríamos a possibilidade de que outros campi (e não só o Butantã) também conseguissem fazê-lo (São Carlos, por exemplo, realizou paralisações durante as mobilizações do ano passado).

Os desafios do movimento para 2012

O movimento já demonstrou que pode ter muita força. Mas não demonstrou saber usá-la de forma a obter vitórias. É empolgante assistir a assembleias com 3 mil estudantes e grandes atos, ver que ainda há muita capacidade de indignação dos estudantes, mas de nada adianta nosso movimento se os únicos resultados concretos que obtemos são prisões, expulsões e um movimento cada vez mais dividido internamente, onde um lado enxerga o outro literalmente como inimigo.
 
Podemos avançar, temos condições reais de fazê-lo. Mas para isso é necessário que utilizemos as táticas corretas da forma correta. Que nos utilizemos tanto das ações diretas quanto das “indiretas”, que visam o diálogo e o convencimento. Que quando façamos uma ocupação, por exemplo, estejamos coesos, com “força máxima”, e principalmente buscando o apoio da maioria dos estudantes e do máximo possível da sociedade (essa preocupação também deve existir). Somente se tivermos como objetivo a conquista do apoio da maioria é que conseguiremos tensionar a reitoria e fazê-la recuar.

E, para nós, mais do que uma greve forte, é preciso que o movimento na USP esteja forte. E movimento forte é movimento com participação de muita gente, envolvida nos mais diversos tipos de ações. Precisamos ampliar o contato para além dos muros da Universidade. Ações como a do Fórum de Extensão (que pintou o muro que divide a Cidade Universitária da São Remo) devem ser construídas e fortalecidas. O 8 de Março, na primeira semana após a calourada, dia histórico da luta das mulheres, também é um bom momento para nos desafiarmos a tocar pautas que dialoguem para além da USP, e para mostrar que temos muitas pautas em comum com outros movimentos.

Nesse mesmo sentido, temos de entender que a luta dos estudantes é a mesma luta de diversos outros setores da sociedade. Devemos estar articulados com outros movimentos, e fazer ações conjuntamente. Assim, temos mais força para avançar. Dentro dessas articulações é prioridade que estejamos ao lado do movimento negro na luta por cotas e por acesso na USP, para que o povo esteja na universidade e esta seja mais diversa e democrática.

Precisamos fortalecer o vínculo entre as categorias, tomar a iniciativa de dialogar mais e atuar conjuntamente com trabalhadores e docentes.

É necessário fortalecer o movimento em toda a USP, não no Butantã, não na FFLCH. O movimento deve acontecer em todos os lugares – não com figuras iluminadas que saem da FFLCH para levar o conhecimento para os outros – mas a partir de cada realidade local, no esforço de construir identidade e solidariedade entre nós. Isso é cotidiano e envolve uma preocupação igualmente importante e que vai além dessa maneira de fazer movimento com que muitos de nós estamos acostumados.

Assim, a melhor tática para o início do ano será centrar nossas forças na construção de uma maioria real: é preciso que o movimento esteja com o grosso dos estudantes, nos cursos, realizando debates, produzindo materiais, aumentando a circulação de informações, para dentro e para fora da Universidade. E também realizando grandes assembleias nos cursos, para que o movimento seja, de fato, dirigido pela base, de modo que consigamos criar uma força política real, capaz de obter conquistas.


Publicado originalmente no blog UNIVERSIDADE EM MOVIMENTO

quinta-feira, 1 de março de 2012

CAMINHOS PARA A PAZ NA COLÔMBIA




Foto CINEP


Agenda Colômbia-Brasil saúda a decisão histórica das Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia, FARC-EP, anunciada no domingo, dia 26 de fevereiro, de libertar de forma unilateral os últimos 10 policiais e militares do Estado colombiano, mantidos em seu poder como “prisioneiros de guerra” e de revogar a lei 002 de 2000, a qual põe ponto final à pratica de retenções econômicas como método de financiamento de sua luta[1].
A decisão das FARC-EP mostra o seu interesse de abrir caminhos para uma solução política dialogada do conflito. Soma-se nesta conjuntura a posição manifestada pelo Exército de Libertação Nacional – ELN, no dia 28 de fevereiro, de buscar uma saída política ao conflito que vive Colômbia[2].
É necessário dizer que esses passos dados em direção a construção de paz têm sido um esforço da organização Colombianos e Colombianas por la Paz que estabeleceu mecanismos de interlocução com a insurgência colombiana para criar cenários possíveis para diálogos entre o governo colombiano e as organizações insurgentes[3]. Desta mesma forma há que destacar o papel que tem assumido o processo popular Marcha Patriótica, como proposta que abre caminhos para a paz e para a construção alternativa de poder pelas organizações sociais e de base do povo colombiano[4]
Há necessidade de pressionar ao governo da Colômbia, na pessoa do presidente Juan Manuel Santos, para que aceite o inicio do processo de diálogos de paz, permitindo ir avante na solução política ao conflito retomando a agenda inconclusas do Caguan com as FARC-EP[5] e as propostas feitas pelo ELN[6]. Para que não sigam mantendo a postura política que privilegia a estratégia militar da pax romana de “cadeia ou a tumba[7]”. Para que não siga criminalizando a cidadãos colombianos e às organizações sociais que tomam as bandeiras, do principal anseio do povo colombiano: a paz com justiça social.
Agenda Colômbia-Brasil, como um processo de construção de solidariedade de organizações sociais e políticas do povo brasileiro e colombiano, acredita que a superação dos problemas que originaram o conflito que ainda se mantém, como a impunidade, a iniquidade econômica e a injustiça social por vias verdadeiramente democráticas permitirá encontrar uma solução ao conflito. Acredita que a solução política ao conflito é o caminho para a construção da paz com justiça social e de uma Colômbia democrática com espaços para todas e todos.
Agenda Colômbia-Brasil chama às organizações sociais e políticas brasileiras que acreditam na solidariedade entre os povos:
Para mobilizar-se, através de suas pautas de luta e pressionar com manifestações publicas ao governo e às organizações insurgentes da Colômbia para que retomem os diálogos de paz de forma transparente ao povo colombiano.
Pedir ao governo brasileiro que mantenha sua atitude de apoiar as iniciativas de paz na Colômbia e para que peça, em conjunto com a UNASUL, que o governo colombiano retome os diálogos de paz com as organizações insurgentes.
Para que apóiem o processo popular Marcha Patriótica, que esta sendo construído na Colômbia, como proposta que abre caminhos para a paz e construção alternativa de poder das organizações sociais e de base do povo colombiano, pedindo que seja respeitado este movimento, não seja criminalizado e lhes sejam dadas todas as garantias para seu desenvolvimento.

Agenda Colômbia-Brasil
A Solidariedade é dos Povos!!!  


[1] Declaración Publica. In: , Acessado: 26. Fev.2012
[2] La paz, un imperativo para Colombia. In: , Acessado: 28. Fev.2012
[3] http://www.colombianosporlapaz.es.tl/.
[4] http://www.marchapatriotica.org/
[5] A agenda do Caguan é um documento conjunto do governo do presidente Andres Pastrana e as FARC-EP de 12 pontos  para os diálogos de paz, com data de 6 de maio de 1999. Agenda Común por el cambio hacia una nueva Colombia. In: LOZANO GUILLÉN, Carlos A. Guerra o paz en Colombia?. Bogotá: Izquierda Viva, 2006, p. 147-151.
[6] La paz, un imperativo para Colombia. In: , Acessado: 28. Fev.2012
[7] “La cárcel o La tumba a los guerrilleros que no se desmovilicen”: Presidente Santos. In: < http://www.elpais.com.co/elpais/judicial/noticias/carcel-o-tumba-guerrilleros-desmovilicen-presidente-santos >, Acessado 18. Jan.2012.