Contribuição da Juventude LibRe – Liberdade e Revolução para o I Seminário Nacional de Universidade Popular
Reestruturação da Universidade em curso
Embora o atual projeto do capital para a educação inclua a expansão da universidade para uma massa de jovens a quem antes ela era inacessível, ele a subordina cada vez mais intimamente ao modelo de sociabilidade marcado pela lógica do lucro, pela exploração e hiperconcentração das riquezas produzidas pelo povo. Essa é a verdadeira face desta dita “reforma universitária”, na realidade uma grande contra-reforma universitária.
É necessária a formulação de uma estratégia!
Tornar a formular uma estratégia conjunta dos setores que lutam pela universidade é fundamental para voltarmos a incomodar a ordem do capital.
Diante disso, a grande maioria das lutas estudantis e universitárias dos últimos anos têm se caracterizado pela reação defensiva às diversas etapas de implementação desse projeto, revelando-se incapazes de fazer um contraponto à altura. À contra-reforma que vem em fatias, só temos conseguido oferecer respostas reativas igualmente em fatias, que por isso se revelam impotentes. Se por um lado este refluxo se explica pela atual fragilidade da esquerda, por outro lado a fragilidade da esquerda também é explicada pela ausência de uma estratégia que oriente respostas mais efetivas à atual conjuntura. Na década de 1960, a UNE construiu e defendeu uma Reforma Universitária que fazia parte de um processo de crítica permanente ao sistema de educação do capital - uma prática que existia dentro da esquerda e que precisa ser resgatada. Defendia-se um projeto no qual a universidade fosse voltada à resolução dos problemas essenciais do povo brasileiro. A Reforma Universitária defendida pela UNE fazia parte das reformas de base pelas quais as classes trabalhadoras se mobilizavam naquele momento, junto com a Reforma Agrária e outras bandeiras. Eis um exemplo histórico de políticas que colocaram na defensiva nossos principais inimigos: o imperialismo, os monopólios e o latifúndio. A universidade cumpre papel estratégico na estruturação e manutenção da ordem social estabelecida. Seja na ciência produzida – que crescentemente vem sendo incorporada no processo produtivo capitalista –, na formação de administradores da ordem (do Estado ou empresariais) ou mesmo na produção de consensos ou verdades que justificam determinada correlação de forças da luta de classes. Portanto, a disputa da universidade, da formação e da ciência nela produzidas têm grande contribuição a dar para a construção de um processo de transformações sociais no Brasil. Para isso é preciso constituir um projeto alternativo de universidade. Um projeto dos “de baixo”, que se ligue às demandas históricas das classes trabalhadoras e dos movimentos sociais organizados. Que se articule com suas lutas e com o projeto histórico de transição para uma sociabilidade “para além do capital”.. A Universidade Popular, ao contrapor-se ao projeto de educação do capital em todos os seus pontos, direta ou indiretamente, provavelmente não irá se concretizar nos marcos da sociedade capitalista e da atual correlação de forças. Todavia, muitos de seus pontos sensíveis podem ser conquistados ainda nos marcos desta ordem – e devem sê-lo. A plataforma estratégica da Universidade Popular deve servir de orientação para as táticas a serem adotadas nas lutas que os movimentos universitários (técnicos, alunos e professores) travam cotidianamente no choque contra o modelo de universidade vigente. Tal perspectiva significa um avanço qualitativo nas formas de luta contra o atual modelo de Universidade.
Não se trata, portanto, de ter a Universidade Popular como mais uma bandeira do movimento estudantil, docente e dos técnico-administrativos, mas constituir um horizonte estratégico comum para a universidade. Que dialogue com o projeto de transformação da sociedade que nasce das lutas sociais que se chocam com o capital. Assim, no terreno concreto, a luta por uma Universidade Popular se dá através de diferentes táticas que se ligam à estratégia para a sua implementação e que envolvem muitas esferas da vida universitária. As variadas táticas devem levar em conta as particularidades locais e sua correspondência com o projeto universitário global da classe dominante e a estratégia para derrotá-lo. As ferramentas organizativas que nos ajudarão a cumprir essa tarefa não estão dadas de antemão. É preciso criar “novas” e, quando for adequado, saber potencializar as “tradicionais” – sem sectarismos ou dogmatismos. Nesse momento o foco central para a reorganização do movimento universitário (e em especial o movimento estudantil) não passa pelas polêmicas em torno da possibilidade de disputa das entidades. Não conseguiremos achar uma solução pelo topo enquanto seguimos fragilizados na base, alcançado no máximo alianças esporádicas e fragmentadas. Tornar a formular uma estratégia conjunta dos setores que lutam por uma outra universidade é fundamental para voltarmos a incomodar a ordem do capital, e para nós ela sintetiza-se em uma tarefa, que gritamos a plenos pulmões:
Criar, criar, Universidade Popular!
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