quarta-feira, 24 de março de 2010

30 anos da Revolução Sandinista


Desde que ocorreu há 30 anos atrás, a experiência da Revolução Sandinista na Nicarágua colocou e continua colocando importantes lições para os socialistas.

A Nicarágua foi marcada por um contexto político atípico no século XX. A família Somoza dominou o país por 72 anos (de 1927 a 1979) com sucessivas ditaduras militares. A Nicarágua possuía uma economia agrária e era um dos países com maiores índices de pobreza e corrupção do mundo.

A Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) foi fundada em 1961, com clara inspiração na Revolução Cubana e nas idéias de Augusto Sandino, líder de uma rebelião popular contra a presença militar dos EUA na Nicarágua nos anos 20 e 30.

No início, a FSLN era formada basicamente por estudantes opositores à ditadura de Somoza e influenciados pelos movimentos guerrilheiros latino-americanos.

Mesmo em um duro contexto de censura e repressão, os sandinistas ganharam considerável inserção entre setores populares durante os anos 70 e tornaram-se a principal força política de oposição à sanguinária ditadura de Somoza.

A partir da metade dos anos 70, a ala majoritária da FSLN (os "terceristas") decidiu adotar uma política de frente popular, aliando-se a setores da burguesia nicaragüense que faziam oposição a Somoza.

Essa estratégia priorizava a luta contra Somoza e o imperialismo e deixava de lado a defesa de uma revolução social e política dos trabalhadores contra as mazelas provocadas pela burguesia nicaragüense com apoio do imperialismo norte-americano.

Ainda assim, a crescente repressão de Somoza com apoio norte-americano não foi capaz de sufocar a insatisfação popular contra as injustiças sociais que duravam há décadas. Os sandinistas derrubaram Somoza e tomaram o poder em julho de 1979.

De imediato, estabeleceu-se a Junta de Reconstrução Nacional que governou o país de 1979 a 1985. O governo sandinista era presidido por Daniel Ortega e, em sua maioria, composto por dirigentes da FSLN, mas também por alguns setores da burguesia nicaragüense que depois romperiam com o sandinismo.

Indiscutivelmente, o imperialismo cumpriu um papel fundamental no cenário político nicaragüense. Os governos norte-americanos sustentaram as ditaduras militares da família Somoza desde o início nos anos 20.

Após crescente campanha internacional contra Somoza, o presidente democrata norte-americano Jimmy Carter retirou o apoio a Somoza no início de 1979, mas continuava condenando os sandinistas.

Logo que assumiu a presidência norte-americana nos anos 80, o republicano Ronald Reagan deixou claro o apoio à direita nicaragüense na luta contra os sandinistas.

Já economicamente debilitada com um embargo econômico e restrições comerciais, o governo sandinista sofreu oposição militar da burguesia nicaragüense com evidenciado apoio financeiro e logístico dos Estados Unidos e colaboração da ditadura militar argentina – os chamados "contras" (abreviação para "contrarrevolucionários").

Mesmo no complicado contexto de guerra civil, a Revolução Sandinista alcançou importantes conquistas sociais na educação, reforma agrária, saúde e cultura. Em poucos anos, o analfabetismo foi reduzido em 40% (de 50% para 13%).

Os sandinistas decidiram manter um sistema de economia mista que implicava em colaboração com o capital privado e acabou por colocar outras contradições à luta contra a burguesia nicaragüense.

FSLN e Ortega venceram as eleições realizadas em 1984, mas a burguesia nicaragüense continuou articulando oposição com apoio norte-americano.

Ortega seria derrotado por Violeta Chamorro, ex-aliada sandinista, nas eleições presidenciais de 1990 e por mais duas vezes consecutivas em 1996 e 2001. A FSLN chegou novamente ao poder na eleição de Ortega em 2006 em uma controversa aliança com setores conservadores.

A Revolução Sandinista foi uma histórica demonstração de luta contra o imperialismo e serviu de inspiração para os trabalhadores do mundo inteiro. Mas suas limitações e contradições deixam claro que, mesmo que exista uma complexa relação entre nação e classe, a questão nacional não deve se sobrepor à luta de classes.

A luta contra o imperialismo apenas pode triunfar desde que se vincule à luta contra o capitalismo e paute o combate dos trabalhadores da cidade e do campo às burguesias nacionais.

Ou seja, a vitória de autênticas lutas de libertação nacional está diretamente ligada à conquista de uma sociedade sem exploração e opressão pelo protagonismo dos trabalhadores, uma sociedade socialista.


Publicado originalmente no blog Travessia Insurgente

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