Expressamos aqui e em todos nossos meios o repúdio ao Golpe de Estado aplicado por forças reacionárias, ligadas ao latifúndio e agronegócio e de extrema-direita, que tentam barrar avanços progressistas como a reforma agrária no Paraguai. Isso se deu tão rapidamente, não por coincidência ou ocasião, mas pelo arranjo do potencial imperialista em tomar o controle dos países da América Latina por meio de golpes e ataques diretos à soberania e autodeterminação dos países da região.
Repassamos a nota do Movimento Pró-Frente apresentada ao povo e aos lutadores no dia 22 de junho, quando as primeiras notícias eram dadas, e apoia os setores progressistas e comprometidos com o caráter intenacionalista da luta de classes a construirem atos, manifestações, comitês etc. que lutem pelo restabelecimento da democracia e retorno do presidente eleito, Fernando Lugo, ao poder.
Ato realizado por movimentos sociais e organizações políticas contra o Golpe no Paraguai no último dia 25 de junho |
Paraguai: Golpe não!
A resistência é de todos nós.
Para o
Movimento Pró-Frente (Brasil), as recentes medidas adotadas pelo
Congresso Nacional paraguaio contra o Presidente Fernando Lugo, e a
posse do senhor Franco, tem o nítido caráter de um golpe de
Estado da extrema direita. O Presidente foi eleito democraticamente e
seu mandato só se encerra em agosto de 2013. As evidências da farsa
legislativa, que culminou na retirada de Lugo da Presidência, por
suposto “mal desempenho de suas funções” são muitas, entre elas,
destacam-se: a ausência de provas, o rito sumaríssimo e o sequestro do
direito de defesa. O tragicômico simulacro de “juicio político”
encenado pelo parlamento mais corrupto das Américas, violou todas as
tornas processuais e concedeu menos de 24 horas para o Presidente Lugo
preparar e apresentar sua “defesa”.
Entre
variadas mentiras, há uma acusação verdadeira, que é a de “colocar-se ao
lado dos trabalhadores sem terra”. Na realidade, o governo Lugo
propunha reformas sociais pacíficas e, de fato, negava-se a massacrar os
camponeses em sua justa luta pela Reforma Agrária e recuperação das
“tierras malhabidas”, o que só depõe a favor do caráter democrático do
Presidente derrubado.
O
pretexto para o golpe foi uma provocação orquestrada pela direita em 15
de Junho em Curuguaty perto da fronteira com o Brasil, em que um grupo
de elite da polícia política – Grupo Especial de Operaciones, GEO,
treinado nos marcos do “Plano Colômbia” – atacou em uma emboscada
camponeses sem terra, resultando na morte de 17 pessoas – 11 camponeses e
6 policiais, entre os quais o chefe da GEO, comissário Erven Lovera,
além de mais de 50 feridos graves.
As forças reacionárias que tramaram contra a vontade majoritária da população são as mesmasque
sustentaram ditaduras ao longo de décadas. Entre as principais
lideranças golpistas encontram-se pessoas como: o golpista histórico
Lino Oviedo, o narcoempresário Cartes, o fraudador de eleições
Galaverna, o dono do monopólio privado dos meios de comunicação Aldo Zuccolillo e
Candia Amarilla, este último atual Ministro do Interior é conhecido
repressor e criminalizador das lutas populares desde os tempos em que
liderava o Grupo de Acción Anticomunista – GAA, durante a longa ditadura militar de Alfredo Stroessner – 1954-1989.
Os golpistas são membros das oligarquias
latifundiárias – associados às transnacionais, como a Monsanto e a Dow
Chemical –, que desprezam a vontade popular, conspiram para derrubar
Lugo desde sua posse e impedem medidas avançadas no Paraguai, em
especial a Reforma Agrária. Enfim, são setores historicamente antidemocráticos, direitistas e aliados ao imperialismo, em particular ao estadunidense.
Diante deste quadro, o Movimento pró-Frente:
· rechaça
as manobras golpistas, adotadas pelos setores reacionários do Paraguai,
e a tentativa de interromper um processo legítimo que busca reformas no
País;
· manifesta sua a solidariedade, e o seu apoio, ao Presidente e ao povo paraguaio;
· uni-se
às vozes antigolpe e convoca as organizações democráticas,
progressistas e populares – do Brasil e do Continente – a rechaçarem o
golpe de estado e lutarem para garantir que o presidente Fernando Lugo
cumpra integralmente seu mandato;
· coloca-se junto à resistência e nas lutas em defesa de melhores condições de vida para os irmãos paraguaios;
· conclama
os governos democráticos do Continente a tomarem medidas que garantam a
volta de Fernando Lugo à Presidência do Paraguai e a formação de um
gabinete presidencial disposto a enfrentar o golpismo e a crise, com
pessoas provadas por sua lealdade e sua luta em defesa das liberdades
democráticas e das transformações sociais;
· põe-se
à disposição do povo paraguaio, e de seu legítimo presidente, para
colaborar, no que julgarem necessário, na sua justa luta.
Como é
de conhecimento de todos, há muito, o imperialismo está incomodado com
os avanços democráticos e a ascensão de governos progressistas na
América Latina e Caribe. Com tais
mudanças, vem sendo possível uma crescente unidade política em temas
regionais – especialmente na resistência ao domínio dos Estados Unidos.
Por
isso, são constantes as ameaças, as provocações e os ataques da Casa
Branca. De lá vem o aumento das ações intervencionistas, o desrespeito à
soberania de países da Região; e o acirramento das chamadas “medidas
preventivas”, de que são emblemáticos: o golpe de Estado em Honduras e
as tentativas de golpes na Venezuela, Bolívia e Equador, derrotados pela
resistência popular; a reativação da IV Frota para atuar na América do
Sul; a multiplicação das bases militares estadunidenses em nossos
territórios e da malfadada “cooperação militar”; o incentivo à corrida
armamentista e a manutenção do “bloqueio” e das agressões contra Cuba.
Sendo
assim, para o Movimento Pró-Frente o golpe de estado não é um fato que
se restrinja às fronteiras paraguaias. Trata-se de uma ação que visa
manter e reforçar a dominação imperialista no Continente. Para tanto, contou,
e conta, com respaldo direto do imperialismo americano – como fica
evidente na posição do Departamento de Estado dos EUA de “respeitar
o processo contra o presidente Lugo”. Não é à toa que, imediatamente
após o golpe, o mesmo Departamento, em nota oficial, reconheceu como
legítimas as atitudes do Congresso paraguaio.
Para o
Movimento Pró-Frente, é preciso denunciar o golpe e lutar para
derrotá-lo e impedir qualquer retrocesso político e social – dentro e
fora do Paraguai.
Para
nós, a melhor forma de barrar o conservadorismo é realizar e aprofundar
reformas que interessem as grandes maiorias nacionais. Para tanto, é
urgente construir a unidade dos segmentos comprometidos com os
trabalhadores e o povo, com a soberania e os interesses nacionais, com
avanços e progressos sociais e com os direitos e as liberdades
democráticas. Só com a mobilização e organização popular será possível
sustentar governos que queiram impulsionar processos de transformação
social, por mais moderados que sejam. Assim, unidos, será possível
derrotar a reação e construir, a partir de cada país, a Pátria Grande de
que nos falou Bolívar.
Brasil, 22 de junho de 2012.
Movimento Pró-Frente (Brasil):
Brigadas Populares – BP,
Corrente Comunista Luiz Carlos Prestes – CCLCP,
Partido Comunista Revolucionário– PCR,
Refundação Comunista (Brasil) – RC e
dirigentes e militantes políticos.