sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Lançada nova edição da Comuna LibRe

Olá camarada! Te oferecemos mais uma edição da nossa Comuna LibRe, o jornal da Juventude Liberdade e Revolução. Ela chega no momento da realização de mais uma edição do Fórum Social Mundial, que retorna à sua cidade natal: Porto Alegre. Marca também o início do ano de 2010, no qual a Juventude LibRe completará dois anos de existência celebrando através da realização de seu I Encontro Nacional em junho.

Fundada em 19 de julho de 2008, por iniciativa de jovens vinculados à corrente política Refundação Comunista, em pouco tempo a LibRe ampliou sua área de atuação e cresceu junto à militância de esquerda. Hoje atuamos no movimento estudantil secundarista e universitário, no Hip-Hop e outros movimentos culturais protagonizados pela juventude. Propomos políticas para os jovens das mais diversas tribos e classes sociais, mas priorizamos o trabalho junto ao setor mais proletarizado, sobre o qual os efeitos da lógica do Capital se fazem mais sentir. Convidamos-te a conhecer nossas idéias e forma de organização, bem como ser nosso parceiro na luta por uma sociedade de indivíduos livres! Veja o índice, peça seu exemplar a um de nossos militantes ou por e-mail, e boa leitura!

# INTERNACIONAL # - Honduras resiste ao golpe
# EDUCAÇÃO # - Universidade Popular: um projeto estratégico
# CAPA # - O Haiti é aqui!
- Genocídio da juventude pela exclusão socio-racial
# HISTÓRIA # - 1968: a UNE na encruzilhada e as trincheiras esquecidas
# CULTURA # - Consciência e atitude: elementos para romper com as amarras da ordem

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Marcha movimenta a capital do Forum Social Mundial

Uma marcha com a participação de aproximadamente dez mil pessoas deu continuidade às atividades do Forum Social Mundial 10 Anos, na tarde de ontem (25), em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Movimentos sociais, organizações e membros da sociedade civil ergueram suas bandeiras e deram gritos de ordem na caminhada entre o Mercado Municipal, no centro da Capital gaúcha, até a Usina do Gasômetro, às margens do Rio Guaíba, percurso que durou mais de duas horas.

À frente, lideranças e expressões religiosas unidas reivindicavam liberdade e respeito às diferenças de credo. Segundo os organizadores da manifestação, o Rio Grande do Sul reúne 65 mil Terreiros de Umbanda, sendo o Estado mais negro do sul do país. Entre os manifestantes estava o jovem José Carlos Lemos que denunciava o racismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.

"Há dois anos, estudantes escreveram frases racistas contra pessoas afro-descendentes brasileiras, nas paredes da Universidade e a polícia não foi inteligente o suficiente para punir os responsáveis", denunciava José Carlos. Segundo ele, dois anos depois não houve punição e membros da Brigada Militar receberam promoção.

O argentino Jorge Tranquilauquen, da Província de Buenos Aires, veio ao Forum como representante de um grupo de agricultores familiares. Após participar do 1º Forum de Economia Solidária, em Santa Maria-RS, quis continuar participando do FSM na Grande Porto Alegre. "Estamos na Marcha para dar continuidade ao processo de reflexão por um outro mundo possível. Na Economia Solidária, o caminho é lento, mas temos muita esperança," concluiu Jorge.

Uma forte concentração de mulheres também marcou presença. "A nossa maior bandeira é lutar contra toda a espécie de violência e discriminação", afirmou Silvana da Liga Brasileira de Lésbicas.
Para João Pedro Stédile, membro da Via Campesina e líder do MST, o Forum Social Mundial tem uma história exitosa porque, ao longo desses dez anos, conseguiu reunir uma ampla variedade de movimentos sociais e forças que lutam contra o neoliberalismo.

"Acredito que conseguimos derrotar o neoliberalismo enquanto projeto ideológico, mas ainda precisamos juntar mais forças para derrotar o neoliberalismo enquanto projeto econômico e derrotar o imperialismo," destacou Stédile enquanto caminhava com a multidão. Para o sociólogo e ativista, ainda há uma longa caminhada pela frente.Na sua opinião, "os pilares do neoliberalismo que foram derrotados, foi, em primeiro lugar, o discurso ideológico que dizia que o capitalismo era o sistema mais perfeito da história. Segundo, que o mercado resolvia todos os problemas e, ao invés disso, ele só criou problema. Em terceiro lugar, os adeptos do neoliberalismo defendiam o Estado mínimo, mas na crise, tiveram que apelar para o próprio Estado salvar seus bancos.

Por último, a atual crise demonstrou que esse projeto de crescimento econômico a qualquer custo, visando apenas o lucro, é inviável sob o ponto de vista ambiental. O planeta já não tem mais matéria-prima suficiente para produzir tantos bens de consumo descartáveis", concluiu Stédile.

Após a marcha, os participantes continuaram concentrados às margens do Guaíba, próximo à Usina do Gasômetro para assistir a shows musicais que reunia bandas como Bataclã FC, Renato Borgetti, Revolução RS, Marieti Fialho, Tonho Crocco, Banda Gog, Teatro Mágico, Papas da Língua e Marcelo D2.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Moradores do Jardim Lucélia realizam manifestações contra calamidade municipal

Moradores do Jardim Lucélia realizam manifestações contra calamidade municipal

A população do Grajaú, extremo sul de São Paulo, passa por momentos difíceis. Não bastasse as ameaças de remoção e a criminalização em vários bairros, por parte da Prefeitura e do Governo Estadual, agora os alagamentos se tornaram freqüentes.

E foi contra esta situação que se levantou a comunidade do Jd. Lucélia. Situada próxima a um córrego recém urbanizado, após remoção de famílias no Jd. Toca, a comunidade já havia sido tomada pela água no dia 9 de janeiro deste ano e o foi novamente no dia 19, no início da noite. Nas duas vezes a população tentou acionar bombeiros e defesa civil. Sem sucesso! Tiveram de contar somente com a ajuda de quem não teve a casa destruída. A água, desta vez, atingiu dois metros de altura em alguns lugares, destruindo casas e pequenos comércios da população. Assim como as comunidades XIX e XX, que, inclusive, foram duramente reprimidas durante manifestações ocorridas na mesma noite do dia 19, quando a Tropa de Choque chegou a ocupar a favela atirando bombas e disparando balas de borracha contra a população, sem observar a presença de crianças e idosos no ato, tirados de suas casas pela enchente, nesta segunda vez a população do Jd. Lucélia não conteve a revolta e bloqueou a Avenida Dona Belmira Marin, com barricadas feitas com os móveis destruídos pelas enchentes. A PM foi acionada e houve confronto, sendo que a 1h da manhã a Tropa de Choque chegou ao local e dispersou a manifestação.

“Os bombeiros só vieram pra apagar o fogo nas barricadas!” - disse Elaine, 21 anos, moradora da comunidade desde que nasceu. Elaine diz, também, que “Nunca houve enchente aqui! Começou depois da obra de urbanização do Córrego no Jd. Toca!” Outros moradores disseram, também, que o córrego foi estreitado após as obras, tendo hoje aproximadamente 4 metros de largura o que antes tinha cerca de 10 metros.

Pela manhã, já no dia 20, a comunidade se organizou e bloqueou novamente a Avenida Dona Belmira Marin, esperando alguma atitude da Subprefeitura da Capela do Socorro. No entanto, o máximo que conseguem, dizem, são promessas de receber cestas básicas ou colchões, mas que precisam ser retirados na Subprefeitura pelos próprios moradores.

Pra completar o desastre, a Sabesp iniciou obra na estação de tratamento Alto da Boa Vista, o que deixou a região do Grajaú, entre outras, sem água até sexta-feira. Além da perda de móveis, roupas, eletrodomésticos e mantimentos, a população ainda sofre sem água para beber ou limpar o lodo das casas.

Acordos Vazios

Na meio do dia, moradores da comunidade foram até a Subprefeitura da Capela do Socorro, na esperança de conversar com o Subprefeito Valdir Ferreira e obter ações e respostas sobre a situação da comunidade. A princípio a guarda municipal tentou impedir a entrada da população na Subprefeitura, que encontrou-se ali com moradores das favelas XIX e XX, também arrasadas por inúmeras enchentes sem solução ou causa aparentes. Após a entrada na subprefeitura, novamente a população recebeu a notícia de que o Subprefeito não estava. Atendidos pelo Chefe de Gabinete, a população apresentou suas necessidades e reivindicações, todas rechaçadas pelos representantes da Subprefeitura, que alegam falta de estrutura para atender a todas as comunidades atingidas. O máximo que conseguiram foi o compromisso, verbal, de limpeza e desassoreamento dos córregos para evitar novas enchentes. Voltando pra casa e observando que nem as mínimas promessas seriam cumpridas, a população se preparou para mais uma manifestação, a terceira em menos de 24 horas.

Sem resposta sequer sobre a retirada do entulho gerado pela enchente, por volta das 18h, a população iniciou nova manifestação bloqueando a Avenida Dona Belmira Marin. Os móveis destruídos formaram barricadas, desta vez fechando vários pontos da avenida e acessos no entorno. Com o horário de pico, logo o congestionamento atingia quilometros.


Nova Manifestação

A polícia chegou ao local e foi hostilizada com pedras e gritos de “chega de mentiras!” e “queremos solução!”. O Tático da PM chegou ao local e disparou balas de borracha contra os manifestantes, sob apoio do helicóptero águia. Após um princípio turbulento, as coisas estabilizaram e começaram os diálogos entre polícia e moradores. O Capitão da PM Marcondes foi o responsável pelas negociações. Foram vistos vários lucelia3Policiais sem as tarjas de identificação. A exigência da PM era a liberação da avenida, que os moradores condicionavam à criação de algum canal de comunicação com o poder público ou ação real da prefeitura sobre a situação da população atingida. Sem chegar qualquer acordo, a PM se preparou pra reprimir a manifestação e uma parte dos manifestantes, vendo que não teria mais alternativas, tomou um ônibus e o incendiou, utilizando-o também como barricada. Um grupamento da PM, vindo do lado oposto ao que se encontrava a formação já estabelecida, iniciou uma ação de dispersão contra os manifestantes próximos ao ônibus. Houve principio de confronto, mas sem grandes desdobramentos.

A situação foi se estabilizando e por volta das 21h, com a chegada do corpo de bombeiros, foi acordado o fim da manifestação e a liberação da avenida sem hostilizações, nem por parte de manifestantes, nem por parte da PM.

Ações

Apesar do desfecho sem novidades para a população, a comunidade Jd. Lucélia promete organizar-se e exigir do poder público, a devida atitude sobre as enchentes na região. Unidas as causas do Jd. Brejinho, Jd. Toca, Cocaia I, XIX e XX, a população pretende se ajudar mutuamente e obter respostas e reparações à todas as comunidades da região da Capela do Socorro.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Haiti e o “estado de sítio” permanente


Escrito por Aloisio Milani


Não foi só ontem, não é só hoje. O Haiti vive um “estado de sítio” constante. Quando não “treme” pela pobreza extrema – aqui entendida como desemprego epidêmico, fome crônica e a ausência de saúde e educação públicas -, é a vez das crises políticas e das tragédias naturais: tempestades tropicais, enchentes e furacões. Para dar um exemplo, quatro furacões deixaram cerca de mil mortos e 18 mil desabrigados em 2008. Corpos apodreciam na água das enchentes, não havia estrutura de socorro, o dinheiro e a ajuda humanitária chegavam lentamente. Há pouco, semanas atrás, acabou a temporada de furacões na América Central e, agora, o país se debate com um surpreendente terremoto de magnitude inédita nos últimos 200 anos.

Aliás, dois séculos atrás é aproximadamente o tempo histórico da vitória da única rebelião de escravos que levou à independência de uma nação desde a Antiguidade clássica. Um passado glorioso que vem sendo ofuscado por um presente de pobreza e crises. Desde a deposição do ex-presidente Jean Bertrand Aristide, em 2004, a situação política oscilava entre momentos de paz, violência e fragilidade política. Mas a pobreza resistia. E a cada fenômeno natural, o espectro da destruição pairava sobre eles. A diferença é que desta vez, a tragédia une brasileiros e haitianos. Haverá mais confirmações de mortes entre os brasileiros capacetes azuis e diplomatas da ONU. A médica Zilda Arns teve ironicamente sua vida ligada ao país do continente americano com um dos piores índices de desnutrição e mortalidade infantil, onde queria implantar as bases da Pastoral da Criança.

O impacto do terremoto sobre o Haiti é brutal porque seu epicentro foi muito próximo de uma das regiões mais populosas, a capital Porto Príncipe. O país tem um território comparável ao de Alagoas, com cerca de 8 milhões de pessoas. Mais ou menos 3 ou 4 milhões vivem só na capital, em favelas de tijolos frágeis, de estruturas baratas, improvisadas. Na cidade, onde os ricos moram nos morros e os pobres na parte plana próxima ao mar, o impacto foi maior em bairros com construções de mais de um piso. A região do Palácio do Governo, vizinha da favela de Bel Air, foi destruída. A situação se repete em bairros mais horizontais, como Carrefour, Delmas e Cité Militaire. Na região de Cité Soleil, de barracos de zinco e tijolos finos, os danos não foram menores.

O distrito de Petion-Ville, no alto da cidade, onde ficam as sedes das embaixadas e organizações internacionais, sofreu grande impacto. Até o Hotel Montana foi atingido, um quatro estrelas versão haitiana, onde morreu o general brasileiro Urano Bacellar em 2006. Passarão semanas para as contagens dos mortos e desaparecidos. O Palácio do Governo, que desmoronou quase completamente, era um centro político e uma espécie de residência do presidente. No hall revestido de mármore sob a cúpula central do palácio, ficavam as estátuas de Simon Bolívar e Alexandre Petion. Frente a frente. A poucos metros da vista ampla da planície da praça. Esses símbolos foram completamente soterrados no terremoto.

Um país imóvel

Vale lembrar que, em novembro de 2008, uma pequena tragédia se abateu sobre o distrito de Petion Ville. Ali, sem temporal, sem vento, sem terremoto, a escola primária La Promésse desabou. Simplesmente veio abaixo pela precariedade de sua construção. Matou cerca de 100 crianças e feriu outras 150. O presidente haitiano, René Préval, disse na época que a fragilidade e a debilidade do Estado permitia a existência de construções precárias e ocupações ilegais, o que aumenta a possibilidade de vítimas. O Haiti tentava reestruturar seu Estado com a ajuda da quinta missão de paz da ONU nas últimas décadas. Mas ainda não havia um sistema de defesa civil estruturado, o que vai piorar a situação agora no socorro e atendimento a feridos. Quem não morreu diretamente pelo terremoto corre o risco de morrer por falta de estrutura de bombeiros ou atendimento médico.

Porto Príncipe já possuía uma infra-estrutura precária. Energia elétrica era luxo. Quem tinha convivia com apagões diários. A distribuição de água era feita, muitas vezes, por caminhões-pipa e fontes de água. Em bairros inteiros, a população se abastecia com baldes. Cité Soleil, a maior favela da cidade, era um exemplo. Agora, com o terremoto, a estrutura de abastecimento de água também sofreu. Num país que importava mais da metade da comida para manter as necessidades básicas da alimentação de seu povo, a água voltou a ser escassa. Todo o combustível do país também é importado. Dificilmente um plano de emergência, com o envio de maquinário pesado, conseguirá colocar em prática um mutirão de salvamento em grande escala para evitar mais mortes. O país está quase imóvel dois dias após o abalo principal.

A ajuda da ONU e a dívida externa

O número de mortos – ouve-se agora uma estimativa do governo haitiano de cerca de 50 mil – seria pelo menos cinco vezes maior do que o total de brasileiros enviados à missão de paz das Nações Unidas nos últimos seis anos. O terremoto deve aproximar mais Haiti e Brasil. Nos últimos tempos, nossos enlaces com o país caribenho aumentaram. Além dos capacetes azuis, ativistas, acadêmicos e religiosos procuravam estreitar relações com o povo. A estrutura da ONU no país sempre esteve longe de mudar o perfil da pobreza e das necessidades básicas para o país se reerguer: trabalho, saúde, educação. Iniciativas como a da médica Zilda Arns eram um pedido de entidades haitianas desde a chegada da ONU por lá, há seis anos. Envio de médicos, engenheiros agrônomos, professores, gestores públicos, entre outros. Tudo que vai faltar em dobro agora.

Do fim da vida de Zilda Arns no Haiti, cabe ainda um recado, acredito. A mudança no perfil da missão da ONU no Haiti é urgente mais uma vez. O estágio relacionado à segurança pública pode ter sido questionável, mas há tempos foi superado. Temos a oportunidade agora de ajudar com menos tropas militares e mais parcerias para a reconstrução e desenvolvimento do Haiti. A começar pelo perdão da dívida externa de cerca de 2 bilhões de dólares, uma porcentagem ínfima na comparação com os rios de dinheiro que os países ricos gastaram para socorrer o sistema financeiro internacional da gana de seus próprios especuladores.


Publicado originalmente no blog - http://aloisiomilani.wordpress.com/

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Militantes assassinados em Honduras

Por Joseph Shansky

Há pilhas de cadáveres de ativistas em Honduras. A mídia está calada, em Honduras e em todo o mundo, enquanto crescem as redes de amigos e conhecidos que se unem pelo boca a boca, com notícias de mais uma morte, e são muitas, de compañeros e compañeras.

O mundo foi "informado" pelo jornalismo dominante das grandes cadeias comerciais, como o The New York Times, de que houve eleições “limpas e justas” dia 29 de novembro (eleições e noticiário orquestrados pela junta de golpistas apoiados pelos EUA atualmente no poder), mas a violência só fez aumentar, mais rápida do que temida.

Os alvos específicos da matança têm sido os que o establishment golpista vê como maiores ameaças ao golpe. Os mais ousados e, claro, os mais vulneráveis: membros da Resistência Popular contra o golpe. Seus amigos. As famílias. Todos quantos oferecem comida e abrigo à Resistência. Professores, alunos, cidadãos comuns que apenas veem a falácia de haver regime não eleito no governo do país. Todos os associados à Resistência têm enfrentado violência crescente contra a coragem de protestar contra o golpe.

Depois que a comunidade internacional recebeu luz verde dos EUA – porque a ordem democrática teria sido restaurada via eleições –, foi aberta a temporada de caça, para as mais violentas forças que há em Honduras, e que trabalham para romper, a qualquer preço, a unidade da Frente de Resistência contra o golpe. Os assassinatos estão acontecendo em velocidade maior do que se pode registrar.

Em um domingo, 7/12, um grupo de pessoas foi metralhado quando andava por uma rua de Villanueva, arredores de Tegucigalpa. Segundo testemunhas, uma van sem placas parou em frente ao grupo, quatro mascarados saltaram da van e obrigaram o grupo a deitar-se no chão. Ali foram fuzilados. As cinco vítimas são:

· Marcos Vinicio Matute Acosta, 39

· Kennet Josué Ramírez Rosa, 23

· Gabriel Antonio Parrales Zelaya, 34

· Roger Andrés Reyes Aguilar, 22

· Isaac Enrique Soto Coello, 24

Uma mulher, Wendy Molina, 32, recebeu vários tiros e fingiu-se de morta quando os assassinos a puxaram pelos cabelos para verificar se sobrevivera. Foi hospitalizada e sobreviveu.

El Libertador, jornal hondurenho independente noticiou que todos os mortos eram militantes da sociedade civil e trabalhavam contra o golpe. Segundo outro militante do mesmo grupo na região, “Os rapazes organizaram comitês para que os vizinhos pudessem trabalhar também pela Frente de Resistência.”

Essa matança foi um dos eventos de uma série de assassinatos de membros da Resistência, só nas últimas semanas. Dia 3/12, Walter Trochez, 25, ativista conhecido na comunidade de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) foi puxado da calçada e jogado numa via, também por quatro mascarados, no centro de Tegucigalpa. Em depoimento que depois prestou às autoridades locais e nacionais, Walter contou que foi interrogado durante horas, por mascarados que queriam informações sobre membros e atividades da Resistência; que foi espancado com um revólver, por recusar-se a falar. Disseram-lhe que seria assassinado, falasse ou não. Trochez conseguiu escapar, abrindo a porta da van e jogando-se na rua, de onde conseguiu correr.

Não foi a primeira vez que Walter recebeu esse tipo de ameaças. É militante conhecido e respeitado contra o golpe, e há meses trabalhava documentando casos de violações de direitos humanos, sobretudo na comunidade gay. Walter acaba de publicar dois artigos. Um, imediatamente depois das eleições, intitulado “O Absenteísmo venceu” – sobre o bem-sucedido trabalho da Resistência, encorajando os cidadãos a não votarem e protestarem contra as eleições. E outro, cujo título fala por si: “Escalada dos Crimes de Ódio e Homofobia contra a comunidade de LGBTT: ação do golpe de Estado civil-religioso-militar em Honduras”.

Nos dois artigos, a mesma conclusão: “Como revolucionário, sempre estarei na linha de frente com meu povo, hoje, amanhã, sempre, mesmo sabendo que isso pode custar-me a vida.”

Dia 13/12, uma semana depois, Walter foi baleado no peito, quando caminhava para casa, por pistoleiro que passou num carro. Morreu a caminho do hospital.

Dia 5/12, Santos Garcia Corrales, membro ativo da Frente Nacional de Resistência foi preso por forças de segurança, em New Colony Capital, sul de Tegucigalpa. Foi torturado para que desse informações sobre um comerciante que fornecia alimentos e suprimentos a militantes clandestinos da Resistência. Foi solto e relatou o incidente às autoridades locais. Seu corpo foi encontrado dia 10/12, decapitado.

Tem havido muitos assassinatos na comunidade de LGBT, depois do golpe. Várias travestis têm aparecido mortas. Entidades de Direitos Humanos relatam que “mais de 18 gays e transgêneros foram assassinados em todo o país – número equivalente ao de casos registrados nos cinco anos anteriores –, nos seis meses que dura a crise política.”

A última vítima, Carlos Turcios, foi arrancado de casa em Choloma Cortes, às 3h da tarde do dia 16/12. Seu cadáver foi encontrado dia seguinte, decapitado e sem mãos. Carlos era vice-presidente da seção de Choloma da Frente de Resistência, cidade localizada a poucas horas de distância da capital. Andres Pavón, presidente do Comitê de Defesa dos Direitos Humanos em Honduras, CODEH, comenta: “Achamos que esses crimes horrendos devem ser somados a outros nos quais os cadáveres também mostram sinais brutais de tortura. Todos esses atos visam a construir o medo coletivo.”

Trata-se de esforço sinistro para enfraquecer uma comunidade que, de fato, dá sinais de estar mais forte que nunca. Como Walter Trochez escreveu (e a CNN confirmou), a maioria dos eleitores recusou-se a comparecer às juntas eleitorais, para a "eleição" organizada pelos golpistas. Inúmeros governos em todo o mundo – inclusive vários sul-americanos, recusaram-se a reconhecer como legítimos os resultados daquela eleição.

Nesse clima de feroz repressão, os cidadãos já não podem contar com as autoridades para prover sua segurança mínima; os que são ameaçados não podem recorrer à polícia. As queixas, registradas e assinadas, como aconteceu com Santos e Walter, convertem-se em sentenças de morte. Muitos suspeitam, com boas razões, que os assassinatos sejam cometidos por policiais ou soldados. No mínimo, são acobertados pelo Estado e são fruto da atual realidade em Honduras, quando dia a dia deterioram-se os serviços de proteção que o Estado deve ao cidadão.

Pavón e outros ativistas dos Direitos Humanos em Honduras têm-se manifestado na denúncia repetida dessas atrocidades, mas os crimes ainda não parecem ter sido incluídos na pauta da grande mídia, nem em Honduras nem fora de lá. Quanto mais os cidadãos precisam dos jornais e das televisões para denunciar os abusos de que são vítimas, mais os jornais e televisões os abandonam à proópria sorte, para que se defendam sozinhos.

Como é possível que tudo isso esteja acontecendo no século 21? Por que se matam pessoas pelas ruas de Honduras, apenas porque insistem em não se calar contra um golpe civil-militar-religioso igual a tantos que a consciência democrática de todo o mundo já aprendeu a denunciar?

De todas, as mãos mais sujas de sangue são as de Roberto Micheletti e dos demais chefes do regime golpista. Mas o presidente Barack Obama e o Departamento de Estado dos EUA tiveram papel importante no processo que levou as coisas ao ponto em que estão. O governo dos EUA não tomou nenhuma medida concreta contra as milhares de violações da lei e da Constituição, todas fartamente documentadas, que ocorreram desde 28/6, data do golpe. Não surpreende que, sem ser contida por qualquer tipo de lei, a violência tenha avançado sem limite e sem controle, aos olhos do mundo.

Em recente entrevista, Francisco Rios, da Frente Nacional Contra o Golpe repetiu comunicados divulgados pela Frente, nos quais dizia que a Resistência, por mais que no momento enfrente dificuldades duríssimas, prepara massivo esforço de organização para esse novo ano. Rios informou que os militantes pararam de reunir-se publicamente, por medida necessária de segurança, mas que se dividirão em células domésticas, casa a casa, por todo o país, com planos para reemergir como força política nacional, mais forte e mais bem organizada. Walter, Santos, Carlos e todos os combatentes da Resistência em Honduras, que deram a vida por um sonho de democracia, inspiram, hoje ainda mais que antes, os companheiros. A luta continua. Honduras vive!




Publicado no site da Revista Fórum

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

MAIS UM AUMENTO EU NÃO AGÜENTO!

É difícil para uma pessoa que depende do transporte público em São Paulo não se indignar com as condições e o valor cobrado por este serviço na cidade. Não bastasse o caos e a superlotação que enfrentamos diariamente, a construção do Terminal Campo Limpo que atrapalhou a vida de muitas pessoas no Jardim Ângela, assistimos a um aumento da passagem (que já era cara) chegar aos 17%, mesmo a inflação do ano tendo sido de apenas 6%!

O transporte público deveria estar a serviço da população (pagamos impostos para isso) e não de uns poucos empresários que lucram às custas do tão suado dinheiro do povo. Mas a situação é absurda.

Você sabia que se nos últimos 15 anos os reajustes nas tarifas fossem sempre iguais à inflação, a passagem hoje estaria muito abaixo dos 2 reais?


“Boi, boi, boi... boi da cara preta, se não baixar a passagem a gente pula a roleta!”


E os estudantes?

Em muitas cidades, estudantes até o ensino médio têm passe-livre no transporte público. Isso porque é dever constitucional do Estado garantir ensino público e realmente gratuito, mas em São Paulo isso infelizmente não acontece. Só os jovens mobilizados poderão garantir os seus direitos.

Redução da tarifa já! Mais um aumento eu não agüento!

Conheça a Juventude LibRe!

Nossa próxima atividade será o encontro de nosso Grupo de Discussão sobre Educação, no qual discutiremos questões sobre as escolas públicas e o papel dos estudantes na luta pela educação libertadora.

Dia 20/01 (quarta) às 18 horas
no Centro Cultural Vergueiro
(próximo à Estação Vergueiro de metrô)


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

ATO DE RUA CONTRA O AUMENTO DA TARIFA!

Kassab anunciou que vai aumentar a tarifa do ônibus para R$ 2,70 no dia 4 de janeiro de 2010.


A integração com o Metrô passará de R$ 3,65 para R$ 4,00. O prefeito ainda tem a cara de pau de pedir nossa compreensão, aproveitando-se das férias escolares e do recesso de fim de ano para evitar mobilizações contrárias a esse abuso!

Todo ano os empresários do transporte pressionam a prefeitura para aumentar as passagens, para que possam continuar a lucrar. Cada um desses aumentos faz com que milhares de pessoas deixem de usar os ônibus por não terem dinheiro para pagar a tarifa. O aumento atual, de 17,4%, está acima da inflação do período. O acréscimo de R$ 0,40 em cada tarifa vai fazer com que gastemos R$ 118,00 com ônibus todo mês, ou 23% do salário mínimo – isso apenas para ir e voltar do trabalho. São Paulo terá a 2a tarifa de ônibus mais cara do Brasil! E o Governo do Estado já anunciou que Metrô, CPTM e EMTU também serão reajustados em breve.

Se o transporte é um direito do cidadão, não pode ser pensado enquanto lucro das empresas, mas sim como uma necessidade básica da população. Se ir e vir é um direito, o ônibus não deveria sequer ter tarifa. Imagine se os hospitais e as escolas públicas tivessem catracas na porta?

O poder público investe na construção de pontes, túneis e na ampliação da Marginal, o que só beneficia os carros particulares. Um grande volume de dinheiro tem sido aplicado em transporte coletivo visando a Copa do Mundo de 2014, mas esses investimentos não necessariamente correspondem às necessidades reais da população. Exemplo disso é a construção da Linha 4-Amarela do Metrô, que passará por bairros ricos como o Morumbi enquanto a periferia continua sem esse tipo de transporte, e o Terminal Campo Limpo – que prejudicou a locomoção dos moradores da região. Até quando as políticas públicas de transporte serão definidas sem que a população seja consultada?

Prefeitura e empresários tentam nos convencer de que o aumento é inevitável porque sabem que nós podemos barrá-lo. Aconteceu em Florianópolis e em Vitória em 2005, quando a população dessas cidades barrou aumentos de tarifa indo para as ruas se manifestar. Em 2006, em São Paulo, milhares de pessoas saíram às ruas contra o aumento. É isto que as autoridades querem evitar, mas não vão! O conjunto da população de São Paulo pode e vai barrar este aumento!


ATO PÚBLICO CONTRA O AUMENTO

Quinta-feira, 7 de janeiro Concentração às 16h no Teatro Municipal (próximo ao metrô Anhangabaú)





REUNIÃO DA REDE CONTRA O AUMENTO DA TARIFA

Domingo, 10 de janeiro, às 15h, no espaço Ay Carmela!

(Rua das Carmelitas, 140 – próximo ao metrô Sé)




+ infos: http://barraroaumento.wordpress.com/ contato: contraoaumento@yahoo.com.br